Trump se reúne com Theresa May para conversas sobre Brexit e Huawei

LONDRES — No segundo dia de sua visita oficial ao Reino Unido, Donald Trump tem encontro oficial com a primeira-ministra demissionária Theresa May , que deixará a liderança do Partido Conservador na sexta-feira, e deverá demandar que o próximo premier britânico não utilize tecnologia da companhia chinesa Huawei na implantação de sua rede de telefonia 5G. Nas ruas de Londres, milhares já protestam contra a visita do líder americano.

Após participar de um banquete promovido pela rainha Elizabeth II e pelo príncipe Charles no primeiro dia no Reino Unido, a visita de Trump discute os temas subtanciais da relação bilateral nesta terça-feira.

O dia começou com uma reunião de negócios no Palácio Saint James com a presença de empresários britânicos e americanos e membros de ambos governo. Durante o final da manhã, o presidente participa de um encontro oficial com Theresa May em Downing Street, residência oficial da premier. Após a conversa, os líderes darão de uma entrevista coletiva.

Ao chegar em sua primeira reunião pela manhã, Trump disse que as conversas resultarão em um “acordo comercial bastante substantivo” após a concretização do Brexit. O americano disse ainda que May tem feito um “trabalho fantástico” e que “não deveria sair de cena”. Apesar dos elogios desta manhã, ao longo dos meses, Trump criticou repetidamente a postura da primeira-ministra de buscar um acordo com a União Europeia.

A primeira-ministra britânica anunciou sua renúncia no final do mês passado, após consecutivas derrotas parlamentares do plano que apresentou para a saída britânica da União Europeia.

Em dezenas de milhares de manifestantes são esperados na Trafalgar Square, em Londres, onde há protestos programados contra a visita oficial. Uma pesquisa realizada pelo instituto YouGov em parceria com a Universidade Queen Mary mostra que 54% dos londrinos são contrários à viagem do presidente americano — apenas 24% manifestaram opiniões favoráveis. O boneco inflável que retrata Trump como um bebê de fraldas, imagem que ficou famosa na visita oficial do ano passado, também foi erguido na praça londrina.

Brexit e China

É esperado que Trump e May discutam assuntos comerciais, de política externa, como o Irã, e de segurança, especialmente no contexto do Brexit: o Reino Unido busca um acordo bilateral com Washington, mas a saída iminente da premier britânica pode dificultar maiores progressos.

Antes mesmo de desembarcar, Trump elogiou Boris Johnson, eurocético favorito a assumir o posto de May, e disse que o Reino Unido deverá sair da União Europeia com ou sem acordo. O americano também incentivou o ultraconservador Nigel Farage, adversário do Partido Conservador, de situação, a participar de conversas com o Bloco Europeu.

O fracasso de May em negociar a saída da EU e a predileção de Trump por ignorar as regras diplomáticas fazem com que esta seja uma das visitas de Estado menos tradicionais das últimas décadas. A recepção tinha sido prometida por May em janeiro de 2017, quando foi a primeira chefe de governo a se reunir com Trump após sua posse presidencial. Até nos temas menos superficiais da viagem, no entanto, há problemas.

O Reino Unido, e especialmente os defensores do Brexit, apostam em uma relação comercial fortalecida com os Estados Unidos, possivelmente com um acordo de livre comércio, depois que a saída do país da UE se concretizar. No entanto, como o protecionismo tem sido a marca do governo de Trump, que abriu guerras comerciais com vários países, analistas vêm advertindo para os riscos da aposta dos britânicos, afirmando que Washington pode impor a Londres um acordo desfavorável.

A visita de Trump também será marcada pelas pressões americanas para que Londres não permita que a companhia chinesa Huawei participe da implantação da rede de telefonia 5G no Reino Unido. O governo americano vem ameaçando deixar de repassar informações de inteligência para os britânicos — que fazem parte da Aliança Cinco Olhos com Austrália, Canadá e Nova Zelândia — caso a maior companhia chinesa de tecnologia de comunicação tenha permissão para atuar no país.

Nos últimos dias, surgiram indicações de que em um acordo comercial os americanos pediriam que os britânicos baixem seus padrões agrícolas e alimentares para permitir a entrada de produtos dos Estados Unidos. A desconfiança foi agravada por uma entrevista do embaixador americano, Woody Jonhson, que disse que todos os setores econômicos estariam na mesa em uma negociação.

Banquete real e troca de farpas

O primeiro dia da visita oficial de Trump foi marcado por um jantar oferecido pela rainha Elizabeth no Palácio de Buckingham. O presidente americano elogiou a anfitriã, dizendo que ela é “uma mulher muito, muito boa” e reforçando a aliança entre os países.

— Enquanto honramos nossas vitórias e herança conjunta, nós afirmamos os valores comuns que nos unirão por um longo futuro; liberdade, soberania, auto-determinação, a lei e a reverência aos direitos dados a nós por um Deus todo-poderoso — disse em discurso.

Apesar da formalidade, o banquete foi antecedido por trocas de farpas entre o presidente americano e o prefeito londrino. Ainda antes de desembarcar, Trump se voltou contra o prefeito londrino, Sadiq Khan, que publicou um artigo no final de semana no jornal The Observer, comparando Trump aos “fascistas do Século XX”.

O prefeito, do Partido Trabalhista, incluiu o americano no mesmo grupo que os extremistas de direita Viktor Orbán, da Hungria, Matteo Salvini, da Itália, Marine Le Pen, da França, e o próprio Nigel Farage, líder do Partido do Brexit.

Em resposta, o líder americano tuitou ainda mesmo do avião. “Sadiq Khan, que faz um péssimo trabalho como prefeito de Londres, tem sido insensatamente ‘desagradável’ com o presidente dos Estados Unidos, de longe o aliado mais importante do Reino Unido”, escreveu. “Ele é um fracassado total que deveria se concentrar no crime em Londres, não em mim”.

Trump também se envolveu em uma polêmica com a duquesa Meghan Markle, a quem chamou de “desagradável”, dias antes de sua viagem a Londres. Meghan, que está em licença maternidade, não participou dos eventos oficiais, mesmo sendo americana.

— Eu não sabia disso. O que posso dizer? Eu não sabia que ela era desagradável —mas logo emendou que Meghan seria “uma princesa americana muito boa”. — É legal, e tenho certeza que ela vai se sair muito bem. Ela vai ser muito boa. Espero que ela tenha sucesso.

 

A ex-atriz apoiou Hillary Clinton na corrida presidencial de 2016 e na época chamou Trump de “misógino”. Ela até brincou sobre se mudar de vez para o Canadá, onde a série “Suits”, em que atuava à época, era filmada, se Trump vencesse a eleição.

Fonte: O Globo