Hamburgo voltou a pegar fogo nesta sexta-feira, primeiro dia da cúpula que reúne os líderes das 20 principais economias industrializadas e emergentes do planeta. O balanço preliminar do evento é de 30 detidos e mais de 100 policiais feridos, e não há previsão de que a violência nas ruas diminua durante o fim de semana. A polícia local, que mobilizou quase 20.000 agentes, precisou pedir reforços nesta sexta para fazer frente a um pequeno grupo de militantes ditos “autônomos”, dispostos a fazer a cidade arder. A maioria das quase 10.000 pessoas que participam das passeatas de quinta e sexta-feira age de forma pacífica.
A concentração dos manifestantes foi marcada para as 7h desta sexta-feira (2h em Brasília), junto ao porto de Hamburgo, o principal do país. Um grande número de ativistas percorreu desde o começo da manhã o centro da cidade, no norte da Alemanha, após uma noite turbulenta. O objetivo declarado era bloquear os pontos de acesso à cúpula do G20, que se reúne na sexta e no sábado na cidade – um evento que inclui o primeiro encontro pessoal entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, e que tem em sua pauta outros temas relevantes, como livre comércio, mudança climática e segurança.
Grupos de jovens vestidos de preto, muitos com capuzes ou máscaras, caminhavam por volta das 8h30 por uma das ruas do centro. Outros preferiram sair fantasiados de palhaços. “Viemos porque é preciso dizer aos líderes do G20 que não estamos de acordo com suas políticas”, afirmou um jovem, vindo da Suíça com sua namorada. Alguns quarteirões adiante, em outra esquina, universitários oriundos de várias cidades alemãs se dirigiam para a frente da manifestação. “Precisávamos estar aqui”, dizia, convicta, uma garota loira com o rosto cheio de piercings.
Segundo a agência de notícias DPA, a mulher de Donald Trump, Melania, não pôde sair do local onde se hospeda por causa das manifestações, e por isso perdeu um passeio pela cidade oferecido aos cônjuges dos mandatários.
A reunião do G-20 em Hamburgo se transformou em um evento altamente simbólico para a esquerda radical europeia, que se considera parte de um movimento de protesto em busca um novo despertar. Trump, Putin e Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, são alguns dos convidados mais execrados pelos manifestantes, que reivindicam acordos globais mais justos e uma distribuição mais equitativa das riquezas.
A cidade amanheceu novamente deserta, com exceção da presença policial ostensiva. O barulho dos helicópteros é onipresente. Dezenas de furgões policiais se enfileiram nas imediações do pavilhão que recebe a cúpula e dos hotéis onde os mandatários se hospedam. As medidas de segurança, porém, não impediram a eclosão de choques violentos.
Uma nuvem negra pairava sobre a cidade pela manhã. A fumaça da queima de carros e do mobiliário urbano se misturava ao gás lacrimogêneo, formando uma nuvem tóxica. O temor de que os protestos escapem ao controle ou que haja mortes, como aconteceu em 2001 em Gênova, está muito presente.
Em um dos acessos à cúpula, dezenas de jovens sentaram-se no chão em atitude de confronto com a polícia. Pelos alto-falantes dos manifestantes emanava a todo volume canções de hip hop com letras contra “a autoridade” e “o capitalismo”. Em outra esquina, observando com surpreendente tranquilidade, um casal de aposentados passava o tempo. “Não imaginávamos que isto fosse terminar assim. Mas é muito importante que estas cúpulas sejam realizadas, a economia internacional precisa delas”, diz o homem, um comerciante aposentado, de cabelos brancos.
Já dentro do recinto da cúpula, Christian Ils saía sorridente de uma carceragem próxima à sala de convenções. Esse jovem berlinense havia sido detido uma hora antes e, segundo sua versão, foi liberado por falta de espaço no centro de detenção. As autoridades de Hamburgo preparam nas últimas semanas uma prisão provisória para alojar os detidos da cúpula. “Tiraram os nossos escudos de proteção e nos soltaram”, relatava Ils, formado m Direito, que levava a tiracolo uma sacola de tecido com os dizeres “Não ao G20”, uma palavra de ordem dos manifestantes. Nesta noite, dormirá junto a uma igreja com outros amigos vindos de Berlim.
A grande prova de fogo será na amanhã de sábado, quando está prevista a grande manifestação de encerramento, com a presença esperada de 100.000 pessoas.
Fonte: El País