Vale e Museu Emílio Goeldi lançam estudo sobre a flora na Serra dos Carajás

Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Instituto Tecnológico Vale (ITV) lançaram esta semana o primeiro volume sobre os estudos da vegetação da Serra de Carajás, no Pará. A publicação reúne o trabalho de 55 botânicos e mais de 22 instituições do Brasil e do exterior, que reuniram informações sobre 139 gêneros e 248 espécies da flora da região.

O projeto Flora das cangas da Serra dos Carajás, Pará, Brasil é desenvolvido desde 2015 e conta com a colaboração de 74 botânicos taxonomistas do Brasil e do exterior. Segundo o Museu Goeldi, é possível que, ao final de 2017, as pesquisas sejam responsáveis por catalogar quase 10% das 7.071 espécies da flora referidas para o estado.

No total, serão três volumes publicados na Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, uma das revistas nacionais mais tradicional na área de botânica. A pesquisa também conta com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Uma das descobertas desse trabalho foi o registro de mais quatro espécies de Ipomoea, nativas de Carajás mas com ampla distribuição por outras regiões do país. Os dados anteriores faziam referências a três espécies dessa flor, consideradas endêmicas da região: Ipomoea carajasensis, Ipomoea cavalcantei (a flor-de-Carajás) e Ipomoea marabaensis. Com o novo levantamento foi possível atualizar este dado, sabendo-se agora que há um total de sete espécies deste gênero da região de canga. Outros casos semelhantes também foram registrados para outros grupos de planta.

Conservação x exploração

Segundo o Museu Goeldi, na Floresta Nacional de Carajás encontra-se uma das maiores províncias minerais do mundo e também as cangas, que são ecossistemas vegetais associados a locais onde ocorrem a elevação de rochas ferruginosas. As cangas ou campos ferruginosos são encontradas em vários locais do Brasil e são conhecidas por abrigarem seres vivos muito específicos e adaptados às características desses lugares.

Entretanto, por geralmente estarem associadas às principais jazidas de ferro do país, as cangas representam desafios para a pesquisa e o planejamento que concilie a conservação da biodiversidade e a exploração dos recursos naturais.

As cangas de Carajás estão imersas na Floresta Amazônica, considerada a grande lacuna de conhecimento de flora do Brasil. O trabalho de Museu Goeldi e do ITV visa suprir parte dessa lacuna e também auxiliar o diálogo entre a ciência, o setor produtivo e órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental na região, trazendo informações detalhadas sobre as espécies desse ecossistema.

Através do regaste e sistematização da informação, o estudo atual disponibiliza informação correta e autenticada, substituindo listas desatualizadas. Todo o material coletado desde 2015 já está incluído em banco de dados, com 8,8 mil amostras depositadas no herbário do Museu Goeldi, em Belém.

A compilação das espécies que ocorrem na canga na Serra dos Carajás vai estabelecer ainda uma visão comparativa desta flora com outras áreas de cangas do país e formações rupestres já inventariadas na Amazônia, como o Parque Estadual do Cristalino, no Mato Grosso, e a Serra do Aracá, no Amazonas.

Museu Goeldi e ITV

O Museu Goeldi é a instituição mais antiga da Amazônia, fundada em 6 de outubro de 1866 e pioneira na investigação científica sobre a flora de Carajás, com a primeira expedição de coleta na região realizada em 1969. Vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, ele mantém 18 coleções científicas principais com mais de 4,5 milhões de itens tombados e seis programas de pós-graduação.

Já o ITV foi criado há oito anos pela Vale, que opera minas de ferro, cobre e níquel no sudeste do Pará. O instituto tem o objetivo de buscar soluções inovadoras que auxiliem o desempenho operacional da empresa respeitando o meio ambiente e as comunidades tradicionais da região.

AGÊNCIA BRASIL