RIO — O líder opositor Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino da Venezuela, não descarta uma eventual anistia ao presidente Nicolás Maduro, mas descartou a possibilidade de diálogo com o atual governo, como tem sido sugerido por países europeus, México e Uruguai.
— Em períodos de transição ocorreram coisas similares (…) e não podemos descartar qualquer elemento, mas será preciso ser muito firme com o futuro (…), especialmente para responder à emergência humanitária — ressaltou Guaidó, em entrevista à rede televisiva americana Univisión.
Na entrevista, realizada por Skype de um lugar não identificado de Caracas, Guaidó responsabilizou Maduro pelas mortes ocorridas nesta semana durante os protestos contra o governo. Segundo ONGs, a repressão aos protestos deixou 26 mortos, todos baleados.
— Isto teria que ser analisado (a anistia). Ele também é funcionário público, lamentavelmente é um ditador e o responsável pelas vítimas de ontem na Venezuela — declarou Guaidó.
A rede Univisión compartilhou a entrevista em suas redes sociais (assista o trecho em que Guaidó fala sobre a anistia a partir de 17:40).
O Parlamento, único poder controlado pela oposição na Venezuela, prometeu no dia 15 de janeiro passado uma “anistia” para os militares que rejeitarem o governo Maduro, declarado “usurpador” da presidência.
— Dado o momento, vamos analisar. Está na mesa essa anistia (a Maduro), essas garantias são para todos os que estejam dispostos a ficar do lado da Constituição e recuperar a ordem constitucional — acrescentou Guaidó.
Treze dos 14 países do Grupo Lima, incluindo o Brasil, assim como os Estados Unidos e o Canadá, reconhecem Guaidó como o presidente interino da Venezuela. Ao todo, 17 países acolheram a autoproclamação do líder opositor, que descartou qualquer diálogo entre a oposição e o governo de Maduro.
— O diálogo não faz parte do cenário. O que está em discussão são os mecanismos necessários para conseguir o fim da usurpação, um governo de transição e eleições livres.
Segundo Guaidó, Maduro “sempre utiliza o diálogo para enganar o povo e ganhar tempo”. Na quarta-feira, o líder bolivariano aceitou participar de novas negociações propostas por México e Uruguai sobre a crise da Venezuela. Em nota conjunta, os dois países, que não reconheceram o opositor como presidente interino, pediram diálogo entre governo e oposição para uma saída pacífica para o conflito.
— Estou de acordo com uma iniciativa diplomática para o diálogo, o acordo, a negociação. Falar, ouvir e nos entendermos, e venham todos os setores da nação. Este é o caminho, não o intervencionismo — disse Maduro, ao mencionar a iniciativa de uruguaios e mexicanos durante discurso.
O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, questionou nesta quinta-feira até onde vai o apoio dos militares venezuelanos ao presidente da Venezuela e disse que seria melhor o mandatário deixar o cargo o quanto antes.
— Eu já falei isso várias vezes. Uma solução é o Maduro ir embora né, embarca lá com o bandão lá para algum país aí que o receba. Pronto. Segue o baile e a Venezuela volta a tentar se reorganizar democraticamente — disse.
Mourão defendeu, em entrevista à GloboNews, a criação de um “corredor de escape” para que Maduro abandone a Venezuela.
— Temos que deixar um lugar para o Maduro e a sua turma escapar, deixar ele ir embora e o país se reconstruir a partir daí.
Na quarta-feira, a oposição e o governo mediram forças nas ruas durante múltiplas concentrações. Desde a última segunda-feira, pequenos protestos e distúrbios deixaram mortos em regiões pobres da Venezuela, antigos bastiões chavistas que se uniram à mobilização de oposicionistas para derrubar Maduro em meio à grave crise do país.
Fonte: O Globo