Integrante da Comissão de Artes do Garantido mostra porque criticar as falas regionais de Isabelle é puro preconceito

Professora de Linguística Hellen Picanço diz que não existem formas “certa” ou “errada” de falar

A professora doutora Hellen Cristina Picanço Simas, linguista e docente da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Parintins, divulgou, na última terça-feira (16), um artigo no qual define como preconceituosa a forma com que algumas pessoas comentaram as expressões faladas pela cunhã-poranga do Garantido, Isabelle Nogueira, no programa Big Brother Brasil, da Rede Globo de Televisão. A professora é integrante da Comissão de Artes do Boi Garantido, formada pela atual gestão do boi, sob comando de Fred Góes e Marialvo Brandão.

Segundo a professora que, entre outros títulos, tem Pós-doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal Fluminense (2018), Pós-doutorado em Letras pela Universidade do Norte de Tocantins (2022) e é líder do Núcleo de Estudos de Linguagens da Amazônia (Nel-Amazônia/CNPq), a fala do amazonense é vista por alguns brasileiros com preconceito devido a estereótipos e juízos de valor negativos associados a essa variante linguística. O preconceito linguístico ocorre quando as pessoas fazem uma classificação convencional do que é certo e errado na língua, associando a situação social do falante à variante que ele utiliza. No caso da fala amazonense, há um estereótipo de que as pessoas do Norte são selvagens, vivem no mato e não têm acesso às tecnologias, o que leva a uma associação negativa com a variante linguística .

Hellen Picanço explica também que não existe forma certa ou forma correta de se falar, mas sim formas diferentes e variadas, ressaltando ainda a influência das línguas indígenas na formação do nosso idioma. “A variação linguística regional falada pelo povo do Norte, especificamente no Amazonas foi construída a partir do contato linguístico com a línguas indígenas da região. Tanto a língua portuguesa sofreu e sofre influência das línguas indígenas quanto as línguas indígenas receberam e ainda recebem a interferência do português”, afirma.

O artigo afirma, também que esses preconceitos são injustos, pois todas as variantes linguísticas faladas no Brasil permitem a comunicação e são igualmente válidas. O preconceito linguístico se manifesta quando as pessoas associam a forma de falar de alguém a características negativas, como inteligência ou status social, o que é um equívoco .
A articulista diz, ainda, que é importante combater esses preconceitos e valorizar a diversidade linguística do nosso país, reconhecendo que todas as variantes linguísticas têm valor e merecem respeito. “Devemos nos orgulhar da forma como falamos o português, porque as expressões como olha já, purrudo, pávulo dentre outras são únicas e traduzem o jeito amazonense de se relacionar com as pessoas e com tudo que lhe cerca. Não se pode traduzir com a mesma exatidão os sentimentos nestas palavras registrados para outras expressões de outro dialeto. Elas são únicas e fazem parte da identidade do povo do Amazonas”, afirma a professora Hellen.

Fonte: Assessoria de Comunicação do MAG e Boi Bumbá Garantido

Fotos: Arquivo pessoal