Pesquisa da Fiocruz na Amazônia é tema de documentário da BBC

Pesquisa da Fiocruz na Amazônia é tema de documentário da BBC. O documentário “Forest fear” aborda o surgimento de novas doenças e ressurgimento de outras, a partir do desmatamento da floresta, linha de estudo da pesquisadora Alessandra Nava.

Pesquisa da Fiocruz na Amazônia é tema de documentário da BBC.

Os estudos realizados pela pesquisadora Alessandra Nava, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), sobre o monitoramento de animais silvestres e o novo coronavírus, integram o documentário da rádio britânica BBC, que pode ser conferido no endereço: https://www.bbc.co.uk/sounds/play/w3ct379c. O documentário, intitulado “Forest fear” (O medo da floresta, em português), é conduzido pela jornalista ambiental, Lucy Jordan, e tem como narrativa-guia o surgimento de novas doenças e ressurgimento de outras, a partir do desmatamento da floresta, linha de estudo das pesquisas desenvolvidas por Alessandra Nava. O documentário foi lançado no site da rádio BBC, no último dia 8/1.

“A Amazônia é um lugar de alta biodiversidade, desde fauna e flora, e com grandes alterações ambientais, como desmatamento, redução das florestas urbanas, no caso de Manaus, e isso traz consequências para a saúde. A nossa linha de pesquisa é voltada ao one health (saúde única), ou seja, no entendimento de que a doença dos animais e dos humanos está associada”, explica Nava.

O projeto – que conta com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) – é realizado em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) por meio do projeto “Sauim-de-Coleira”; o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Manaus, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra); e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Conforme Alessandra, o monitoramento ativo é desenvolvido com morcegos, primatas e roedores, coletados na floresta – Cetas, áreas da Ufam, florestas preservadas, além do assentamento Rio Pardo, na BR-174 (Manaus-Boa Vista), no município de Presidente Figueiredo (a 126 quilômetros da capital). Os trabalhos de coleta duram em média 20 dias. De cada espécie são coletadas amostras para detecção de bactérias, vírus e patógenos diversos. O material integra o biobanco da vida silvestre, que dispõe de mais de 200 animais amostrados.

“No biobanco guardamos amostras de animais de difícil acesso, alguns de espécies ameaçadas, um exemplo é o sauim-de-coleira, um dos primatas mais ameaçados do planeta. A coleta de amostras despende tempo e dinheiro e com o biobanco temos material de uma forma perfeita, dentro de um protocolo ideal, que pode servir para diversos estudos futuros”, informa.

Ela destaca que o primordial é saber quais patógenos circulam nos animais, e como as alterações ambientais estão contribuindo para isso. Esse estudo é essencial para realizar o planejamento em saúde pública e vigilância.

“Nesse monitoramento ativo, estamos verificando desde o novo coronavírus a outros patógenos. Esse monitoramento deve ser realizado continuamente para que não haja nenhuma surpresa mais à frente. Pois há o perigo também do homem transmitir Sars Cov-2 como outros patógenos para a fauna”, observa.

VIABILIDADE

De acordo com Nava, o estudo com morcegos, primatas e roedores se dá pelo fato dessas espécies auxiliarem na mostra de um painel da diversidade viral. Morcegos, comenta a pesquisadora, são reservatórios competentes para várias doenças, além de apresentarem características evolutivas e imunológicas e dificilmente adoecerem, e conviverem com vários patógenos não só virais, mas bacterianos e fúngicos.

“Eles não são fontes de doença, são animais importantíssimos para o planeta e fazem serviços ecossistêmicos maravilhosos, mas pelas características inerentes a espécie, eles podem albergar diversos vírus, não necessariamente passando para a gente. São espécies sentinelas muito importantes, em que a gente pode verificar a prevalência de doenças nessa população e se preparar para caso aconteça alguma coisa”, pontua.

O estudo com primatas, continua Nava, se dá pelo fato de que eles têm característica filogeneticamente muito próxima às do humano. Já os roedores, por serem abundantes, estão praticamente no mundo todo, também são reservatórios competentes, não tanto quanto os morcegos, ressalta Alessandra.

EVIDÊNCIA

Nos últimos dois anos as pesquisas de monitoramento de animais silvestres e o novo coronavírus ganharam visibilidade em inúmeras televisões do mundo, segundo Alessandra Nava.

“A mídia especializada e os cientistas sabem que a próxima pandemia pode vir de um local com alta biodiversidade e alta pressão antrópica, e aqui a gente sabe que o desmatamento aumentou muito, por vários motivos. Aqui temos vários fatores que podem contribuir para isso. Daí essa procura pelos estudos que estamos realizando, por saber que estamos fazendo algo pelo planeta”, conclui.

SOBRE A PESQUISADORA

Doutora em “Epidemiologia experimental e Aplicada à Zoonoses”, pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), a pesquisadora Alessandra Nava é bolsista do ILMD/Fiocruz Amazônia, desde 2014, e atua principalmente nos seguintes temas: ecologia de doenças infecto contagiosas, doenças emergentes, saúde pública, medicina da conservação, epidemiologia, biologia da conservação e enfermidades infecciosas.

Fotos – Divulgação / ILMD Fiocruz Amazônia