“A pior coisa para o futuro de Amazônia é tirar a vegetação para criar gado”, diz pesquisador do Inpa

No dia 21 de setembro é comemorado o Dia da Árvore, marcando as proximidades do início da Primavera, a estação do ano que deixa as árvores mais vivas e cheias de folhas. Elas nos ajudam na manutenção da qualidade do ar, diminuindo a poluição, além de nos fornecerem frutos, sombra e a beleza que só elas possuem.

Na Amazônia, temos a maior Floresta Tropical do mundo, cobre cerca de 60% do Brasil, e tem mais de 5 milhões de quilômetros quadrados e, pelo menos, 2.500 espécies de árvores. Há no entanto, um problema recorrente tem deixado árvores ameaçadas de extinção: o desmatamento, seja por derrubada ou queimadas.

Em 2014, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), divulgou a Portaria 443, em que divulgou a Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção. Sobre o assunto a equipe do Portal Amazônia, conversou com o pesquisador doutor Mike Hopkins, coordenador de pós-graduação em Botânica e curador do herbário, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Foto:Divulgação/CNPq

Segundo Mike, a Amazônia tem uma vasta diversidade de árvores, e há uma enorme dificuldade em catalogá-las e saber quais estão ameaçadas de extinção.

“Dada a extensão de Amazônia e a falta de uma boa amostragem de coletas botânicas na região, que existam muitas espécies de árvores que não tem sido coletadas ainda, e com certeza muitas destas desconhecidas são muito raras, talvez ocorrendo somente em áreas geograficamente pequenas. Nós simplesmente não sabemos ainda”, ressalta o doutor Mike.

Ainda segundo o pesquisador, muitas espécies são conhecidas por somente uma ou poucas coletas.

“Estas espécies podem ser ameaçadas a extinção. Sem mais conhecimento delas, não podemos saber.  A concentração de atividades de botânicos perto das grandes cidades, Manaus e Belém principalmente significa que sabemos muito mais das plantas nestas áreas e muito pouco em outros. Neste sentido, temos muito pouco conhecimento das árvores em outros lugares, e vale a pena destacar que o Sul da Amazônia, no arco de desmatamento é bem pouco conhecido, e é bem provável que já perdemos espécies lá, mas não temos a informação sobre elas”, disse.

Sobre as listas divulgadas por órgãos oficiais, doutor Mike lembra que, em muitos casos, se restringem à árvores comerciais.

“Nas listas oficiais, geralmente colocam árvores usados comercialmente, e realmente algumas espécies que eram comuns são mais raras por causa de cortes por madeireiras. Mas ameaçadas de extinção… acho que nenhuma espécie comercial chegou neste nível. Mas a fonte mais oficial sobre plantas ameaçadas é o livro vermelho das plantas do Brasil do CNCflora”, pontua.

O livro vermelho, para o doutor Mike, tem as informações mais restritas ao Sul do país e segundo ele, isso é um problema.

“Nesta publicação, dá para vermos que a informação disponível adequada para estimar se uma espécie é ameaçada ou não é, está principalmente restrito aos estados do Sul do Brasil. Por exemplo, listam 708 espécies ameaçadas em Minas Gerais e somente 4 para Roraima. Como cientista, digo que nosso maior problema em responder suas perguntas é a falta crônica de investimento em pesquisas básicas na Amazônia, situação que está sendo agravado muito recentemente… Termos deprimentes!”, disse.

Das árvores ameaçadas de extinção das árvores, o desmatamento segue como a principal causa.

“Não posso falar de causas de extinção exatamente, mas o maior ameaça, por longe, obviamente, é o desmatamento, principalmente para gado. Eu diria que criação de gado é o maior ameaça para Amazônia, em geral. Amazônia é florestada…. gados não vivem em floresta. A pior coisa possível para o futuro de Amazônia é tirar a vegetação para criar gado. É ruim economicamente, ecologicamente e cientificamente. O pior político possível é aquele que estimula a criação de gado, e que resultará em todos os outros problemas desastrosos, como desmatamento e assim incêndios, danos ao solo, erosão, mudanças na clima (em todo Brasil e no Mundo) e possivelmente, desertificação numa escala imensa”, ressalta.

Em se tratando de manter a floresta em pé, o pesquisador ressalta que, atitudes como não permitir a criação de gado e a soja, podem evitar a extinção.

“Para evitar extinção, principalmente, não permitir criação de gado ou cultivo extenso de monocultura, como a soja. Se não perturbar a floresta, a floresta cuida de se mesmo, preservando uma banda de riquezas imensas que ia beneficiar gerações e gerações que virão, mas que no momento entendemos muito pouco. Derrubar a floresta agora é um caso clássico de ‘matar a galinha que produz ovos de ouro'”, afirmou o pesquisador.

Foto:Divulgação/Embrapa

Como de importância para o ecossistema amazônico, o doutor Mike lembra de algumas espécies de árvores.

“Temos exemplos de árvores imensamente importantes, como Copaibeira, Castanheira, Andiroba, Açaí, e etc, que são imensamente produtivos e bem manejado em floresta em pé tem um retorno financeiro muito maior que gado, e especialmente um retorno garantido para séculos, bem diferente na terras desmatadas e degradadas por manejo de gado”, finaliza o pesquisador.

Fonte: Portal Amazônia