O REBOJO ENTREVISTA deste domingo traz uma conversa com o superintendente da Suframa, general Algacir Antônio Polsin. A entrevista é alusiva ao aniversário de 55 anos da autarquia, que é comemorado em 28 de fevereiro. Cabe esclarecer que o REBOJO conversou com o general Polsin antes do anúncio da pretensão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de diminuir a alíquota do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) em todo o País em até 25%. Portanto, antes da ameaça se tornar realidade por meio de um decreto presidencial publicado no apagar das luzes de uma sexta-feira, véspera do feriadão de Carnaval.
O tema, por isso, não é abordado na entrevista. Ainda assim, entramos em contato com a assessoria do general, que nos enviou uma nota oficial da Suframa sobre a questão, que aqui reproduzimos: “A Suframa acompanha com muita atenção esse tema, e presta assessoramento técnico ao Governo Federal e aos atores locais para contribuir com a macroeconomia do País mas, também, para minimizar impactos neste modelo de desenvolvimento econômico de sucesso para esta região estratégica do País”.
Leia a seguir a entrevista com o general, feita antes de sabermos que a Zona Franca de Manaus iria ser brindada com um presente de grego às vésperas de seu aniversário de 55 anos.
REBOJO – Aos 55 anos, que serão completados no próximo dia 28, o que a Suframa tem para comemorar?
GENERAL POLSIN – A Zona Franca de Manaus é um modelo de desenvolvimento de sucesso no coração da Amazônia, que possibilitou a criação do nosso Polo Industrial de Manaus (PIM), que é o nosso coração pulsante atualmente. E, ao mesmo tempo que esse polo em particular gerou emprego e renda, ele tem em muito contribuído para a manutenção da floresta em pé. Além do Polo Industrial de Manaus, eu lembro que o modelo Zona Franca nasceu da tríade do comércio, indústria e setor agropecuário. O comércio foi muito importante até a década de 90 e contribuiu muito também para o desenvolvimento da região. Essa é a grande vitória do modelo Zona Franca de Manaus em seus 55 anos: desenvolver a região, particularmente Manaus, ao mesmo tempo que gerando emprego e renda para nossa população
REBOJO – O polo industrial está consolidado, gerando mais de 100 mil empregos e, mesmo com a pandemia, os números que a Suframa apresenta representam um sucesso. Como foi possível driblar a pandemia? O que foi feito para que, mesmo com a crise mundial, fossem obtidos esses números positivos, com o PIM faturando, em 2021, o montante de R$ 158,62 bilhões, o que representa um aumento de 31,9% em relação a 2020 e o maior valor de faturamento global na história do PIM?
GENERAL POLSIN – A pandemia só veio mostrar a força e a resiliência do nosso Polo Industrial de Manaus (PIM). Primeiro nós temos que entender que o PIM depende de duas coisas: de uma logística de entrada de insumos, nós temos a dependência internacional bastante grande e temos dificuldade neste período com a disponibilidade de contêineres, inclusive de matéria- prima, fruto da ação da pandemia em todo o mundo. Então essa foi a primeira grande dificuldade que nós enfrentamos. Mas nós dependemos também da demanda. E considerando que 95% da nossa produção vai para o mercado nacional, a demanda do mercado nacional é muito importante para o nosso polo. Mas nós tivemos, mesmo com a pandemia, um aumento da demanda. E esse aumento da demanda foi motivado pelas ações do Governo Federal em todo o Brasil, que permitiu um poder de compra para a nossa população. Ao mesmo tempo, houve as mudanças de hábito da nossa população, que muitas vezes teve que ficar em casa, quis uma melhoria da qualidade de vida, ou teve necessidade de comprar alguns equipamentos para trabalhar em casa ou para fazer estudo remoto. E aí teve também a parte de duas rodas, seja delivery ou seja até mesmo o transporte de uma forma mais segura. Então houve, por esses motivos, um aumento da demanda. E aí vem toda a capacidade do nosso polo industrial, que teve resiliência para continuar atendendo esse aumento da demanda e mantendo a segurança para os seus funcionários. Então, isso tudo contribuiu para que nós tivéssemos resultados extremamente satisfatórios. Para você ter uma ideia, ano passado nós tivemos um aumento de 32% no faturamento nominal do PIM. Mais de 158 bilhões de reais, atingindo uma meta histórica. Nós mantivemos uma média de 103 mil empregos aqui no PIM durante todo o ano, o que é muito satisfatório
REBOJO – O senhor falou na questão da dificuldade com os insumos, do transporte marítimo, da escassez de contêineres. Tudo isso é um grande gargalo na produção industrial não só aqui, mas em todo o mundo. E por causa dessa dificuldade houve aumento também nos valores cobrados e isso vem impactando no valor dos produtos. A Suframa tem planejado alguma ação para reduzir esse impacto?
GENERAL POLSIN – Isso aí já passa para lei de livre mercado. Então é natural. A própria variação cambial do dólar afeta o custo dos produtos e acaba afetando também o preço do bem final. A inflação no nosso País, os custos logísticos que aumentaram durante esse período, tudo isso acaba impactando. Por um lado, em algum momento acaba impactando negativamente. Por outro lado, à medida em que a logística internacional for se estabilizando pode, também, contribuir positivamente.
REBOJO – O senhor acha que incentivar a transferência de tecnologia para cá seria uma das saídas?
GENERAL POLSIN – Eu entendi a sua pergunta como sendo uma pergunta de ações a curto prazo, mas a médio e longo prazo medidas técnicas estão sendo tomadas. Temos buscado mudar marcos legais da Zona Franca de Manaus com o intuito de atrair novas empresas, novos investimentos e reduzir os custos para as empresas que estão aqui localizadas. Um exemplo bastante prático é Resolução 02 do ano passado, que permite benefício fiscal para aquelas indústrias que fazem beneficiamento de material regional de origem vegetal ou agrícola em toda a Amazônia Ocidental. São as nossas bioindústrias e agroindústrias que, a partir de agora, não pagam IPI e também ficam com crédito presumido desses produtos sempre que têm seus projetos aprovados na Suframa. Nós também fizemos outras mudanças nos marcos legais, facilitando o ambiente de negócios aqui na região. Fizemos acordo de cooperação técnica com juntas comerciais com o intuito de facilitar a vida dos empresários, das empresas e isso acaba refletindo em redução de gastos e acaba impactando a longo prazo também nos preços para o consumidor.
REBOJO – A infraestrutura viária do Distrito Industrial melhorou bastante com a parceria na execução das obras pela prefeitura de Manaus. Que outras parcerias o senhor vislumbraria que poderiam ser feitas com o poder público municipal e estadual para agregar nas estruturas do PIM e da Zona Franca de Manaus?
GENERAL POLSIN – Nós estamos abrindo uma série de projetos de desenvolvimento regional. E esses projetos nós entendemos que devemos fazer de maneira integrada, em parceria com inúmeros atores, da esfera federal, estadual, municipal, com a iniciativa privada e também com o mundo acadêmico. Eu destacaria aí a Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, no Sul do Amazonas, noroeste de Rondônia e Leste do Acre, as cidades inteligentes de Manacapuru e Silves e outros projetos, no entendimento que nós temos que buscar algumas áreas, algumas mesorregiões, alguns municípios e alguns projetos para ali criar sinergia entre os diversos atores e potencializarmos aquela área. Na medida em que aquela área caminhar sozinha, a gente vai replicar esses modelos de sucesso para outras áreas. Um caso bastante pragmático é aqui do PIM em que nós começamos essa revitalização com recurso da bancada parlamentar federal e conseguimos uma parceria muito produtiva com a Prefeitura de Manaus, conseguindo levar a termo esse asfaltamento e, junto a ele, a melhoria das condições de segurança, de iluminação pública e de paisagismo também. Mas nós vamos prosseguir nesse sentido com o projeto Mais Distrito, da prefeitura municipal, que vai agregar uma série de outros atores aqui no PIM. E há outros projetos aí em vista para melhorar cada vez mais o nosso Distrito Industrial e possamos tê-lo como um exemplo de sucesso, um orgulho para a população de Manaus e que contribua para a atração de novos investimentos. Nós temos também outras ações, como o nosso Biodistrito Agroindustrial no Rio Preto Da Eva, o nosso processo licitatório de novos lotes no Distrito Agropecuário do Distrito Industrial, que vão possibilitar a atração de novos investimentos para a nossa região.
REBOJO – O senhor citou a Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, que foi criada no ano passado em parceria com a Sudam e vai envolver três estados e dezenas de municípios do Amazonas, Acre e Rondônia. Que produtos podem ser incentivados nessa ZDS e quando, efetivamente, ela vai entrar em funcionamento?
GENERAL POLSIN – A Zona de Desenvolvimento Sustentável não envolve somente a parte da produção. Com a Resolução 02, ela já está implantada. Bioindústrias e Agroindústrias de toda a Amazônia Ocidental, incluindo os 32 municípios da Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, já podem concorrer a terem a aprovação de projetos e benefício fiscal. A partir daí, nos agregamos valores aos produtos e permitimos que exista uma cadeia produtiva daquele bem do setor primário, que venha a gerar emprego e renda para a população da área. Mas a ZDS Abunã-Madeira é muito mais do que isso. Nós temos ali 13 eixos temáticos que passam pela bioeconomia, por energia renovável, por turismo, por segurança, para uma área, uma série de áreas, onde nós pretendemos melhorar a qualidade de vida da população daquela região, gerar empregos e contribuir para a manutenção da floresta em pé. Formar ali, um cinturão de proteção da floresta, mas entendendo que mais do que a árvore em pé, nós temos ali uma população que precisa de uma melhoria da sua qualidade de vida.
REBOJO – Em relação a escoamento e também à chegada de insumos, qual a importância da BR-319? A Suframa faz alguma pressão, digamos assim, junto ao Governo Federal para que ela seja efetivamente reativada, pavimentada, já que o trecho do Meio continua bem prejudicado e de bem difícil tráfego?
GENERAL POLSIN – Nós entendemos que a logística e a infraestrutura da Amazônia tem que ser melhorada em muito. Nos entendemos a característica, a idiossincrasia, da nossa região Saindo aqui da nossa região, onde muitas vezes nós contamos os tempos de distância, de deslocamento, por dias e não por horas. Temos a perfeita noção disso e não temos dúvidas da importância do asfaltamento da BR-319. Ela é fundamental para o ir e vir da nossa população nessa região tão estratégica do nosso País e também muito contribuirá para a nossa logística não só do PIM, mas para a nossa população da área como um todo. Nós, constantemente, apoiamos tecnicamente, assessoramos tecnicamente, todos os atores que possam tomar decisões, basicamente aquelas que atendam os interesses econômicos da região. Então, esse nosso assessoramento técnico é ao Governo Federal. Principalmente por meio da economia, mas também às bancadas parlamentares, às entidades de classe ligadas à indústria e ao comércio, e também ao Governo do Estado do Amazonas. Eu acredito que isso é muito importante, que nós juntemos todas as nossas forças para fortalecemos esse pleito de conseguimos esse tão almejado asfaltamento da nossa BR-319.
REBOJO – Indubitavelmente, o advento da criação da Suframa e da Zona Franca de Manaus foram fundamentais para que, ao longo desses mais de 50 anos, o Amazonas conseguisse preservar a maior parte da sua floresta. O que pode ser feito para convencer políticos empresários, e até imprensa do Sul e Sudeste, da importância desse modelo e da necessidade de preservação dos incentivos que ele fomenta e traz?
GENERAL POLSIN – A primeira coisa é a divulgação do modelo, que é pouco conhecido no Centro-Sul do País. Muitas vezes as pessoas ainda lembram e pensam que a Zona Franca de Manaus é aquela da década de 80, quando vinham aqui comprar videocassete. Então nós temos que divulgar as características do modelo, temos que divulgar a contribuição do modelo para a manutenção da floresta em pé. Nós temos que mostrar o quanto o PIM contribui também com a geração de emprego e renda em todo o nosso País. E a Suframa tem buscado contribuir nesse sentido. Então nós fizemos, por exemplo, no ano passado uma jornada de incentivos fiscais mostrando a importância de fazer comércio com a região, quais são os benefícios. Tivemos a participação de todos os Estados, mais de cinco mil pessoas inscritas. Nós temos feito viagens prospectivas para outros Estados, justamente para mostrarmos as características do modelo para os diversos atores desses Estados. E nós vemos como uma janela de oportunidades também um projeto que que nós estamos lançando agora no aniversário da Suframa: o Zona Franca de Portas Abertas, com o qual nós pretendemos abrir as portas de algumas indústrias para receber visitações. São vários objetivos. Um deles é contribuir com o turismo aqui na região. E contribuindo com o turismo, nós contribuímos com outros serviços e com a hotelaria. Mas nós também queremos levar a população de Manaus e os nossos órgãos para conhecerem as fábricas, despertamos vocações. E o terceiro objetivo vem ao encontro da tua pergunta: é que nós levemos também às fábricas os formadores de opinião para que eles conheçam as características das nossas fábricas, que são ambientalmente adequadas à região, não trazendo poluição e trazendo benefícios para toda a população.
REBOJO – Um outro equívoco que é imaginado fora daqui, no Centro-Sul do País, é que a ZFM abrigaria fábricas de maquiagem. A Suframa tem algum plano também, algum projeto, para desmistificar essa noção?
GENERAL POLSIN – Eu acredito que essa seja uma noção mais antiga. Mas, o próprio projeto Zona Franca de Portas Abertas já traz uma desmitificação dessa característica. A hora que nós mostramos a verticalização de várias fábricas que nós temos aqui, mostramos como os famosos PPBs, Processos Produtivos Básicos das indústrias, provamos que isso não está acontecendo, que as fábricas estão atendendo as etapas mínimas impostas pelo Governo Federal para a fabricação aqui na região. Também esse projeto Zona Franca de Portas Abertas permite à gente mostrar como as empresas conseguem fomentar a geração de emprego e renda, porque dependem da produção da sua matéria-prima em outros municípios aqui da região.