A Amazônia e sua contribuição para o combate à fome.

Gaitano Antonaccio*

A Amazônia possui a maior biodiversidade do planeta, representando entre outras vantagens da sua natureza, a existência de aproximadamente duas centenas de grupos étnicos, com a possibilidade de se expressar em quase 180 línguas diferentes. Essa riqueza desperta a cobiça internacional sobre um patrimônio cultural imensurável, incluindo-se plantas medicinais, comestíveis, abrangendo frutos, sementes, resinas, seivas, raízes, cascas de árvores e uma agricultura de subsistência da maior relevância científica.

O saudoso professor Samuel Isaac Benchimol esclarece esse encanto de riquezas de solo e subsolo em várias de suas obras, entre as quais se sobressai Amazônia – um pouco antes – além depois, onde suas teses são incontestáveis sobre a biodiversidade da Amazônia.

Informa o saudoso e ex-professor da Universidade Federal do Amazonas, que o estoque genético da Amazônia é inesgotável, tal a dimensão de grandeza na qual se apresenta. Detendo uma das maiores bacias hídricas do planeta, a Amazônia projeta o Brasil para um futuro estratégico de liderança, com um patrimônio de inestimável valor econômico e social. Assim, em termos de Segurança Alimentar, a Amazônia, com sua variedade de peixes, frutas, plantas, ervas e outras riquezas naturais, é riquíssima em proteínas, vitaminas, minerais e calorias capazes de viabilizar uma qualidade invejável na alimentação. Mas o destacado professor faz uma ressalva dramática, ao afirmar que toda essa riqueza da natureza, faz um flagrante contraste com a pobreza dos homens da Região, em razão de sua péssima alimentação, desnutrição e outras mazelas contraídas com doenças infecciosas e tropicais.

O que mais concorre para a má utilização desses recursos naturais é a falta de uma base científica e tecnológica capaz de adequar a complexidade do bioma e da própria Região Amazônica, não permitindo que o homem no seu habitat possa aproveitar tantas benesses ao seu dispor. É preciso e imperioso mais atenção do governo federal para inibir esse contraste científico e tecnológico, onde predominam doenças endêmicas e parasitárias, que uma vez debeladas, poderão mudar radicalmente a situação do homem, tornando-o capaz não só de usufruir de tantas riquezas naturais, mas fazê-lo capaz de produzir alimentos em grande escala para suprir a grande região e outras que se encontram nos seus limites. O tipo físico dos amazônidas seria outro mais saudável e nutrido, se lhes dessem oportunidades e acesso para cuidar de tantos bens colocados pela natureza ao seu dispor.

A Região Amazônica é caracterizada pela existência de terras firmes e várzeas, apresentando cada uma as suas próprias formas para a produção de alimentos. Eis que em sendo assim, as estratégias se tornam diferenciadas, e exigem assistência técnica e científica para o incremento da produção. A floresta de terra firme, com 95% de área é formada por terras elevadas, não são alagadiças, mas possuem uma fertilidade baixa no seu solo. Muitas vezes o ataque de insetos herbívoros precisa ser combatido e os mecanismos adotados nem sempre deixam de prejudicar grande parte dos alimentos produzidos, gerando custos e desperdício nas colheitas.

Contra essas dificuldades de se plantar em terra firme (o maior quinhão disponível), fazem-se necessários estudos amplos e com bases científicas, a fim de que a produção de alimentos numa gigantesca região, possa servir à humanidade em futuro próximo.

Se aprofundarmos uma pesquisa histórica intensa, vamos chegar à conclusão de que nem mesmo a Roma antiga do colossal Júlio César ou a Grécia dos filósofos e poetas que antecederam Jesus Cristo, foram tão amadas, admiradas, discutidas, cobiçadas e decantadas do que a Amazônia Brasileira.

Os amantes da Amazônia não deixarão de se suceder em todos os tempos e em todos os lugares, porque a Amazônia é mais universal na atualidade, do que o foram Roma e Grécia na antiguidade. Não se pode comparar a grandeza do mundo atual, com a mesma proporcionalidade humana e geográfica dos tempos de Cícero, Júlio César, Sócrates, Platão, Aristóteles e outros. O mundo perverso e moderno substituiu o mundo romântico. A tecnologia despreza a arte, porque adora o conforto e torna o mundo menos humano. Essa permuta no sentimento humano nos deixou menos solidários e a fome tem crescido por causa dessas mudanças no comportamento humano.

Vivemos no contexto de um mundo elevadamente científico, onde a verdade está em campo aberto; ingressamos num processo tecnológico onde a máquina corrige as falhas humanas, mas não deixamos de permanecer no mundo onde o homem continua humano, onde o cérebro repleto de sabedoria agasalha milhões de emoções e o coração rebenta esse cérebro, se não controla as emoções recebidas.

Esse processo que fortifica a vida é o mesmo que a enfraquece. Nunca, pois, foi tão necessário cultivar o cérebro para abrandar o coração. Muitos aventureiros invadem a Amazônia por meio de suas teses agressivas e ilusórias, conquistam espaços em nossas terras, sem pisá-las ou conhecê-las. Querem usufruir da felicidade da natureza bela e farta, passando ao largo do sofrimento das distâncias, das doenças tropicais disseminadas pelos insetos, que ao mesmo tempo nos matam e nos protegem.

Desconhecem as vicissitudes que essa mesma natureza misteriosa impõe ao homem que gera e pune, mesmo quando esse homem a preserva com inocência, amor e com o sacrifício da própria vida. As vicissitudes do sofrimento caboclo precisam ser mostradas ao mundo, pois a Amazônia tem muito a oferecer para amenizar a fome do mundo, se a humanidade respeitar nossas tradições, entender nossa luta e respeitar como os amazônidas essa rica região.

Fatores climáticos como a pluviosidade, radiação solar, alta temperatura, umidade, praga de insetos, acidez do solo e outros fenômenos da natureza, ao mesmo tempo positivos e negativos, necessitam ser profundamente estudados para que a Amazônia passe a ter uma produção mais eficiente.

Estudos que estão sendo realizados por equipes do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia concluíram recentemente que existe uma grande precariedade nutricional para as crianças do rio Negro, prejudicando o crescimento no primeiro ano de vida. Entre as soluções apontadas para não agravar ainda mais a situação da falta de segurança alimentar na Amazônia, é necessário aproveitar a sua própria estrutura de biodiversidade. A utilização desses instrumentos deve atentar para os princípios da preservação e da sustentabilidade, com a inclusão de tecnologias modernas.

Os projetos existentes no INPA e outros órgãos de desenvolvimento com vistas à produção de alimentos na Região Amazônica devem ser acionados, bem como devem ser ativados outros caminhos como novas pesquisas, com os necessários detalhamentos de cada espécie estudada, sem que se desprezem os mais elementares frutos regionais e outros produtos possíveis de serem transformados em alimentos ou nutrientes.

Outros aspectos importantes e que poderão ser objetos de incontestável suporte no incremento da produção de alimentos na Amazônia, pode ser considerado nos favores fiscais e incentivos colocados à disposição da Região, que é favorecida com a isenção do Imposto de Renda (IR)
e adicionais não restituíveis, Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), redução do imposto de Importação, além dos incentivos concedidos pelos governos estaduais, com a restituição do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

O Polo Industrial de Manaus (PIM) é um parque industrial de alta tecnologia gerando milhares de empregos, com a vantagem já comprovada de não poluir a região.

Atualmente o PIM possui cerca de 550 indústrias em operação no Distrito Industrial da Suframa e periferias da cidade de Manaus oferecendo cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos, com uma exportação que atingiu em 2011 quase 90 bilhões de dólares. Indiscutivelmente, a implantação do PIM no Estado do Amazonas tem sido responsável pela preservação ambiental de 98% da biodiversidade amazônica, com o uso da tecnologia de ponta. Essa extensão produtiva se estende à Amazônia Ocidental incluindo os estados de Roraima, Acre, Rondônia e Amapá.

Sobre a exploração das riquezas da Amazônia, vale a pena transcrever o pequeno trecho abaixo, captado de um discurso do ex-senador amazonense e ex-ministro da Justiça, Dr. José Bernardo Cabral, quando estava deputado federal pelo Amazonas e afirmou:

É imprescindível, pois, uma planificação, para o aproveitamento das imensas riquezas minerais da Região Amazônica, onde se encontram inclusive, minerais estratégicos… A prata, encontramo-la no Pará e no Amazonas; o cobre, no Pará, Maranhão, Mato Grosso e Roraima; o chumbo, no Pará; o alumínio, nos estados e territórios da Região Amazônica; ferro, no Amapá, Amazonas e Pará; o cromo, no Amapá. Como se vê, há uma série de riquezas inestimáveis além de minerais estratégicos, como a cassiterita e, ao que se propala também o urano. Assim, todo brasileiro, residente ou não naquela região, tem o dever de não se omitir na luta em defesa dos interesses regionais.

Naquele instante de sua inspiração para defender a região, o amazonense Bernardo Cabral nem precisou citar as riquezas de solo, ou a fauna e a flora que despertam a cobiça internacional escancarada e ameaçadora.

*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas, da Academia Brasileira de ciências Contábeis, da Academia de Letras do Brasil, correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santo, membro efetivo da Academia Brasileira de Ciências Contábeis e outras.

Gaitano Antonaccio é membro das Academias de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR