Maioria quer saída de Maduro, e 39% apoiam Guaidó como ‘presidente interino’, indica pesquisa

RIO —  Embora mais de três quartos dos venezuelanos sejam a favor do fim do governo de Nicolás Maduro , o líder da oposição Juan Guaidó , que se proclamou presidente interino com apoio da Assembleia Nacional (AN), ainda tem um longo caminho pela frente para obter o apoio da maioria da população. É o que indica uma pesquisa da Ideia Big Data realizada no último fim de semana, na qual a maioria dos entrevistados expressou seu temor de que se agrave ainda mais a situação da Venezuela , mergulhada numa crise política, social e econômica.

Apesar da dificuldade indicada pela pesquisadora em obter dados no atual contexto venezuelano, as entrevistas foram realizadas por telefone com 803 pessoas das cidades de Caracas, Maracaibo, Valência, Barquisimeto e Ciudad Guyana. Dos entrevistados, 76% disseram não apoiar o governo de Maduro, contra 22% que expressaram apoio ao presidente.

Quando perguntados se acham que Maduro deveria ser retirado do seu cargo — o segundo mandato do presidente é considerado ilegítimo por mais de 40 países, em decorrência de suspeitas de irregularidades nas eleições de 2018 —, 78% disseram ser a favor da destituição. Outros 20% expressaram opinião contrária, afirmando que Maduro não deveria ser forçado a abandonar a Presidência.

A baixa popularidade de Maduro, já constatada por outros levantamentos nos últimos meses, entretanto, não se traduz em aprovação majoritária à decisão dos opositores de declarar Guaidó “presidente encarregado” do país. Na pesquisa da Ideia Big Data, 39% dos entrevistados disseram reconhecê-lo como presidente interino, enquanto 27% não o reconhecem. Outros 32% não souberam responder.

Para Maurício Moura, CEO da Ideia Big Data, os resultados da pesquisa demonstram o tamanho da incerteza que os venezuelanos experimentam neste momento. O momento, ele diz, é de quebra de expectativas em relação às promessas do chavismo e, ao mesmo tempo, dúvidas em relação a um novo dirigente opositor que acaba de aparecer no cenário nacional. O medo de que a situação da Venezuela piore é expressado por 68% dos entrevistados.

Até esta segunda-feira, há registro de pelo menos 35 mortos e 850 detidos ao longo de uma semana de marchas contra o governo Maduro nas ruas da Venezuela, de acordo com um balanço apresentado por organizações que defendem os direitos humanos.

— Maduro vem registrando uma queda constante de apoio e tem um nível de aprovação muito baixo em comparação aos índices anteriores do chavismo — diz Moura. — Até muito pouco tempo atrás, Guaidó era um completo desconhecido da população, e há também incerteza sobre a sua autoproclamação (como presidente interino). É um processo que não está muito claro para a população e vem junto com as expectativas de piora.

A crise política na Venezuela chegou a um ponto de inflexão na última quarta-feira, quando Guaidó se autoproclamou, com apoio da Assembleia Nacional, “presidente encarregado” do país. Ele já foi reconhecido como presidente interino por 19 países, incluindo Brasil e Estados Unidos. Maduro, por sua vez, denuncia uma tentativa de golpe de Estado que atribui a seus opositores e aos EUA, enquanto sofre pressão externa para admitir novas eleições, livres e limpas, que poderiam levar a uma transição de poder.

A Casa Branca tem papel central na ofensiva contra Maduro e vem ampliando o cerco financeiro ao seu governo com objetivo de redobrar as pressões sobre o chavismo. No domingo, os EUA anunciaram que aceitavam a designação do opositor Carlos Vecchio como representante diplomático do “governo interino” de Juan Guaidó. A informação de que Vecchio seria o escolhido, antecipada no último sábado pelo GLOBO, era esperada com grande expectativa pela oposição.

Apesar da rejeição popular a Maduro, a grande maioria de 80% dos entrevistados na pesquisa do último fim de semana disseram não apoiar uma “ação mais decisiva dos EUA” na Venezuela, contra 10% que apoiam. Outros 8% não souberam opinar e 2% não deram nenhuma resposta. Moura explica que a rejeição a ações consideradas intervencionistas de Washington é tradicional na Venezuela e, neste momento, se amplia:

— Uma ação dos EUA não tem nenhum apelo popular, apesar de haver temor de que as coisas piorem. Acredito que este seja um retrato do medo de que haja um desfecho violento ou uma guerra civil. Unem-se aqui um aspecto tradicional a outro pontual deste contexto, que é o receio de mais violência — diz.

 

Fonte: O Globo