UMBERTO CALDERAR FILHO – UM JORNALISTA REVOLUCIONÁRIO – PARTE (FINAL)

Gaitano Antonaccio*

Mas não foram dias fáceis, os primeiros, logo após a fundação de A Crítica. Ulisses Azevedo, um dos primeiros funcionários de Calderaro, logo após a fundação do jornal, faz um relato emocionante sobre todas as dificuldades encontradas e vencidas e conta, em determinado trecho (Cadernos, 50 anos):

No Rio de Janeiro, Umberto conseguira algumas caixas de tipos. Uma velha impressora, de 2 cilindros, alugada. Algumas resmas de papel. 50 mil réis era todo o seu capital. Acrescenta ainda o apaixonado jornalista Ulisses, que:

O prelo impressor movimentado à mão era o que havia de mais antiquado e de produção mais ronceira na arte de fazer jornal. O trabalho era feito pela família Calderaro e por mais alguns amigos. De acordo com a vice-presidente do jornal, Tereza Cristina Calderaro Corrêa (1997), O papai praticamente fazia o jornal. A minha mãe como era professora de desenho, fazia toda a parte de design do jornal: os títulos eram feitos à mão com nanquim e caneta de bico de pena. Ela fazia todas as divisórias, tarjas do jornal e estrelinhas à mão para dividir as notícias e para fazer os boxes. Era tudo feito à mão, a nanquim.

Umberto Calderaro Filho era um jornalista combativo, não poupava críticas a autoridades, governos, parlamentares, atuava com um desassombro sujeito a represálias, e muito diferente do estilo por vezes bajulador do grande jornalista Assis Chateaubriand, ele costuma ser avesso a bajulações e partia diretamente para o ataque. Percebia que em assim agindo aumentava o número de leitores a cada dia e não mudou jamais esse estilo. Por causa dessa maneira de dirigir o seu combativo matutino, no dia 20 de janeiro de 1959, a redação do jornal A Crítica foi vítima de um atentado a bomba e que tinha como objetivo assassinar o fundador do jornal, que, percebendo o perigo iminente, logo após o atentado, em que uma bomba explodiu na sua mesa de trabalho, viajou com a família para Belém, no Estado do Pará, tendo que no percurso, enfrentar guardas armados no aeroporto de Ponta Pelada, em Manaus, onde uma força armada portava metralhadoras com disposição para usá-las contra o mesmo.

Depois de estabelecidos em Belém, Calderaro e família receberam o apoio da imprensa paraense, de São Paulo, Rio de Janeiro e de outras unidades da Federação. Dr. Juscelino Kubitschek, que estava na presidência da República, tomando conhecimento do atentado e da postura de Calderaro, na imprensa amazonense, convidou o mesmo, a fim de que dirigisse um jornal, em Brasília, que se preparava para ser a futura capital do país. O jornalista não aceitou, agradecendo e afirmando que seu compromisso era com o Estado do Amazonas. E pouco tempo depois, embora continuasse a receber ameaças, retornou para Manaus e continuou sua missão de jornalista revolucionário.

Pertencente à Rede Calderaro de Comunicação é o único veículo de comunicação amazonense a constar entre os 100 mais premiados do Brasil, de acordo com uma lista compilada por vários Jornalistas. E continua a ser líder em circulação no estado do Amazonas, divulgando as principais notícias sobre o Brasil e exterior para quase todos os municípios do Estado do Amazonas e estados vizinhos. Sem a menor dúvida a Rede Calderaro de Comunicações sob o comando de Ritta e Cristina, e agora com os filhos e outros descendentes, continua com a sua história bonita, a honrar o nome do seu criador, que certamente está testemunhando o sucesso de sua criação. O Amazonas por maiores homenagens que dedique a Umberto Calderaro Filho, jamais resgatará essa dívida contraída a favor de um Revolucionário do jornalismo amazonense.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de Ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras