USAID, Fiocruz Amazônia e Fiotec elaboram guia orientador para oficinas de educação popular e comunicação em saúde no enfrentamento da COVID-19

A Frente 3 do Projeto Ciência, Saúde e Solidariedade no Enfrentamento à Covid-19, desenvolvido pela Fiocruz Amazônia e Fiotec, em parceria com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), NPI EXPAND e SITAWI – Finanças para o bem, elaborou um roteiro de atividades que norteiam a atuação dos facilitadores e educadores populares diretamente envolvidos com a realização das oficinas sobre Educação Popular e Comunicação em Saúde para Engajamento Social e Fortalecimento da Cobertura Vacinal da População Ribeirinha, Quilombola e Migrante. A Frente 3 do projeto tem como finalidade garantir o acesso amplo, eficaz e com equidade à vacina contra a COVID-19, bem como sua aplicação segura e eficaz. As orientações comporão um guia para facilitadores/educadores populares, que será produzido e publicado futuramente.

O trabalho é resultado de uma construção coletiva, por meio de reuniões presenciais e virtuais, realizadas entre os meses de outubro e novembro passados, envolvendo as equipes de apoiadores locais que atuarão ao longo do projeto como facilitadores nos territórios quilombolas, ribeirinhos e de migrantes dos estados do Amazonas e Acre. “O guia orientador é uma ferramenta educativa de gestão. A ideia foi ter um material pensado a partir na realidade local dos que vivem nela, permitindo uma amostra de como as pessoas se enxergam nos seus territórios, preparando assim os facilitadores que vão fazer as mobilizações nas comunidades”, explica o pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Júlio César Schweickardt, coordenador da Frente 3 do Projeto Amazônia Solidária.

Segundo Schweickardt, o projeto, em sua concepção, foi desenhado como sendo de base comunitária desde o princípio, razão pela qual foi necessário garantir a participação de pessoas das comunidades ribeirinhas, quilombolas e migrantes no processo de definição das estratégias de atuação. “Com a seleção dos apoiadores locais, garantimos o diálogo, a visão da comunidade e a mobilização necessária para a realização das oficinas. O apoiador da comunidade nos dá uma dimensão mais real, mais presente do que acontece naquele território”, afirmou. O projeto possui, no total, 32 facilitadores, distribuídos entre comunidades de territórios quilombolas, ribeirinhos e de migrantes de 36 municípios, sendo 15 no Amazonas e 21 no Acre.

“A ideia foi a de realizarmos duas oficinas, em momentos distintos, que permitam identificar fatores que impactam no aumento da cobertura vacinal nos territórios e levantar estratégias, por meio das metodologias da Educação Popular em Saúde (EPS), para melhorar a comunicação e divulgação científicas a partir dos atores sociais e institucionais destas comunidades”, destaca o coordenador. As peças de comunicação que forem produzidas serão disponibilizadas para a própria comunidade, na forma de podcasts, informativos eletrônicos, folhetos em folha de papel A4, entre outras possibilidades. “O foco do projeto é o usuário, quanto mais próximo da dinâmica da comunidade estivermos, melhor”, resumiu.

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE

O guia organiza as atividades a serem desenvolvidas nas doze horas propostas para realização das oficinas de diagnóstico situacional da comunidade. Para a publicitária e mestre em Saúde Pública, Denise Amorim, que atua como facilitadora do projeto, a proposta do Guia Orientador surgiu da necessidade de compartilhar conhecimento acerca das técnicas da Educação Popular em Saúde, considerando a relevância de todos alcançarem as intencionalidades educativas e do projeto. “As oficinas foram pensadas e planejadas por meio de Círculos de Cultura que estão fundamentados em uma proposta pedagógica democrática e emancipadora, que requer uma tomada de decisão perante os problemas levantados a partir das experiências dos sujeitos em seus territórios. A proposta é trabalhar a consciência do vivido, possibilitando a ampliação do conhecimento e a compreensão dos educandos sobre sua própria realidade, intervindo criticamente nela”, explica Denise.

Ela lembra que durante as oficinas com os facilitadores, foi possível socializar possíveis trilhas metodológicas para potencializar a escuta, o diálogo, a partir das problematizações que o roteiro propõe. “O papel do facilitador é ser o tecelão da rede de diálogos, o indutor das problematizações, reflexões e construções que serão realizadas pelos participantes da oficina, considerando que este orientador pode e deve ser adaptado conforme as circunstâncias encontradas nos diferentes locais de aplicação, de acordo com questões culturais, sociais ou até mesmo comportamentais das comunidades”, observou.

MAPEAMENTO NO TERRITÓRIO

Nos territórios, as oficinas já começaram a ocorrer. Na primeira – da série de duas oficinas – é feita a apresentação da proposta e das estratégias locais de enfrentamento da pandemia. Com até três dias de duração, a depender da localidade onde aconteça e do quantitativo de participantes, a oficina é importante para o mapeamento das potencialidades da comunidade já com vistas à pactuação dos produtos que serão elaborados e definição do cronograma. No encontro, são tratadas também as medidas de enfrentamento à pandemia e mitigação dos efeitos, sobretudo o uso adequado de medidas de proteção individual e coletiva, mobilização para vacinação, além de produção de registros para relatórios, documentários e produções técnico-científicas.

Divididos em grupos, os participantes planejam uma estratégia de educação e comunicação em saúde para divulgação e aumento da cobertura vacinal no seu município. O grupo dever fazer uma representação da sua estratégia, a partir de questionamentos sobre como querem se comunicar, os meios de comunicação mais usados pela comunidade, a mensagem que se quer divulgar, a melhor linguagem a ser utilizada, melhor estratégia para conscientização sobre o tema e os locais adequados para as atividades.

Na segunda oficina na comunidade, a finalidade é a apresentação dos produtos e estratégias de publicação e divulgação dos materiais produzidos. Nela, será feito o compartilhamento das iniciativas produzidas em cada território, a atualização das informações sobre a pandemia e o planejamento de estratégias de médio e longo prazos para a sustentabilidade das medidas propostas. Os materiais produzidos devem ser compartilhados em ambiente virtual para visualização ampliada. À frente das atividades, devem estar no mínimo, três pessoas: um facilitador/educador para a condução da oficina; um relator para a realização de registros e memórias; uma pessoa para os registros em audiovisual.

A Frente 3 do Projeto Amazônia Solidária atuará nas comunidades quilombolas Quilombo do Barranco de São Benedito, na Praça 14, em Manaus; Quilombo do Rio Andirá, no município de Barreirinha, e Quilombo Serpa, em Itacoatiara (AM), no Amazonas, além de Anamã, Anori, Barcelos, Boca do Acre, Borba, Carauari, Codajás, Ipixuna, Manaquiri, Manaus, Manicoré, Maraã, Rio Preto da Eva, São Sebastião do Uatumã e Tabatinga. No Acre, os municípios contemplados são Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Madureira, Tarauacá, Brasileia, Senador Guimard, Plácido de Castro, Xapuri, Rodrigues Alves, Marechal Thaumaturgo, Mâncio Lima, Porto Acre, Epitaciolândia, Acrelândia, Porto Walter, Capixaba, Bujari, Manoel Urbano, Jordão, Assis Brasil e Santa Rosa do Purus. No Acre, a coordenação do projeto realizará oficinas apenas na capital, Rio Branco, tendo como público-alvo os profissionais de saúde que atuarão como facilitadores locais e que, por sua vez, se encarregarão de viabilizar as atividades nas comunidades dos demais municípios.