O bairro dos bilhares e a vida boêmia de Manaus

Gaitano Antonaccio*

Desde os tempos em que a borracha da Amazônia despertou para o mundo uma nova fotografia da capital de Manaus, que passou a ser conhecida como Paris da Selva, o mundo voltou suas atenções para essa nova maravilha, que conseguia enriquecer em tempo recorde, os seringalistas que se lançaram a exportar o novo produto que fascinava os fabricantes de automóveis e pneumáticos dos Estados Unidos e de toda a Europa e da Ásia. Foram muitos os imigrantes que rumaram para a Amazônia, para conhecer o novo El Dorado.

O Bairro dos Bilhares, antes denominado de Flores, e hoje conhecido como Bairro de São Geraldo, no seu contexto histórico faz parte desse requinte econômico, pois está localizado no contorno da avenida Djalma Batista, próximo ao bairro da Preguiça, hoje denominado de Beco do Macedo. Ele alcança a periferia da av. Constantino Nery, antiga João Coelho, e segue até às proximidades do Bairro da Chapada. No cenário desse bairro, havia uma ponte sobre uma cachoeira, que foi inaugurada no dia 18 de julho de 1895, conhecida como Ponte Eduardo Ribeiro chamada pelo povo como Ponte da Cachoeira Grande. Essa ponte ligava o centro urbano de Manaus, até os bilhares, onde havia um restaurante com um prostíbulo anexo, conhecido como Boate da Verônica, onde os boêmios de Manaus, costumavam frequentar discretamente. Depois que o governador Eduardo Ribeiro recebeu dos manauaras a alcunha de O Pensador, a ponte passou a ter esse nome.

Conforme informações do ilustre e saudoso historiador e professor Mário Ypiranga Monteiro, o ato autorizando a construção da ponte foi publicado no jornal O Amazonas, do dia 8 de julho de 1893, assinado pelo governador Eduardo Gonçalves Ribeiro. A sua inauguração ocorreu no dia 18 de julho de 1895, recebendo oficialmente o nome de Ponte Campos Sales.

A criação do bairro dos bilhares teve início em 1893, quando havia uma empresa denominada Villa Brandão, que transportava por meio dos bondes existentes em Manaus, os passageiros desde o Mercado Adolfo Lisboa, até a Cachoeira Grande, que abastecia o consumo de água da cidade de Manas, por meio de um reservatório construído em 1893 e localizado no perímetro onde começa hoje o bairro de São Jorge. No restaurante localizado no final da ponte Campos Sales existia um jogo de bilhar, e os frequentadores viajavam de bonde, onde compareciam para tomar seus drinques, razão porque o bairro passou a se chamar de Bairro dos Bilhares. A linha do bonde terminava exatamente onde estava a cachoeira.

A ponte sobre a Cachoeira Grande, de acordo com o projeto deveria ser toda revestida de paralelepípedos importados da Inglaterra, mas ao chegarem em Manaus, os mesmos foram desviados e usados em outras vias do Centro de Manaus. Os paralelepípedos eram de madeira e viajaram pelo navio de nome Fluminense. Informa ainda o professor Mário Ypiranga, que no dia da inauguração da ponte, estavam presentes o governador Eduardo Ribeiro, o major Pedro Freire, Secretário de Obras, o engenheiro responsável, Dr. Frank Hirst Hebbletwaite, o coronal Raimundo Vieira Nina, diretor do Instituto de Artes e Ofícios, professores de diversos colégios, o povo, tendo o ato recebido a assinatura de centenas de pessoas.

Mas, a partir de 1940, o bairro dos bilhares passou a ser chamado de Bairro de São Geraldo, por causa dos padres redentoristas, presentes no mesmo, os quais construíram uma Igreja na periferia, com o nome do Santo. São Geraldo é o padroeiro das gestantes, das maternidades, das confissões e dos que não recebem o benefício da justiça. A data consagrada ao Santo é o dia 16 de outubro.
O bairro de São Geraldo, portanto, faz parte da história de Manaus, não apenas por relembrar as boas épocas da boemia dos amazonenses que frequentavam além do bar para jogar bilharito, muitos costumavam marcar encontros no lupanar que ficava ao lado, e competia em luxo e requinte com o famoso Cabaré Chinelo, no Centro de Manaus. Era conhecido como Cabaré da Verônica, dotado nas cercanias de um paradisíaco balneário, servido pelas águas cristalinas que corriam da Cachoeira Grande.

O Bar da Verônica ficava localizado, na avenida Constantino Nery bem próximo do local onde hoje está erguido o Shopping Milênium. Em frente à Igreja de São Geraldo existia uma Usina de Beneficiamento de Castanha, da família Benzecry, onde hoje está localizado o Colégio Preciosíssimo Sangue, administrado pelas freiras da Congregação das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo.

Quando esteve como prefeito de Manaus, em 2007, o economista Serafim Fernandes Correa, mandou construir no contorno do bairro de São Geraldo, o aprazível Parque dos Bilhares, um logradouro que atravessa as avenidas Constantino Nery e Djalma Batista, resgatando em parte, um pouco da história do bairro.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras. ”