Após rebelião em quartel, Guaidó pede que militares não reprimam protesto contra Maduro

CARACAS — O presidente da Assembleia Nacional (AN) da Venezuela, Juan Guaidó, lançou uma nova investida para angariar o apoio de militares, hoje a principal base de apoio do presidente Nicolás Maduro. Juan Guaidó disseminou pelo WhatsApp um vídeo em que apela a integrantes da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) a defender “a Constituição e sua família” e não dispararem contra os manifestantes que a oposição convocou para ir às ruas na quarta-feira desta semana.

O líder opositor, que recebeu apoio de boa parte da comunidade internacional para encabeçar um futuro governo de transição no país, convidou os militares e funcionários de todos os órgãos de segurança a se unirem aos grandes protestos convocados para amanhã em vez de reprimir os manifestantes.

— Não estamos pedindo que (vocês) deem um golpe de Estado. Não estamos pedindo que disparem. Pelo contrário: pedimos que não disparem — ressaltou o parlamentar. — (Pedimos) Que defendam junto a nós os direitos que tem nosso povo de ser escutado, de ser feliz e livre. Vocês nos viram nas ruas (…) milhões que, apesar dos anos de (bombas) de lacrimogêneo, voltamos a sair (às ruas), afirmou, referindo-se às reuniões em locais públicos que os opositores vêm organizando desde a semana passada.

Em post no Twitter, outro deputado opositor e coronel  reformado, Teodoro Campo, reforçou: “Não estamos pedindo que se rebelem, estamos pedindo que se apeguem aos artigos 328 e 329 da Constituição que estabelecem que o militar tem que ser apolítico”.

Nesta terça-feira, um grupo de oficiais da Guarda Nacional Boliviariana roubou armas, veículos militares e se entrincheirou no quartel de Cotiza, em Caracas. Em vídeo divulgado nas redes sociais, um porta-voz deles pediu que colegas se juntassem aos rebeldes e não reconhecessem Maduro. O governo logo contra-atacou e os deteve. As Forças Armadas são o principal pilar de sustentação do presidente, mas o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, já reconheceu que o diabo (da rebeldia) ronda os quartéis. Em situação financeira precária e maior contato com o povo, a GNB é o elo mais fraco do governo Maduro.

Guaidó ressaltou o histórico militar de seus avós e o respeito que nutre pelos oficiais venezuelanos, mas destacou que a Fanb perdeu prestígio nos últimos anos. O líder do Parlamento, de maioria opositora, decidiu divulgar a gravação pelo WhatsApp. Segundo ele, a ideia é que parentes mostrem a mensagem aos militares.

— Sei que, se utilizarmos os canais comuns, vocês não poderão receber esta mensagem. E também sei que, se vocês receberem de maneira direta, podem se tornar mais um bode expiatório — destacou Guaidó, segundo quem o Palácio Miraflores espera que os oficiais defendam o governo,

mas não se compromete a defendê-los de volta.

Para o presidente da AN, o momento é “decisivo”. Ele chamou os militares à “luta pela liberdade que tomou as ruas da Venezuela” e reiterou a oferta de conceder anistia aos oficiais que romperem com Maduro, feito em projeto aprovado na semana passada pela AN, que têm maioria oposicionista desde as eleições de 2015.

— Nenhum de vocês pode viver dignamente com seu salário como militar, não podem satisfazer as necessidades de seus filhos nem de seus parentes. Em meio a este debate, os culpados da crise obrigaram vocês a reprimir manifestações de pessoas que só exigem comer, ter saúde, que chegue luz, que tenham gás — apontou Guaidó. — Este é o momento de defender a Constituição, mas sobretudo defender sua família.

Fonte: O Globo