O Empresário José Cruz e seus amores: esposa Alice, fábrica magistral e beneficente Portuguesa

Gaitano Antonaccio

A história do Grupo Empresarial J. Cruz & Cia. Ltda., começou com o patriarca da família, o português José Cruz, nascido a 28 de junho de 1911, em Nagosa, Moimenta da Beira, Portugal, que viajou muito jovem para o Brasil, fixando-se no Amazonas iniciando atividades empresariais no ramo de panificação. Começou seus estudos em Portugal, em Moimenta da Beira, e prosseguiu os mesmos em Manaus. Quando decidiu empreender na Amazônia, fundou em 1943, a firma J. Cruz & Cia. Ltda. Em seguida, com o sucesso dos negócios, mandou erguer um prédio na rua Recife, em Manaus, Amazonas, onde instalou a sede.

Retornando a Portugal em 1951, casou-se com a Sra. Alice Olímpia de Carvalho Cruz, constituindo uma solidada família. Em 1966, por seus méritos foi condecorado em Lisboa, com o grau de Comendador da Ordem de Benemerência, conferido por sua Excelência, o Presidente da República Portuguesa, Almirante Américo Deus Thomaz, Grão-Mestre das Ordens Portuguesas.

Vale salientar que José Cruz desenvolveu suas indústrias na Amazônia, numa época em que o incentivo era a competência, a dedicação, a intuição indispensável, a coragem e muito trabalho. Quando começaram a surgir os primeiros incentivos fiscais, com a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), para conquistar tais benefícios, ele ampliou suas empresas, fundando a J. Cruz Indústria e Comércio Ltda. As instalações ficaram tão amplas, que a Fábrica Magistral, na época, era considerada uma das mais modernas da Região Norte. Todo o processo fabril era automatizado, as embalagens para o acondicionamento das garrafas passaram a ser de material plástico, sendo mais leves, mais higiênicas e mais duráveis.

A Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Amazonas teve sob o seu comando, dentre outros baluartes, o símbolo maior de sua administração. O amor, a honradez, a dedicação de José Cruz impôs ao seu trabalho incansável, a marca de sua personalidade e consolidaram o seu carisma. Depois de sua passagem naquele secular hospital, não se pode mais falar no mesmo, sem invocar a figura, sempre presente, do saudoso comendador. A sua gestão teve início em 1962, quando assumiu a presidência, tornando-se o diretor que mais tempo dirigiu o Hospital, permanecendo por mais de 3 décadas, até sua morte ocorrida no dia 28 de abril de 1992.

Graças a sua competência, em 1963 foi construído um moderno centro cirúrgico, houve a aquisição de um elevador, e modernos equipamentos e com ajuda do Ministério da Saúde, por meio de uma subvenção foi inaugurada a primeira parte da maternidade, com capacidade para 14 leitos. E ainda lhe sobrava tempo para participar com frequência cem por cento, das reuniões da Associação Comercial do Amazonas.

Entre diversas conquistas, José Cruz recebeu em 1979, o título de Cidadão do Amazonas, pela Assembleia Legislativa; em 1980, o Ministério das Minas e Energia, por meio do Departamento de Produção Mineral (DNPM) deu à Fábrica Magistral, a concessão para funcionar como Empresa de Mineração, começando a partir de 1981 a fabricar e envasar a água mineral Yara, utilizando embalagens retornáveis, de garrafões de 20 litros e garrafas de vidro de 500 ml.

Habilidoso no trato de suas finanças, austero, homem de costumes simples, José Cruz sabia economizar para aplicar e reinvestir, e com essa forma de agir, conseguiu erguer todos os seus empreendimentos sem financiamentos bancários, dispondo sempre de capital próprio. Ainda no ano de 1980, o governador do Estado, Dr. Paulo Pinto Nery, por meio do Decreto nº. 6603 concedeu ao notável empreendedor, o grau de Comendador da Ordem do Mérito do Estado do Amazonas.

Em 1985 recebeu da Associação Comercial do Amazonas – ACA, o título de sócio benemérito, pelos serviços prestados à entidade; o mesmo título que lhe concedeu a Real e Benemérita Sociedade Portuguesa, foi agraciado também com títulos honorários, pelo Atlético Rio Negro Clube; Nacional Futebol Clube, Bosque Clube e Olímpico Clube.

Na Maçonaria, onde também se destacou no cargo de venerável mestre da Augusta e Benemérita Loja Simbólica Aurora Lusitana; foi representante junto à Assembleia Geral do Grande Oriente do Amazonas e Acre; Presidente do Rotary Club de Manaus; Idem de Conselheiro da Comunidade Luso-Brasileira; Vice-Presidente da Associação Comercial do Amazonas, entre outros.

Após sua morte, no dia 22 de junho de1992, nas comemorações dos 121 anos da Associação Comercial do Amazonas, a entidade entregou aos seus familiares, a sala Comendador José Cruz; em 21 de abril de 1993, foi inaugurado o seu busto em bronze, nos jardins da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa; em 18 de junho de 1994 recebeu da Associação Comercial do Amazonas, a medalha do Mérito Empresarial J. G. Araújo; em 31 de outubro de 1997, a Beneficente Portuguesa inaugurou o Acervo Comendador José Cruz, mesma data em que foi inaugurado o Museu Fernando Ferreira da Cruz; em 2002 recebeu o grau de Comendador, da Ordem do Mérito Luso-brasileiro Comendador Emídio Vaz d`Oliveira. Deixou em vida, exemplos de hombridade e generosidade, como grande legado para a esposa e filhos, a consciência cristã do verdadeiro significado da palavra família. Possuía seis netos: José Cruz Neto, Nicole, André, Rachel Natália e Manuel José. Deixou também uma bisneta: Sophia.

Tornou-se um agradável hábito para mim, depois das reuniões da ACA dar uma carona para o empresário e amigo, e, quando chegava na sua residência, na rua Lauro Cavalcante, esquina com a Joaquim Nabuco, ficarmos alguns instantes batendo um papo sobre o mundo empresarial, posto que muitas vezes, o senhor José Cruz contou com meus serviços de tributarista para alguma orientação.

A empresa por ele criada, J. Cruz Ind. e Com. Ltda. continua no mercado, administrada por seus filhos e sucessores, sendo Luiz Carvalho Cruz escolhido o líder para assumir o cargo de Diretor Superintendente da Empresa e, Vitor Cruz, como Diretor Financeiro, ambos possuindo o curso superior de Administração de Empresas. O empresário Luiz Carvalho Cruz é um cavalheiro de fino trato, que honra a fidalguia lusitana pelo seu tratamento amigável.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de Ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras.