A regionalidade e a tradição amazônica são fontes de inspiração e de matéria-prima também nos processos pedagógicos da Prefeitura de Manaus.
Um belo exemplo é a iniciativa do professor de educação física Wanderlan Mota, 55, que produz e utiliza instrumentos esportivos feitos com materiais encontrados na natureza, inovando no método de aprendizado de alunos da escola municipal Padre Sebastião Luiz Barbosa, no Japiim, zona Sul, onde atua há cinco anos. A intenção é ampliar o processo para outras unidades de ensino da rede pública municipal.
Trave de futebol, rede de vôlei, peão, carrinho de rolimã, raquetes, patinete, boliche, bambolê, bola, perna de pau e diversos outros itens são produzidos em casa, pelas próprias mãos de Wanderlan, que também é artesão. Como matéria-prima, o educador utiliza cipó, sementes, ouriços de castanha e até madeira descartada pela natureza, após tempestades e ventanias na floresta.
“Tudo está dentro da floresta. Estamos no maior centro de biodiversidade do mundo, então nossos alunos não precisam usufruir somente de equipamentos industriais para poder desenvolver sua saúde física”, destacou o profissional, que é servidor da Secretaria Municipal de Educação (Semed) há 30 anos, acrescentando que encontra os materiais de produção durante suas viagens pela Amazônia.
O dom veio de seu pai, que também era artesão e ensinou todas as técnicas ao filho. Isso se uniu à sua graduação em educação física e seu mestrado em Meio Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia. De lá para cá, já são 25 anos de união entre atividade física e valorização da cultura amazônica.
Na escola Padre Sebastião Luiz, Wanderlan dá aula para turmas do ensino fundamental. Ele explicou que, do 1º ao 4° ano, as crianças recebem atividades que contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora fina, lateralidade e sociabilidade, por meio de brincadeiras lúdicas. Isso faz com que, ao chegar no 5° ano, os estudantes já estejam preparados fisicamente para atividades desportivas, como futebol, tênis, vôlei, basquete, entre outras.
Segundo a subsecretária de Gestão Educacional da Semed, Euzeni Trajano, a dedicação do corpo docente é fundamental e merece todo reconhecimento. “É satisfatório saber que nossos educadores são participativos e inovadores no processo educacional do município. A iniciativa do professor Wanderlan está bem alinhada à política ambiental do prefeito Arthur Virgílio Neto, uma das vozes mais expressivas do Brasil em defesa da Amazônia”, ressaltou.
Por conta da pandemia do novo coronavírus, as aulas presenciais na rede municipal foram suspensas em março. Mas, mesmo assim, Wanderlan continuou produzindo os materiais na oficina da sua casa. Além disso, ele também passou a produzir vídeos com aulas para que os alunos possam fazer exercícios em casa. Nesse processo, os estudantes também fabricam os instrumentos, usando jornal impresso, meias e panelas. Segundo o professor, “o importante é mantê-los em movimento”, comentou.
Ampliação
O projeto de utilização de materiais amazônicos, implementado por Wanderlan Mota, pode ser expandido para outras disciplinas e, até mesmo, fazer parte da metodologia educacional de escolas da rede municipal. A ideia é difundir o consciente coletivo de preservação a natureza, reforçando as ações já existentes do município.
Segundo coordenador de Esportes da Semed, Ronnie Melo, a expansão já está sendo estudada. “Ele usa esses materiais alternativos de forma consciente. É uma proposta boa que pretendemos multiplicar, para que outros alunos possam abraçar e contribuir”, disse Ronnie, destacando que os instrumentos podem ser utilizados nas Municipíadas.
Sendo escritor com cinco obras lançadas, Wanderlan já produziu seu sexto livro, contendo orientações a outros profissionais de educação, sobre a produção dos equipamentos. O material deve ser lançado até dezembro deste ano e servirá como capacitação para os demais educadores da secretaria.
“O corpo é movimento, desde quando se nasce até o fim da vida, e a tendência é dar continuidade a esse trabalho. Temos que fazer com que as crianças tenham prazer no desporto. Fazer com que se movimentem, sejam alunos da educação tradicional e da especial. Todos devem fazer parte do processo”, finalizou Wanderlan.