Cercado de militares, Guaidó anuncia em vídeo início do fim do governo Maduro

CARACAS — O líder opositor venezuelano Juan Guaidó — que em janeiro se proclamou presidente interino com o apoio da Assembleia Nacional de maioria opositora — publicou no início da manhã desta terça-feira em suas redes sociais um vídeo, gravado próximo à base militar de La Carlota, no bairro de Altamira, em Caracas, no qual anuncia “o fim definitivo da usurpação” do poder pelo presidente Nicolás Maduro.

No vídeo, Guaidó aparece cercado de militares, afirma que “hoje valentes soldados acudiram a nosso chamado” e conclama a população a ir às ruas. “Povo da Venezuela, começou o fim da usurpação. Neste momento, me encontro com as principais unidades militares da nossa Força Armada, dando início à fase final da Operação Liberdade”, escreveu o líder opositor em sua conta no Twitter.

O governo, que garante não haver mobilização militar em favor da oposição além de um “reduzido grupo de traidores”, denunciou uma tentativa de golpe de Estado e convocou cidadãos ao Palácio de Miraflores para a defesa do regime. Interlocutores da oposição disseram ao GLOBO que “está em marcha um golpe de Estado e a fase final da Operação Liberdade”.

No vídeo, Guaidó aparece ao lado do líder do seu partido, o Vontade Popular (VP), Leopoldo López, que até então estava em prisão domiciliar.

— O 1º de maio de começou hoje, o final definitivo da usurpação começou hoje — declara o líder opositor no vídeo, postado pouco antes das 6h da manhã (7h no Brasil), quando muitos venezuelanos ainda dormiam.

Em entrevista ao GLOBO, a analista venezuelana Argelia Ríos disse que não se esperava uma ação como esta para esta terça-feira, até porque nunca se definiu exatamente o que era a Operação Liberdade, que vinha sendo convocada pela oposição para o Dia do Trabalhador. A sensação, segundo ela, é que Guaidó antecipou em um dia essa operação para criar um “efeito surpresa”.

No Twitter, Leopoldo López, detido desde fevereiro de 2014, relatou ter sido solto por militares rebeldes. Segundo o portal Tal Cual, que cita Guaidó, para López sair da prisão domiciliar, foi decretada “uma anistia para presos políticos civis e militares”.

“Fui liberado por militares seguindo a ordem da Constituição e do presidente Guaidó. Estou na base de La Carlota. É hora de conquistar a liberdade e a fé”, contou López.

Centenas de pessoas se reuniram perto da base de La Carlota, em Altamira, em resposta ao chamado de Guaidó. A movimentação é menor que a registrada nos protestos convocados anteriormente pela oposição. Forças do governo lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes. A deputada opositora Gaby Arellano denunciou que o

Também no Twitter, Guaidó reforçou o pedido de mobilização nas ruas até que a Força Armada Nacional e os opositores “consolidassem o fim da usurpação”, que, segundo ele, “já é irreversível”. O líder opositor destacou que os militares “tomaram a decisão correta” e que gozam do apoio do povo venezuelano e da Constituição do país. “Estão partindo as forças para conseguir o fim da usurpação”, anunciou Guaidó.

Governo diz que reprime pequeno grupo de traidores

Também pelo Twitter, o ministro do Poder Popular para a Comunicação e a Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, informou que as forças do governo “estão enfrentando e desativando um reduzido grupo de tropas militares traidoras que se posicionaram no Distribuidor Altamira — local simbólico para a oposição — para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República”.

“Convocamos o povo a se manter em alerta máximo para, junto à gloriosa Força Armada Nacional Bolivariana, derrotar a tentativa de golpe e preservar a paz. Venceremos”, escreveu Rodríguez, o primeiro representante do chavismo a se pronunciar.

O ministro da Defesa de Maduro, general Vladimir Padrino López, destacou que os militares permanecem “firmemente em defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas”. Segundo ele, todas as unidades militares do país “reportam normalidade” em suas bases. Maduro compartilhou as postagens do ministro.

“Nós rechaçamos este movimento golpista que visa a encher o país de violência”, destacou Padrino López, que chamou os rebeldes de “covardes”. “Os líderes políticos que se colocaram à frente deste movimento subversivo empregaram tropas e policiais com armas de guerra em uma via pública da cidade, para criar terror”.

Número 2 do chavismo, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte controlada pelo governo, Diosdado Cabello, reforçou que “não há registro de manifestações em nenhum estabelecimento militar do país”. Ele atribuiu a tentativa de golpe a um “minúsculo grupo” da Guarda Nacional Bolivariana e da Sebin, a agência de inteligência venezuelana.

Desde que se autoproclamou presidente, em 23 de janeiro, Guaidó trabalhou para arregimentar membros das forças militares da Venezuela, principal pilar de sustentação de Maduro no poder em Caracas. Organizou uma operação de ajuda internacional nas fronteiras de Colômbia e Brasil, na esperança de que os soldados deixassem passar as mercadorias e desertassem em apoio à oposição.

Fonte: O Globo