Gaitano Antonaccio*
Artigo sobre a urina preta
“Senhor Deus dos Desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! / Se é loucura… se é verdade/ tanto horror perante os céus…
O trecho acima é uma súplica do notável vate Antônio Frederico de Castro Alves, quando defendia a libertação dos escravos no Brasil, no poema que leva o mesmo nome da frase inicial. O Amazonas está precisando, na atual conjuntura, de um clamor idêntico, dirigido ao senhor Deus dos Desgraçados do Amazonas.
Ouvi-nos Senhor Deus! Se não bastasse o grande Estado ter sido um dos mais atingidos pela peste pandêmica conhecida pelo nome sinistro de Covid19, tornando a região por muitos dias, manchete nos principais veículos de comunicação de todo o Universo, pelas inúmeras mortes ocorridas, entre fevereiro a junho de 2020, matando pessoas queridas, saudáveis, que sequer tiveram tempo de entender o porquê de tanta crueldade. E quantos amigos e parentes queridos partiram em tempo recorde, sem que pudéssemos nos despedir ou homenageá-los.
Se não bastasse essa crueldade endêmica, a enchente das águas e afluentes do majestoso rio Amazonas, em 2021, bateu o recorde em quase todos os 62 municípios do Estado, deixando um rastro de destruições nas plantações, de devastação nas palafitas dos ribeirinhos, morte de animais de todas as espécies, além de ativar as mais cruéis doenças tropicais que infestam o Estado, onde algumas, depois de erradicadas costumam retornar com maior intensidade e mortandade, depois desse infalível fenômeno anual.
E assim, o povo do Amazonas, principalmente o sofrido caboclo do interior, quando pensou que o seu sofrimento já tinha cumprido sua dívida com o Senhor Deus dos Desgraçados, volta a enfrentar mais uma tragédia vinda novamente dos seus rios, com a peste que atingiu seus peixes saborosos e conhecidos em todos os recantos do mundo. O famoso tambaqui, dos mais requisitados e consumidos pelos caboclos do interior, começou a matar alguns deles, com um surto de rabdomiólise, uma peste que ao atingir os nossos peixes transferem para os que os consomem, uma doença quase mortal, que começa a enrijecer os músculos, provoca uma cor negra na urina e outros sintomas, que podem levar à morte, como vem ocorrendo em alguns casos.
A FVS – Fundação de Vigilância em Saúde, já registra mais de 60 casos em vários municípios e há uma preocupação muito grande para acalmar o povo e verificar em tempo recorde, se não será preciso deixar de consumir o peixe amazonense sem que sejam realizados alguns cuidados.
Por enquanto a recomendação é a de que não devemos consumir nenhum tipo de peixe, o que sem dúvida afetará a economia do próprio Estado, considerando-se que o amazonense do interior vive quase que exclusivamente da piscicultura. Jamais se poderia pensar em mais essa crueldade na natureza de Deus, contra um povo que já agasalha tantas agruras com o seu clima, com a distância dos maiores centros produtores, e exatamente numa conjuntura em que a inflação volta a campear vitoriosa, graças aos nossos corruptos governantes e parlamentares, que insensíveis, roubando cada vez mais os recursos do erário público, nada fazem a favor do povo, a fim de minimizar os preços da gasolina, do gás, dos medicamentos, dos alimentos, deixando de votar as reformas políticas que poderiam trazer o Brasil de volta para os trilhos da ordem e do progresso.
Os políticos depostos pelo presidente Bolsonaro, que praticavam todos os tipos de roubalheira durante seus governos, não se conformam em não voltar ao poder e nessa luta sem ética, sem pudor, sem lideranças, a mídia canalha se aproveita para vender notícias, perseguir o governo durante 24 horas por dia, gerando mal estar, permitindo que o Poder Judiciário, por meio do STF pratique uma indisfarçável ditadura judicial, desorganizando as regras constitucionais do país, e permitindo por vaidade e ânsia de poder, que o povo perca as esperanças de melhores dias na sua liberdade, no seu bem estar social e no crescimento e desenvolvimento. Usam a caneta como metralhadora e a mídia como tanques blindados, para atacar quem se manifesta a favor da lisura no poder e contra a corrupção que sem deixar de insistir em permanecer, vive ameaçando todas as instituições da Pátria, rumando na duração de um conflito entre os poderes, de proporções inimagináveis.
É nesse cenário instável e sem perspectivas de paz e liberdade, que o Amazonas está enfrentando a impossibilidade de construir o seu próprio destino permitido pela natureza, que é viver do que a natureza lhe permite em abundância, como peixes e frutas.
Piedade Senhor Deus dos Desgraçados do Amazonas, pois estarmos constantemente ameaçados de não poder comer nosso tucumã, nossa pupunha, nosso açaí, e protege o nosso caboclo indefeso, que vive em constante abandono no seu habitat, enfrentando as mais terríveis doenças tropicais.
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; da de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras.