PF prende assessor especial do ministro do Turismo em investigação de candidaturas laranjas do PSL

RIO — A Polícia Federal prendeu, na manhã desta quinta-feira, três assessores do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, na investigação sobre desvios de recursos do fundo partidário do PSL para candidaturas de laranjas .

Foram presos temporariamente o atual assessor especial do ministério Mateus Von Rondon Martins, em Brasília; e os ex-assessores Haissander Souza de Paula e Roberto Silva Soares, em Minas Gerais. Os três foram alvos de mandados de busca e apreensão. A PF apreendeu computadores e celulares. Robertinho, como é conhecido, foi um dos coordenadores de campanha de Álvaro Antônio no ano passado. Já Haissander era assessor dele na Câmara dos Deputados.

A suspeita da investigação é que, com a atuação desses assessores, Marcelo Álvaro Antônio selecionou mulheres para o PSL de Minas Gerais lançar candidaturas laranjas e, assim, cumprir a cota de gênero determinada por lei. No entanto, os recursos repassados seriam desviados para gráficas que não teriam prestado efetivamente os serviços.

Batizada de Sufrágio Ostentação, a operação tem agentes nas ruas de Aimorés e Ipatinga, na Região do Vale do Rio Doce, e em Brasília. Em 29 de abril, na primeira fase da ação, a PF fez buscas em sete endereços de cinco cidades de Minas Gerais, incluindo a sede do PSL em Belo Horizonte e gráficas suspeitas.

Segundo o G1, os suspeitos são investigados pelos crimes de falsidade ideológica eleitoral, emprego ilícito do fundo eleitoral e associação criminosa.

Mateus Von Rondon foi o único preso que continuava trabalhando com Álvaro Antônio. É seu braço-direito no ministério. Ele foi levado à Superintendência da PF em Brasília, por volta de 7h40 desta quinta-feira. Von Rondon era dono de uma empresa que consta na prestação de contas de quatro candidatas à Assembleia estadual e à Câmara dos Deputados que teriam sido usadas pelo PSL de Minas como laranjas. A PF acredita que a companhia dele foi criada unicamente para receber os recursos desviados.

De acordo com o G1, Lilian Bernardino, Naftali Tamar, Débora Gomes e Camila Fernandes disseram ter pagado R$ 32 mil à companhia do hoje assessor do ministro. As quatro candidatas tiveram poucos votos no pleito, apesar do recebimento dos recursos do partido, o que levantou suspeitas sobre a regularidade dos repasses e motivou a abertura de investigação em fevereiro.

Robertinho, que era figura central do suposto esquema de candidaturas laranjas, deixou em abril a executiva do PSL de Minas Gerais. Ele ocupava o lugar de primeiro secretário do diretório em Minas. A saída ocorreu depois de seu antigo chefe, o ministro Álvaro Antônio, se tornar alvo de suspeitas de participação no desvio de recursos públicos do fundo partidário nas eleições do ano passado. Robertinho é irmão do dono de uma das gráficas utilizadas no suposto esquema. Segundo a PF, empresa não funcionava há dois anos e emitiu notas fiscais para candidaturas do PSL no estado.

Em maio, o presidente Jair Bolsonaro, que é do PSL do Rio, ironizou as denúncias sobre as candidaturas da sigla. Disse que até gostaria de ser dono de um laranjal , porque “laranja é um produto rendoso”.

Suspeitas de laranjas

Robertinho foi acusado pela então candidata do PSL de Minas Gerais, Adriana Moreira Borges, de condicionar um repasse de R$ 100 mil do fundo partidário do PSL para sua campanha à devolução de R$ 90 mil ao partido. Em entrevista ao GLOBO, Moreira negou ter aceitado a proposta por considerá-la imoral.

Em abril, a deputada federal Alê Silva (PSL-MG), acusou Marcelo Álvaro Antonio de  ameaçá-la de morte em duas ocasiões, com transmissão do recado sobre a ameaça por parte de políticos do PSL . A deputada reuniu informações sobre o caso e entregou a uma associação regional para que fossem repassadas ao Ministério Público. O ministro nega a acusação.

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Desde fevereiro, o Ministério Público de Minas Gerais investiga a relação do atual ministro do Turismo com uma empresa de serviços digitais pertencente a Von Rondon, dentro do procedimento que apura as supostas candidaturas laranjas. Entre 2015 e 2018, a companhia recebeu R$ 193 mil em verbas do gabinete de Álvaro Antônio, que era deputado federal. Foi a mesma empresa que recebeu os R$ 32 mil das quatro candidatas em 2018 — as candidaturas serviriam apenas para receber dinheiro do partido e devolvê-lo a empresas ligadas a Álvaro Antônio, que presidia o PSL em Minas Gerais.

No último dia 21 de janeiro, Von Rondon fechou a firma junto à Receita. Dois dias depois, foi nomeado como assessor no gabinete do ministro.

Em 10 de fevereiro, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou o caso de uma candidata a deputada federal em Pernambuco que  teve apenas 274 votos na eleição do ano passado, embora tenha recebido do PSL R$ 400 mil para cobrir supostas despesas de campanha. O gasto com a campanha de Maria de Lourdes Paixão Santos seria o terceiro maior do partido.

Ainda naquele mês, O GLOBO  revelou que duas candidas do PSL a deputada estadual no Ceará e no Pernambuco adquiriram, menos de 48 horas da eleição, mais de 10 milhões de santinhos, folders e praguinhas . O partido ainda destinou a poucos dias do primeiro turno R$ 268 mil, montante que mal parou nas contas de campanha de Gislani Maia e Mariana Nunes — elas gastaram praticamente todo o valor recebido em gráficas entre os dias 5 e 6 de outubro do ano passado.

Fonte: O Globo