Trump chega a Londres, chama prefeito de ‘fracassado’ e almoça com a rainha

LONDRES — O presidente Donald Trump desembarcou nesta segunda-feira no Reino Unido para uma visita de Estado de três dias. A viagem do líder americano vem em um momento sensível para o país, em meio à divisão sobre o Brexit e à disputa no governista Partido Conservador para decidir quem será o substituto da primeira-ministra Theresa May, que deixará a liderança da legenda em 7 de junho. A premier britânica anunciou sua renúncia no final do mês passado, após consecutivas derrotas parlamentares do plano que apresentou para a saída britânica da União Europeia.

Na véspera de seu desembarque em Londres, Trump já havia dado declarações controvertidas, defendendo que o Reino Unido saia da UE sem acordo e sem pagar os US$ 50 bilhões que deve ao Orçamento do bloco. Ele também fez elogios rasgados a Boris Johnson, um dos defensores mais radicais do Brexit e rival de May no Partido Conservador, e ao ultranacionalista Nigel Farage, opositor da primeira-ministra.

Nesta segunda-feira, antes de desembarcar, ele voltou suas baterias contra o prefeito de Londres, Sadiq Khan, que em um artigo publicado no fim de semana no jornal The Observer comparou Trump aos “fascistas do século XX”. O prefeito, do Partido Trabalhista, incluiu o americano no mesmo grupo que os extremistas de direita Viktor Orbán, da Hungria, Matteo Salvini, da Itália, Marine Le Pen, da França, e o próprio Nigel Farage, líder do Partido do Brexit.

Em resposta, o líder americano tuitou ainda mesmo do avião. “Sadiq Khan, que faz um péssimo trabalho como prefeito de Londres, tem sido insensatamente ‘desagradável’ com o presidente dos Estados Unidos, de longe o aliado mais importante do Reino Unido”, escreveu. “Ele é um fracassado total que deveria se concentrar no crime em Londres, não em mim”.

Em resposta, Khan retuitou um vídeo que gravou para a revista Elle, defendendo a igualdade de gênero e dizendo que “homens também devem ser feministas”. Segundo Khan, os valores socialmente conservadores de Trump vão na contramão daquilo que a cidade de Londres defende.

No início de 2018, a Casa Branca cancelou o que seria a primeira viagem do presidente a Londres por medo de protestos programados. A visita acabou acontecendo meses depois. Várias manifestações contrárias ao americano estão previstas para esta semana, a maior parte delas na terça-feira, quando ele se reunirá com May. Uma pesquisa recente do instituto YouGov mostrou que cerca de 67% dos britânicos têm opiniões negativas sobre Trump, contra 21% favoráveis a ele.

Manifestantes foram vistos já na chegada de Trump ao Palácio de Buckingham, na manhã desta segunda. Auriel Granville, uma ativista do meio ambiente, disse à rede BBC que foi ao palácio por ser contra as políticas ambientais da Casa Branca.

— Eu acho que ele não deveria ser recebido dessa maneira, as mudanças climáticas deveriam ser pauta principal e Trump nega o aquecimento global — disse a mulher, vestida como uma Estátua da Liberdade.

Farage criticou os movimentos contrários ao presidente em seu Twitter na manhã desta segunda, afirmando que os britânicos devem receber bem o “líder democraticamente eleito do mundo livre” e dar “boas-vindas que condizem com o status do cargo e de um grande país”

Comércio e Huawei

Apesar do mau momento, a visita de Trump é vista como uma ocasião de celebração da “relação especial” entre os Estados Unidos e a antiga metrópole. Até nos temas menos superficiais da visita, no entanto, há problemas.

O Reino Unido, e especialmente os defensores do Brexit, apostam em uma relação comercial fortalecida com os Estados Unidos, possivelmente com um acordo de livre comércio, depois que a saída do país da UE se concretizar. No entanto, como o protecionismo tem sido a marca do governo de Trump, que abriu guerras comerciais com vários países, analistas vêm advertindo para os riscos da aposta dos britânicos, afirmando que Washington pode impor a Londres um acordo desfavorável.

Nos últimos dias, surgiram indicações de que em um acordo comercial os americanos pediriam que os britânicos baixem seus padrões agrícolas e alimentares para permitir a entrada de produtos dos Estados Unidos. A desconfiança foi agravada por uma entrevista do embaixador americano, Woody Jonhson, que disse que todos os setores econômicos estariam na mesa em uma negociação.

A visita de Trump também será marcada pelas pressões americanas para que Londres não permita que a companhia chinesa Huawei participe da implantação da rede de telefonia 5G no Reino Unido. O governo americano vem ameaçando deixar de repassar informações de inteligência para os britânicos — que fazem parte da Aliança Cinco Olhos com Austrália, Canadá e Nova Zelândia — caso a maior companhia chinesa de tecnologia de comunicação tenha permissão para atuar no país.

Fonte: O Globo