Pouco mais de um mês após assumir, no dia 1º de janeiro, o posto de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres deu partida a um mandato de cinco anos enfrentando crises globais de terrorismo, refugiados, mudanças climáticas e conflitos armados na Síria, Iêmen, Sudão do Sul, Líbia e outros países. As informações são da agência de notícias chinesa Xinhua.
O ex-chefe da agência de refugiados da ONU tem que lidar com o pouco interesse no multilateralismo demonstrado recentemente por alguns líderes ocidentais. Entretanto, Guterres, mediante árduo trabalho e sabedoria política, tem provado estar qualificado para exercer a tarefa de “moderador mundial,” como previsto pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Franklin D. Roosevelt, um dos idealizadores da Organização das Nações Unidas, em 1945.
É consenso que Guterres enfrenta hoje desafios muito mais sérios que os seus predecessores. A crise dos refugiados tem assumido grandes proporções, e a ONU calcula que uma em cada 113 pessoas no mundo hoje é um refugiado. O terrorismo é outro pesadelo, que tem causado distúrbios e pânico generalizado em todo o mundo.
Além disso, a xenofobia e o racismo estão ganhando impulso em alguns países e regiões, diminuindo o papel do multilateralismo. Do ponto de vista ambiental, as mudanças climáticas, o aumento da população, o desmatamento, a poluição e a escassez de recursos naturais e água aumentam a problemática e as turbulências globais.
Apelo à paz
Em seu primeiro dia no comando da ONU, Guterres prometeu fazer de 2017 um ano para a paz. “Peço a todos que se juntem a mim para fazer uma resolução compartilhada de Ano-Novo: vamos colocar a paz em primeiro lugar,” disse.
Apelando para que o mundo “se esforce para superar as diferenças,” Guterres, de 67 anos, terminou sua mensagem com uma nota sobre a responsabilidade pessoal, dizendo: “Tudo o que nós nos esforçamos para dar às famílias – dignidade e esperança, progresso e prosperidade – depende da paz, mas a paz depende de nós.”
O apelo do chefe da ONU ganhou aplausos, na medida em que o mundo está sendo despedaçado por ataques terroristas aqui e ali, comentou Liu Tiewa, vice-diretora do Centro de Pesquisa das Nações Unidas e Organizações Internacionais da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim. “O que o mundo mais precisa é paz,” disse ela.
Prevenção de conflitos
Desde que assumiu, Guterres destacou a necessidade de novos esforços para construir e sustentar a paz, com prevenção e resolução de conflitos de modo sustentável. “Nós gastamos muito mais tempo e recursos para responder às crises do que as impedir. Precisamos de uma abordagem totalmente nova,” ressaltou ele em um debate do Conselho de Segurança da ONU sobre a prevenção de conflitos e a manutenção da paz.
De acordo com o chefe da ONU, a maioria dos conflitos atuais ainda eram essencialmente internos, antes que rapidamente assumissem conotações regionais e transnacionais. Eles foram alimentados pela competição por poder e recursos, desigualdade, marginalização e exclusão, má governança, instituições fracas e divisões sectárias.
Além disso, os conflitos têm sido acentuados pelas mudanças climáticas, crescimento populacional e globalização da criminalidade e do terrorismo, disse ele, acrescentando que, com tantos fatores em curso, foi preciso muito pouco para tornar global uma crise que poderia envolver apenas um país ou uma região, a exemplo do que ocorreu na Síria.
Guterres informou ter nomeado um assessor especial em política para mapear as capacidades de prevenção do sistema das Nações Unidas e reuní-las em uma plataforma integrada para a detecção precoce de crises e ação corretiva. “Precisamos de uma resposta global que aborde as causas profundas dos conflitos para integrar a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos de uma forma holística – da concepção à execução.”
“Nossa prioridade é a prevenção – prevenção de conflitos, dos piores efeitos de desastres naturais e de outras ameaças causadas pelo homem ao bem-estar das sociedades,” ressaltou, observando que o melhor meio de prevenção para sustentar a paz é a inclusão e o desenvolvimento sustentável.
Construindo parcerias
A importância da construção de parcerias foi outro ponto enfatizado por Guterres. Em seu primeiro discurso na União Africana (UA) desde que tomou posse, em 30 de janeiro, ele ressaltou a importância de uma parceria estratégica entre a UA e a ONU para construir o desenvolvimento sustentável e promover a paz e a segurança no continente.
É fundamental construir uma nova geração de parcerias com os governos, a sociedade civil, as organizações regionais, as instituições financeiras internacionais, o mundo acadêmico e a comunidade empresarial e implementar uma agenda de ação sobre o financiamento do desenvolvimento, afirmou. ele então.
Dirigindo-se ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, no dia 19 de janeiro, Guterres também pediu uma nova geração de parcerias com a comunidade empresarial para limitar o impacto das mudanças climáticas e reduzir a pobreza. Ele destacou os negócios como os “melhores aliados” para proteger o acordo climático de Paris “da possibilidade de uma ação menos favorável de alguns governos.”
Reforma da ONU
Guterres disse que “a ONU deve estar pronta para mudar” para responder aos desafios mundiais, reconhecer suas deficiências e reformar sua maneira de trabalhar. “Precisamos criar um consenso em torno da simplificação, descentralização e flexibilidade. Não beneficia ninguém demorar nove meses para enviar um membro para o campo,” afirmou.
Além disso, ele prometeu promover a igualdade de gênero entre a alta administração das Nações Unidas, dizendo que espera que, ao final de seu mandato, a ONU alcance a paridade de gênero completa em seus cargos de alto nível.
Como parte de sua agenda de reformas, Guterres tornou prioritária que a ONU tenha uma política de proteção aos delatores que atenda aos mais altos padrões possíveis, e o plano atualizado visa assegurar que a organização funcione de forma mais aberta, transparente e justa. “Estou plenamente consciente dos desafios que a ONU enfrenta e das limitações que cercam o secretário-geral,” disse.
AGÊNCIA XINHUA