Brasil não veio ao G-20 para ser advertido, diz Bolsonaro sobre crítica de Merkel

OSAKA, JAPÃO – O presidente Jair Bolsonaro reagiu duramente a declarações da chanceler da Alemanha, Angela Merkel , sobre desmatamento na Amazônia e críticas a ele, ao desembarcar em Osaka, Japão, para participar da cúpula do G-20.  Bolsonaro exigiu respeito ao Brasil e disse  que não veio à reunião para ser advertido por outros países.

Depois de 25 horas de viagem, Bolsonaro chegou no hotel mostrando irritação com indagações dos jornalistas e interrompeu a entrevista após alguns minutos.

O presidente foi incisivo quando questionado sobre as afirmações da chanceler Angela Merkel, de que iria procurá-lo no G-20 para uma “discussão clara”. Merkel afirmou no Parlamento alemão, ontem, que “’assim como vocês, vejo com grande preocupação as ações do presidente brasileiro [em relação ao desmatamento] e, se a questão se apresentar, aproveitarei a oportunidade no G-20 para ter uma discussão clara com ele”.

Bolsonaro reagiu sem rodeios. Ele disse que viu a declaração “’sem problema nenhum”’, mas acrescentou: “’Nós temos exemplos para dar para a Alemanha sobre meio ambiente”. “A indústria deles continua sendo fóssil, utilizando carvão e a nossa não. Então eles têm muito o que aprender conosco.”

Em seguida, Bolsonaro elevou o tom: “O presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores, que vieram aqui para serem advertidos por outros países”. “A situação aqui é de respeito para com o Brasil. Não aceitaremos tratamento como no passado, de alguns casos de chefes de Estado que estiveram aqui”, acrescentou.

Ele não deu exemplo de presidente que teria sido advertido por outros chefes de Estado. Indagado se achava a declaração de Merkel desrespeitosa, o presidente respondeu: “Vi o que está escrito”’. Mas logo criticou a imprensa, dizendo lamentar que grande parte do que é escrito “não é aquilo, e tem que e fazer a devida filtragem”.

Pouco depois afirmou que “’se nos questionarem [por] alguma coisa [no G-20], estamos prontos para responder”.

Reunião com Trump

Bolsonaro parecia irritado desde que entrou no hotel, onde jornalistas brasileiros o aguardavam. Questionado sobre a mensagem que trazia ao G-20, disse que estava com agenda pronta, para em seguida dizer que estava concluindo os preparativos, e que vai ouvir e falar.

Quando um jornalista perguntou o que o presidente  falaria, Bolsonaro mostrou-se impaciente. “’O que você quer eu fale? Vou falar dos temas indústria, G-4, economia digital, internet, meio ambiente, tudo que estiver na pauta.”

Ele não quis comentar sobre a reunião que terá com o presidente dos EUA, Donald Trump. “É reunião reservada”’. Qual o assunto, indagou um jornalista. “’Se é reservada, é reservada”, respondeu.

Perguntado se o Brasil tinha lado na guerra comercial entre EUA e China, Bolsonaro retrucou com um “não”, e acrescentou que ao Brasil interessa a paz. “Não queremos que haja briga para a gente poder se aproveitar. Estamos buscando paz e harmonia, como estamos trabalhando aqui a questão do [acordo] Mercosul e União Europeia”. Quando outro jornalista quis voltar ao tema da bilateral com Trump, Bolsonaro se virou e partiu.

Fonte: O Globo