Um estádio de Copa do Mundo lotado. Uma partida entre dois times da quarta divisão do futebol brasileiro.
Um confronto que ganhou contornos épicos. Uma vitória que jamais será esquecida pelos verdadeiros fãs do futebol amazonense. Há exatamente um ano, o Manaus Futebol Clube escrevia uma das mais belas páginas do futebol amazonense ao derrotar de forma contundente o Caxias (RS), por 3 a 0, na Arena da Amazônia, zona Centro-Sul. A vitória interrompeu um incômodo jejum de 20 anos sem acesso de um clube local a qualquer divisão do futebol brasileiro.
A longa espera começou a ter fim aos 26 minutos do segundo tempo, quando Mateus Oliveira protegeu a bola, dentro da área, para um tiro fulminante do camisa 10 Rossini. “A emoção do gol é sem palavras. Aquele momento ali só lembrei das pessoas que mais amo nessa vida que são meus filhos, o Bruno e a Bia, dediquei o gol a eles e foi lindo demais a gente ver a Arena lotada, a mobilização do povo amazonense. Acho que o povo amazonense mostrou verdadeiramente a sua cara, a cara de quem ama o futebol e se mobilizou por uma causa, a causa de um clube que envolveu o Estado. A torcida do Manaus, a torcida do povo amazonense se fez presente naquela arena e chega a arrepiar, a gente começa a lembrar, a gente começa a dar risada porque foram momentos mágicos que passamos ali”, lembra o atacante Rossini.
Até aquele momento, o gol de Rossini levaria o jogo para as cobranças de pênaltis, uma vez que o Gavião havia perdido o jogo de ida. Para vencer no tempo regulamentar era necessário pelo menos mais um gol e ele começou a nascer com uma cobrança de lateral aos 39 minutos do segundo tempo. Bola alçada na área. Falha da defesa do Caxias, Vitinho toca para Rossini marcar o segundo gol do dia no Colosso do Norte. Explode coração!
Dono da segunda assistência do jogo, Vitinho sequer havia viajado para o primeiro confronto em Caxias. No jogo em Manaus, Diogo Dolem era o dono da posição até sofrer uma pancada violenta na cabeça e sair de ambulância do estádio.
Vitinho entrou tímido no jogo. Também pudera, fora um verdadeiro “susto” entrar daquele jeito, em pleno caldeirão da Arena da Amazônia. “O Dolem estava muito bem na partida. A entrada me pegou de surpresa. Mas eu sempre estava preparado. Aquele finalzinho de primeiro tempo foi só para aquecer”, conta Vitinho, revelando as palavras do técnico Wellington Fajardo durante o intervalo do jogo. “Ele disse para eu entrar e fazer o que sei fazer de melhor, então eu pude ajudar minha equipe com a minha velocidade, meus dribles, minha assistência”, conta o jogador.
Mortal
A velocidade “máxima” de Vitinho foi demostrada no ataque que colocou o último prego no “caixão” do time do Rio Grande do Sul. Em uma arrancada alucinante, o baixinho “serviu” Mateus Oliveira, que marcou o último gol da partida.
“Quando eu vejo o Vitinho arrancando em direção ao gol eu consigo achar do nada um pique de quase 100 metros. O Vitinho com aquela velocidade que ele tem, quando ele me viu eu tive a decisão certa de puxar para dentro, para minha perna boa que é a esquerda e fazer o gol. Ali já passava na minha cabeça: ‘agora acabou! O acesso é nosso!’ Foi inesquecível”, lembra Mateus Oliveira autor do último gol do jogo, marcado aos 49 do segundo tempo.
Marco
O técnico mineiro Wellington Fajardo gosta de lembrar que toda a campanha do Gavião do Norte, em 2019, desde a conquista do Barezão, a manutenção da invencibilidade e a conquista do acesso foi um processo de construção em que o clube foi galgando degrau por degrau.
“Com certeza ninguém esperava que a gente pudesse conquistar um acesso principalmente em cima do Caxias, que tinha uma folha salarial pelo menos quatro vezes maior que a nossa. Mas a união da equipe, a determinação de todos, o envolvimento de todos, essa sinergia que houve entre time e torcida… eu me sinto muito honrado de ter participado deste momento. Acho que isso foi um marco na história do futebol amazonense e também um marco para o Manaus FC, um clube tão jovem, com apenas sete anos de fundação e já está na Série C. Eu acredito que o futuro é muito promissor e eu acredito que o pontapé inicial de tudo foi esse acesso que nós tivemos”, pontua o treinador.
Haja coração
O apito final que sacramentou o acesso do Gavião do Norte fez explodir de alegria o coração de dois amigos que tiveram a ousadia de começar um clube de futebol do zero. Luis Mitoso e Giovanni Silva, que um dia sonharam com a reconstrução do futebol baré, ali, escreviam de vez os seus nomes na história do futebol amazonense. “No apito final do árbitro, naquele momento senti uma sensação de dever cumprido e um sentimento de reconhecimento por todos os esforços que tínhamos feito. Fazia exatamente 20 anos que o Estado não tinha representante acessando uma divisão do futebol nacional. Naquele momento Deus nos abençoou”, lembra Giovanni Silva.
“Muita gente não acreditava que era possível começar um clube do nada, sem torcida. Mas nós tivemos essa ousadia, nós acreditamos quando ninguém acreditava. Sonhamos e devagar fomos construindo a história do Gavião do Norte. Ano após ano, campeonato após campeonato, sempre com muita esperança. Quando eu vi aquela arena completamente lotada e a felicidade do povo com o acesso, eu entendi que aquele sonho que a gente teve lá atrás, era o sonho de toda uma cidade, o sonho de todo um povo. Fizemos história”, orgulha-se o presidente do Manaus FC, Luis Mitoso.