MANOEL BASTOS LIRA – O FARMACÊUTICO E O CIENTISTA (1ª. PARTE).

Gaitano Antonaccio*

O professor, bioquímico, cientista, laboratorista e intelectual Dr. Manoel Bastos Lira nasceu em Manaus, Amazonas, a 6 de junho de 1913, tendo falecido na mesma cidade no dia 1º de setembro de 1998. Era filho de Manoel Rodrigues Lira e da senhora Deolinda Bastos Lira.

Começou a estudar nos colégios de Manaus depois dos 8 anos de idade, mas já sabia ler e escrever, porque recebera do próprio pai as primeiras lições, o qual lhe ensinou inclusive a falar o idioma espanhol. Ao iniciar os estudos oficiais no ano de 1921, ele já tinha noção para construir as primeiras frases e sabia fazer as quatro operações de Matemática. Esse futuro farmacêutico e cientista amazonense logo se distinguiu dos demais colegas, como aluno de acentuados conhecimentos para a sua idade. Concluiu o curso secundário em 1930, classificando-se como o primeiro aluno da turma recebenndo um prêmio, que naquela época era ofertado para o melhor aluno das turmas do Colégio Dom Bosco.

Vocacionado a seguir os rumos da Ciência Farmacêutica, matriculou-se para o vestibular do curso de Farmácia e Odontologia em 1931, tendo sido aprovado e concluído o curso, mantendo a mesma competência com a qual se houve no curso secundário, obtendo mais uma vez o primeiro lugar da turma de formandos de 1934. Em seguida diplomou-se, em Química Industrial, pela Escola Agronômica de Manaus, realizando, pois, o primeiro curso de aperfeiçoamento na profissão de farmacêutico. Iniciou as atividades profissionais, ao ser convidado para auxiliar do laboratório do médico inglês Dr. Harold Worlerstan Thomas, entretanto, antes de formado, graças aos seus méritos, começou a lecionar História Natural no Colégio Dom Bosco em 1932. Apaixonado por Farmacologia era um estudioso inquieto, e sem descurar do aperfeiçoamento profissional para ampliar conhecimentos, estudou Engenharia Agronômica, diplomando-se, novamente, pela Escola Agronômica de Manaus, instituição onde alguns anos depois, passou a lecionar. Mas, sempre inquieto, criativo e inovador, comprovando possuir também um espírito empreendedor, ele criou no Amazonas o primeiro Receptor-Valvulado, em 1947.

Em 1934 defendendo as teses: Algumas Notas Sobre Valência Química e O Oxidulo de Prata e a Fotografia conseguiu aprovação e começou a lecionar tanto no Colégio Estadual, quanto no Instituto de Educação do Amazonas, nomeado por ato assinado pelo Interventor Federal no Amazonas, capitão Nelson de Mello.

Em virtude de sua atuação destacada nos meios científicos amazonenses na década de 1940, foi nomeado para o cargo de Farmacêutico Chefe da Farmácia do Hospital da Santa Casa de Manaus, tornando-se o primeiro químico-bromatologista do Amazonas e o responsável pela instalação dos laboratórios do Departamento de Saúde. No magistério, como professor de Farmácia, tornou-se conhecido pelo equilíbrio e tranqüilidade transmitida aos seus alunos, que o ouviam com atenção e carinho buscando um aproveitamento primoroso com as suas lições. Dr. Harold Worlerstan Thomas, quando instalou em Manaus, na década de 1930, um Laboratório de Análises Clínicas convidou Bastos Lira para auxiliar. Ele foi um emérito médico inglês muito estimado e conhecido em Manaus.

Quando o presidente Getúlio Vargas fundou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) no ato de instalação, Manoel Bastos Lira foi o único cientista amazonense convidado pelo professor Olímpio de Oliveira Fonseca Filho, para fazer parte da equipe responsável pela fundação do referido Instituto. Em verdade, o Estado do Amazonas sempre contou com a decisiva e competente participação de Bastos Lira na defesa dos interesses da região, na área da saúde, o que se repetiu muitas vezes, e, principalmente, quando em 1965, a convite do reitor da Universidade Federal do Estado do Amazonas professor Jauary Guimarães de Souza Marinho, ele fundou uma Área de Saúde naquela entidade.

Após a criação dessa unidade ele foi nomeado pelos seus méritos, para dirigir a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Amazonas, cargo onde permaneceu durante 25 anos com inusitada competência. Vale dizer que, embora instalada em 1965, a Universidade Federal do Amazonas fora criada desde 1962, por meio da Lei nº 4.069-A, de 12 de junho. Essa Lei estava sendo aguardada desde o ano de 1926, quando a antiga Universidade Livre de Manaus havia sido praticamente extinta, pois apenas a Faculdade de Direito permaneceu em atividade no Amazonas. A publicação da Lei n° 4.069-A/62 foi o resultado positivo da persistência de um grupo de abnegados professores amazonenses, em que estavam entre as lideranças, figuras como Dr. Aderson Pereira Dutra, Jauary Marinho, Manoel Bastos Lira, Samuel Isaac Benchimol, Saul Benchimol, Afonso Celso Maranhão Nina e outros.

Falando fluentemente, espanhol, inglês, francês e italiano, Dr. Manoel Bastos Lira destacou-se no Amazonas, no Brasil e no campo Internacional, realizando várias viagens de estudos, muitas a convite, visitando países da Europa, Estados Unidos, México, Canadá, alguns da América-Latina e diversos estados brasileiros, sendo autor de inúmeros trabalhos científicos publicados em jornais, revistas e informativos de academias. Em meio a tanta atividade profissional o professor tinha uma paixão na sua vida, que embora não ameaçasse o seu casamento, chegou a enciumar a sua querida esposa Áurea Vasconcellos Lira. Essa paixão era o Atlético Rio Negro Clube localizado na periferia da praça da Saudade ou praça 5 de Setembro, como passou a ser denominada, local que o grande bioquímico amazonense costumava frequentar, permanecendo às vezes o dia inteiro, tratando de assuntos diretivos e de esportes do clube de seu coração. (Aguarde a segunda parte deste artigo).

**Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras.