Matéria publicada nesta quarta-feira (1) pelo The Wall Street Journal conta que antes do discurso desta terça-feira, analistas da esquerda e da direita se mostraram, pela primeira vez, unânimes na sua análise: para Donald Trump, tratava-se sobretudo de um recomeço para a sua presidência e de deixar para trás o início meio tortuoso – alguns diriam fracassado – do seu governo. O próprio presidente havia dito pela manhã, em entrevista à emissora Fox News, que estava satisfeito com o próprio trabalho, mas que havia o que melhorar em termos de comunicação.
Journal afirma que de fato, Trump se apresentou sereno, decidido, em tom presidencial e já quase otimista no seu primeiro discurso diante dos congressistas da Casa dos Representantes e do Senado – certamente bem mais otimista do que em seu discurso de posse, de tons sombrios, em 20 de janeiro. Desta vez, ele prometeu uma “renovação do espírito americano”, da capacidade de enfrentar todos os desafios. Ele saudou o “novo orgulho nacional” que move o país. E destacou que os Estados Unidos estão “de novo prontos para liderar”. Além disso, logo no início do discurso, ele condenou uma onda de incidentes antissemitas em vários estados americanos e a morte por motivação racista de um indiano em Kansas City.
Mas, de acordo com o diário norte-americano, depois desse começo conciliador, o presidente voltou a apresentar seu repertório de campanha – menos agressivo na forma, mas inflexível na essência.
Segundo a reportagem Trump apresentou os Estados Unidos como um país que defende as fronteiras de outras nações, mas que não têm mais o controle sobre as próprias fronteiras, com imigrantes, criminosos e drogas entrando sem dificuldades. Um país que gasta bilhões de dólares no exterior enquanto a própria infraestrutura desmorona. Um país no qual mais de 90 milhões de pessoas estão sem trabalho e mais de 40 milhões vivem na pobreza enquanto postos de trabalho migram para o exterior. As pessoas nos Estados Unidos se rebelaram contra essa situação catastrófica descrita por ele e contra as prioridades equivocadas da elite, afirmou Trump. Essa rebelião tinha sobretudo um objetivo: fazer com que o governo americano colocasse os interesses dos próprios cidadãos em primeiro lugar. Foi por isso que ele concorreu à presidência, e ele vai manter a sua promessa ao povo americano, assegurou.
Entre os republicanos, o clima era de júbilo; entre a oposição democrata, de um silêncio sepulcral: um símbolo da profunda divisão da classe política nos Estados Unidos – e do país como um todo.
Isso ficou claro já na entrada do presidente no plenário: o aplauso de boas-vindas do lado democrata era contido ou até mesmo nulo. E muitas mulheres entre os democratas vestiam branco, numa referência aos primórdios do movimento pelos direitos das mulheres – e num protesto silencioso contra os reiterados casos de misoginia de Trump bem como seus planos de colocar o juiz federal Neil Gorsuch, inimigo declarado do direito ao aborto, na Suprema Corte
Também outras declarações do presidente, como a redução da regulação na proteção ambiental, a reforma do sistema de educação e sobretudo o fim do Obamacare, há anos demonizado pelos republicanos, não entusiasmaram os democratas, aponta WSJ.
O noticiário observa que em alguns trechos do discurso de Trump, pôde-se ver uma mão estendida para a cooperação com os democratas: por exemplo, quando ele exortou o Congresso a elaborar uma lei de imigração mais ampla. E ele prometeu melhores salários, milhões de novos postos de trabalho e um programa de investimento de dimensões históricas para renovar a infraestrutura dos Estados Unidos, em muitos pontos sucateada.
O periódico destaca, entretanto, que Trump não disse é como pretende pagar por tudo isso: uma ampla modernização da infraestrutura ao longo de muitos anos custará centenas de bilhões de dólares. Além disso, ele voltou a prometer uma redução significativa de impostos, uma das maiores elevações do orçamento militar na história dos Estados Unidos, mais dinheiro para veteranos e mais apoio para a polícia e outros órgãos de segurança. E é claro que não deixou de fora a construção do muro na fronteira com o México, o qual, sozinho, deverá custar 20 bilhões de dólares.
O único indício concreto de financiamento não apareceu no discurso, mas antes dele: já na segunda-feira, a Casa Branca havia anunciado que os recursos para os militares virão sobretudo de cortes na ajuda ao desenvolvimento, na proteção ambiental e no serviço diplomático. Os democratas já se opuseram a essas propostas, finaliza The Wall Street Journal.
Fonte: Jornal do Brasil