Euripedis Ferreira Lins e sua importância para a agricultura Amazonense

Gaitano Antonaccio

Eu poderia começar este artigo, afirmando que a Selva Amazônica perdeu o seu mavioso acorde, quando o orador, intelectual e homem interiorano ligado à agricultura amazonense, Eurípedes Ferreira Lins morreu, no dia 15 de março de 2010. Sim, perdemos nosso PATATIVA.

Ele foi um guerreiro que não usa armamentos bélicos para fazer a defesa do Amazonas, principalmente do homem do interior do Estado, de onde também teve a sua orgulhosa procedência. Esse abnegado e apaixonado pelo caboclo amazonense usava apenas a sua caneta no silêncio de seu gabinete estratégico, ou a sua estrondosa voz de barítono, para alardear a coragem dos nossos sofridos irmãos do campo, que continuam vivendo e vencendo, mesmo sem a assistência justa e merecida a que deveriam ter direito, como legítimos cidadãos brasileiros.

Nascido na cidade de Fonte Boa, município do Amazonas a 3 de fevereiro de 1926, Eurípedes Ferreira Lins era filho de Belarmino Ferreira Lins e de dona Zulmira Lima Lins, de uma família tradicional no Estado do Amazonas, onde seus membros se destacam em diversas áreas.

Formado em Pedagogia pelo Instituto de Educação do Amazonas, o professor Eurípedes diplomou algumas gerações de alunos, que ainda hoje, respeitam a sua dedicação e competência, nas aulas que sempre soube ministrar com a maior competência, sobre a História do Brasil e outras matérias às quais se dedicou. Não conformado com o título honroso de professor, formou-se em seguida bacharel em Ciências Jurídicas, embora não tenha se dedicado à Ciência que consagrou Clóvis Beviláqua. Sua atuação em função do curso de Direito, permitiu-lhe a nomeação no cargo de Procurador do Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas – Deram e com sua dedicação e competência, serviu ao governador Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo, atuando nas funções de Secretário de Estado da Agricultura, com notável êxito.

Depois da trajetória no magistério e na política, passou a servir ao Estado do Amazonas, de forma mais aguerrida, quando se tornou presidente da Federação da Agricultura do Estado do Amazonas, cargo que comandou em sucessivos mandatos, fruto de sua habilidade, austeridade e competência invejáveis. Durante vários anos foi também Presidente do Conselho de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural-AM, e representante da Federação da Agricultura do Amazonas; no Conselho de Fiscais da Secretaria de Fazenda do Amazonas e do Conselho de Política Fiscal.

Realizou um trabalho hercúleo na defesa dos interesses do Amazonas em coluna do jornal Amazonas em Tempo, onde escrevia infalivelmente aos sábados. Para registrar sua brilhante participação na literatura amazonense, escreveu o livro O Amazonas e Seus Problemas, que chegou a quatro edições, amplamente divulgado na crítica especializada. Era membro da Associação dos Escritores do Amazonas e fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR. Destacado membro do Rotary Clube Manaus, foi seu presidente por três mandatos, sempre com desenvoltura, realizando um belo trabalho comunitário. Muitas foram as homenagens recebidas por este baluarte do Amazonas, sendo uma das mais importantes, a que lhe outorgou, recentemente, o Exército Brasileiro, pelo seu incansável trabalho. Aliás, ele era considerado um soldado vigilante do Comando Militar da Amazônia, onde fez amizade e aproximação com todos os comandantes dos últimos 20 anos.

No dia de sua morte, Eurípedes estava mais uma vez presidente da Federação da Agricultura do Estado do Amazonas. Graças ao seu espírito conciliador, cercado de uma humildade assombrosa, malgrado tanto valor cultural, era um emérito conciliador, avesso ás discussões ou discórdias e sempre pugnou pela união das classes empresariais amazonenses, em defesa do interesse comum, chegando a fundar uma entidade sem estatuto e extar-lei, à qual denominou de SANTA ALIANÇA, porque congregava a Federação da Agricultura, das Indústrias do Amazonas, do Comércio Bens e Serviços e Associação Comercial do Amazonas.

Quando foi anunciada a benfazeja SANTA ALIANÇA, o autor deste artigo estava na presidência da mais antiga entidade classista do Amazonas, a Associação Comercial do Amazonas e louvei a iniciativa, posto que além de seu amigo de incursões literárias e intelectuais, participávamos como sócios do Rotary Club Internacional e Eurípedes jamais esquecia de me convocar para as suas iniciativas na FAEA. Era amigo de todas as horas e sempre colaborou com minhas iniciativas.

O Amazonas sente ainda hoje a sua ausência nas trincheiras defensivas de nossa Agricultura, certamente nossas aves, nossa flora, nossa biodiversidade, hortaliças e produtos regionais, sentem o silêncio de sua voz maviosa discursando em suas defensivas, sempre em busca do desenvolvimento sustentável, no crescimento de nossa Economia interiorana. Que na sua nova morada, esse guerreiro esteja habitando uma Selva Celestial, num céu azul transparente, como foi sempre a sua vida, gritando costumeiramente: SELVAAAA.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras. ”