Proibida de receber de clientes nos EUA, estatal da Venezuela exige pré-pagamento de petróleo

CARACAS — Proibida de receber pagamento de compradores nos Estados Unidos, de acordo com as sanções anunciadas na segunda-feira pelo governo de Donald Trump, a petrolífera estatal da Venezuela, a PDVSA, ordenou que seus clientes que esperavam para encher navios de petróleo destinado aos EUA pagassem pelo produto antes da partida, segundo a agência Reuters. As sanções, que também impedem a subsidiária da PDVSA nos EUA, a Citgo, de repassar seus lucros para a matriz, visam asfixiar o regime de Nicolás Maduro e obrigá-lo a ceder o poder a um governo de transição chefiado pelo líder opositor Juan Guaidó.

Apesar da tensão política existente entre Washington e Caracas desde o governo de Hugo Chávez (1999-2013), antecessor de Maduro, os Estados Unidos continuavam sendo o maior cliente do petróleo venezuelano. As vendas, que já foram maiores, eram de cerca de 500 mil barris por dia antes das sanções, ou um terço da produção diária da PDVSA. No entanto, representavam uma parcela maior da renda em divisas da estatal, já que boa parte do petróleo enviado para a China, a segunda maior cliente, destina-se ao pagamento de empréstimos feitos por Pequim à Venezuela.

As três principais clientes do petróleo venezuelano nos Estados Unidos são a Chevron, a Valero e a própria Citgo. De acordo com a agência Bloomberg, as sanções anunciadas na segunda-feira dão a esses compradores um prazo até 29 de março para reduzir as compras da PDVSA e pôr fim aos contratos em vigor. Nesse período, qualquer pagamento destinado à estatal venezuelana terá que ser depositado em contas especiais nos EUA. A Citgo, baseada em Houston, poderá continuar operando, mas seu dinheiro também ficará bloqueado em uma conta nos EUA.

Além de não poderem comprar petróleo venezuelano, as empresas americanas também ficarão proibidas de exportar petróleo leve para a Venezuela, do qual a PDVSA precisa para diluir o óleo pesado de suas reservas, que são as maiores do mundo. Isso também afetará a capacidade exportadora da estatal venezuelana, ainda que ela consiga clientes que substituam o mercado americano.

Com a perda do mercado americano, a PDVSA terá que vender com desconto para refinarias de China e Índia que têm capacidade de beneficar petróleo pesado e hoje trabalham com o produto bruto vindo do Oriente Médio, disseram analistas do setor.

— A PDVSA terá uma queda significativa em seu fluxo de caixa. Terá que vender seus barris com desconto para conseguir deslocar o produto cru do Oriente Médio usado hoje por essas refinarias. Isso também implicará custos extras de transporte — disse à TV americana CNBC Risa Grais-Targow, diretora para a América Latina da consultoria política Eurasia.

A Venezuela era o quarto país fornecedor de petróleo aos EUA, depois de Canadá, Arábia Saudita e México. De acordo com o Financial Times, o bloqueio ao petróleo venezuelano deverá aumentar os custos e reduzir as margens de lucros das refinarias americanas, mas Sam Margolin, um analista da Wolfe Research, disse que a situação é administrável, exceto para a Citgo, que consumia basicamente petróleo venezuelano.

Já Anas Alhajii, analista de petróleo, disse ao jornal econômico britânico que a PDVSA pode dar um jeito de contornar as sanções vendendo o petróleo a intermediários, que o revenderiam aos Estados Unidos.

— É difícil monitorar. O petróleo venezuelano pode acabar nos Estados Unidos, e o regime de Maduro será pago por terceiros que atuarão como intermediários, vendendo o produto com novo rótulo de origem — disse ele.

Na Venezuela, empresas mercantes com navios petroleiros ancorados nos portos do país disseram que pode ser difícil para os clientes americanos fazer o pagamento antecipado, como pede a PDVSA, já que, segundo as sanções, qualquer dinheiro destinado à estatal tem que ser depositado em contas especiais nos EUA.

Em Moscou, o vice-ministro de Finanças da Rússia, Sergei Storchak, destacou que a Venezuela “provavelmente” terá problemas em pagar suas dívidas com a Rússia após as sanções dos EUA contra a PDVSA. Moscou e a petrolífera russa Rosneft entregaram a Maduro pelo menos US$ 17 bilhões em empréstimos e linhas de crédito desde 2006. A Rússia, que considerou as novas restrições “ilegais”, espera o próximo pagamento de débito, de US$ 100 milhões, no fim de março.

De acordo com o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, as sanções podem resultar numa queda de US$ 11 bilhões nas vendas de petróleo da PDVSA neste ano.

Fonte: O Globo