Trump culpa democratas por paralisação no governo e cobra verba para muro

WASHINGTON. Após um dia de suspense, Donald Trump usou seu pronunciamento em cadeia nacional de TV na noite desta terça-feira (madrugada de quarta-feira no Brasil) para culpar os democratas pelo impasse orçamentário que completa nesta quarta-feira 19 dias e para tentar convencer a sociedade americana da importância de seu muro na fronteira com o México, cuja dificuldade para obter recursos causa a paralisacao do governo. Com um tom sombrio, exibindo uma série de casos de crimes causados por imigrantes sem papeis, Trump tentou apelas à emoção:

Por que políticos ricos constroem muros, cercas e portões ao redor de suas casas? eles não constroem muros porque odeiam as pessoas do lado de fora, mas porque amam as pessoas do lado de dentro — disse ele.

Trump não declarou emergência para construir o muro sem a necessidade do Congresso – como chegou a ameaçar – mas culpou os democratas pelo impasse e pediu que a oposição mude de opinião. Trump detalhou uma série de crimes realizados por imigrantes e afirmou que, sem o muro, as drogas invadem o território americano.

— A  pedido dos democratas, será uma barreira de aço e não um muro de concreto – disse Trump, que afirmou que, ao reduzir a violência e gastos desnecessário,  o muro fronteiriço se pagaria rapidamente.

Imediatamente após o discurso, os líderes democratas rebateram Trump, afirmando que já aprovaram leis para reabrir o governo enquanto debateriam uma forma inteligente de segurança de fronteira. Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes, acusou Trump de fazer populismo:

O fato é: as mulheres e crianças na fronteira não são uma ameaça à segurança, são um desafio humanitário – um desafio que as políticas cruéis e contraproducentes do Presidente Trump apenas aprofundaram. E o fato é: o presidente Trump deve parar de manter o povo americano como refém, deve parar de fabricar uma crise por causa de uma obsessão, e deve reabrir o governo — disse Pelosi.

O raro pronunciamento do presidente, anunciado na segunda-feira, havia deixado o país em espera. A paralisação, se continuar, no sábado, terá se tornado a maior da História dos EUA, superando o shutdown , como é chamado no país, vivido por 21 dias na virada de 1995 para 1996, em pleno governo de Bill Clinton. Muitos imaginavam que ele poderia declarar emergência nacional, como ameaçou na semana passada, para iniciar a construção do muro sem a necessidade de aprovação do Congresso — o que poderia gerar questionamentos judiciais.

O impasse orçamentário ocorre por causa da proposta de US$ 5,7 bilhões para a construção de um muro na fronteira dos EUA com o México, principal promessa de Trump na campanha eleitoral de 2016. Os democratas não aceitam dar o valor pedido pelo presidente, que se recusa a assinar um orçamento provisório, que permitiria que o governo americano funcionasse totalmente, enquanto se discute soluções para a solução para a segurança da fronteira.

Com a paralisação parcial, 800  mil funcionários estão afastados ou sem receber salários. Museus, parques nacionais e uma série de serviços públicos não essenciais já foram suspensos e, a cada dia, outras atividades estão deixando de funcionar. Pilotos de avião já afirmaram que o “shutdown” pode comprometer a “segurança e a eficiência” dos voos, enquanto democratas alertam que a continuidade da paralisação pode deixar 38 milhões de pobres sem cheques-alimentação. Funcionários públicos temem ser despejados por não pagarem aluguéis ou prestações do financiamento imobiliário.

Ao afirmar que o impasse pode durar “meses ou anos”, Trump endureceu a batalha política, mas pode ter perdido parte do apoio da opinião pública. Uma pesquisa da Reuters, feitsa entre o dia 1o. E ontem, revelou que 51% acreditam que a “maior culpa” pelo impasse é de Trump, quatro pontos percentuais a mais que o resultado da pesquisa realizada entre 21 a 25 de dezembro. No atual levantamento, 32% culpam os democratas do Congresso e 7% os parlamentares republicanos.

Maioria culpa presidente por impasse

A pesquisa constatou que 41% da população apóia a construção de cercas adicionais nas fronteiras, uma queda de 12 pontos em comparação a uma pesquisa similar na primeira semana de 2015, com a oposição dobrando entre os democratas.Trump disse, no fim de semana , que todos os ex-presidentes vivos apoiam o muro ou a barreira de metal que pretende construir na fronteira — fato negado por todos os ex-mandatários. A Casa Branca também foi acusada de mentir, ao inflar os números de supostos suspeitos de terrorismo que haviam sido detidos na fronteira com o México.

Trump se reunirá nesta quarta-feira, segundo o site Político, com diversos senadores republicanos. Ao menos dois já manifestaram publicamente a intenção de aprovar um orçamento sem a verba para o muro, o que isolaria ainda mais Trump.

Na quinta-feira, Trump visitará um ponto da fronteira com o México – onde deverá voltar a defender a urgência e a necessidade da obra. Durante a campanha ele afirmou que a barreira seria paga pelos mexicanos — e o governo do país vizinho sempre negou isso. Agora, Trump argumenta que os recursos que eventualmente virão a pagar o muro serão decorrentes de ganhos obtidos com o novo acordo comercial que substituirá o Nafta e que, assim, os mexicanos estariam pagando indiretamente pelo muro. Este novo acordo ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos dos dois países e do Canadá e não tem prazo para entrar em vigor.

Fonte: O Globo