Dois navios petroleiros são alvo de ataques no Golfo de Omã; preço do petróleo sobe 4%

RIO — Dois navios petroleiros foram alvos na manhã desta quinta-feira em ataques no Golfo de Omã , obrigando as tripulações a abandonarem as embarcações, um mês após quatro incidentes similares acontecerem na região. A natureza dos ataques ainda não foi determinada, mas as explosões aumentam a tensão na região, por onde passa grande parte do petróleo do mundo e quando o Irã enfrenta atritos com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, ao apoiarem lados contrários na guerra do Iêmen.

A imprensa oficial do Irã afirmou que equipes de resgate do país retiraram 44 pessoas das duas embarcações, levando-as em segurança até o porto de Jask. Os ataques aconteceram um dia depois de rebeldes iemenitas houthis , aliados do Irã, atacarem um aeroporto na Arábia Saudita, ferindo 26 pessoas. O mesmo grupo assumiu a autoria de ataques via drone em estações de bombeamento de um oleoduto saudita no mês passado.

A Quinta Frota da Marinha dos Estados Unidos, baseada no Bahrain, disse estar ajudando os dois navios — um norueguês e outro japonês — que emitiram pedidos de alerta perto da costa dos Emirados Árabes Unidos, próximo ao Estreito de Ormuz , área estratégica por onde passa um quinto de todo o transporte de petróleo do mundo. Os preços do petróleo chegaram a aumentar 4% nesta quinta-feira. Imagens da TV iraniana mostrava os dois navios em chamas.

As primeiras informações sobre as explosões vieram da mesma agência estatal libanesa associada ao Hezbollah que noticiou os ataques similares que aconteceram em maio. Uma investigação determinou que os incidentes do mês passado teriam sido causados por minas limpet , que é presa magneticamente às embarcações. A Arábia Saudita e os Estados Unidos culparam publicamente o Irã, que rejeitou a acusação. Na ocasião, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos afirmaram que ataques desse tipo representam um risco para a segurança regional e para a distribuição global de petróleo.

— Nós estamos extremamente preocupados com as notícias de explosões e incêndios nos navios do Golfo de Omã. Estamos em contado com as autoridades locais e parceiros na região — disse uma das porta-vozes de Theresa May, premier britânica demissionária, acrescentando que a Marinha britânica iniciou uma investigação sobre o ocorrido.

Um dos navios, o Front Altair , carregava 75 mil toneladas de nafta , um derivado petroquímico, quando teria sido atingido por um míssel, segundo a petroleira estatal taiwanesa CPC, que alugava a embarcação. Relatos iniciais de que o navio teria afundado foram negados pela dona do barco, a empresa norueguesa Frontline.

Já o Kokuka Corageous teria sido atingido em um “ataque suspeito” que danificou o caso do navio acima do nível da água enquanto transportava 25 mil toneladas de metanol entre a Arábia Saudita e Cingapura, de acordo com o canal japonês NHK. A empresa japonesa Kokuya Sangyo , que opera o navio de bandeira panamenha, disse que a embarcação foi atingida duas vezes em um período de três horas e que toda a tripulação foi resgatada. Pelo menos um tripulante ficou ferido.

Rússia pede para não culparem Irã

A França, que opera uma base naval nos Emirados Árabes, pediu “contenção a todos os atores” na região, afirmando estar em contato com eles, reafirmando que “a liberdade de navegação deve ser preservada”. Já o vice-chanceler russo, Sergei Ryabkov, pediu que para que os países não se apressem a culpar o Irã.

Na manhã desta quinta-feira, um porta-voz do governo iraniano disse que o país está preocupado com os incidentes nas proximidades do Estreito de Ormuz e demostrou interesse em discussões sobre uma cooperação regional que garanta a segurança das vias marítimas da região:

— Todos os países da região devem tomar cuidado para não caírem na armadilha daqueles que se beneficiam da insegurança regional — afirmou Ali Rabei à agência de notícia Fars.

A relação historicamente tensa entre Teerã e Washington passa por um momento difícil desde maio de 2018, quando o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano . O Irã havia concordado em restringir suas capacidades de enriquecimento de urânio em troca do aliviamento das restrições econômicas.

Em resposta à saída americana e à imposição de novas sanções , o Irã anunciou diminuições às limitações de seu programa . A disputa se acirrou ainda mais no mês passado, após os americanos acusarem Teerã de estar por trás dos ataques no Golfo. Washington também anunciou o envio de 1,5 mil soldados e armamento extras para a região e a retirada dos funcionários não essenciais  de sua embaixada em Bagdá, devido a preocupações com ameaças iranianas. A Casa Branca vem impondo pressão máxima para que o país persa renegocie os termos do acordo.

Os incidentes desta quinta-feira acontecem durante uma visita oficial a Teerã de Shinzo Abe , primeiro-ministro japonês, que busca mediar as tensões entre Estados Unidos e Irã. Abe, relativamente próximo a Trump, mas favorável ao acordo original, se encontrou com o chanceler Javad Zarid, com o presidente Hassan Rouhani e com o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país. Os japoneses disseram não levar nenhuma mensagem específica de Washington e afirmaram não haver nenhum indício de acordo no primeiro dia de conversas.

Segundo o ministério de Comércio japonês, as embarcações atacadas carregavam “conteúdos que tinham relação” com o país.

Fonte: O Globo