SÃO PAULO – A Polícia Federal ( PF ) deu início, na manhã desta terça-feira, à 60ª fase da Operação Lava-Jato , que investiga um esquema de pagamento de R$ 130 milhões de propina pela Odebrecht a políticos por meio de operadores financeiros e contas no exterior. O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza , conhecido como Paulo Preto e apontado como operador do PSDB , foi preso em São Paulo. Além de cumprir o mandado de prisão, policiais federais fizeram buscas em 12 endereços no estado, ao menos um deles ligado ao ex-ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB).
Ex-chanceler no governo de Michel Temer, Aloysio é investigado por ter recebido, no Natal de 2007, um cartão de crédito vinculado a uma conta mantida por Vieira na Suíça e que era utilizada para movimentar propina, segundo o Ministério Público Federal (MPF). O cartão foi entregue ao político em um hotel de Barcelona, na Espanha. Ainda de acordo com os investigadores, o cartão foi emitido um mês após a Odebrecht ter enviado para essa conta cerca de 275 mil euros. A força-tarefa da Lava-Jato não informou que uso Aloysio fez do cartão.
Deputado estadual, deputado federal e senador pelo PSDB, Aloysio era secretário-chefe da Casa Civil da gestão de José Serra no governo de São Paulo em 2007, quando teria recebido o cartão de crédito ligado a Vieira. No fim do ano passado, ele aceitou indicação feita pelo governador João Doria para presidir a Investe SP, agência de promoção de investimentos do governo de São Paulo.
Iniciada a partir de delações de executivos da Odebrecht e de doleiros, a operação desta terça-feira aprofunda a investigação sobre o funcionamento do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, chamado pelos investigadores de “departamento de propina”. Segundo os procuradores, Vieira disponibilizaou R$ 100 milhões em espécie para o esquema de corrupção, que teve a participação de mais três operadores: Rodrigo Tacla Duran, Adir Assad e Álvaro Novis.
Triangulação entre operadores
Num primeiro momento, Vieira repassou os R$ 100 milhões a Assad a partir do segundo semestre de 2010. Assad, por sua vez, entregou os valores para Novis, que pagava a propina a mando da Odebrecht. De acordo com a Lava-Jato, neste período, a construtora pagou valores indevidos a gerentes e diretores da Petrobras, como Djalma Rodrigues, Maurício Guedes, Roberto Gonçalves, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Sérgio Machado.
Para pagar o “empréstimo” de Vieira, a Odebrecht transferiu milhões de dólares para as contas de Duran no exterior, também segundo a Lava-Jato. Cabia a ele chegar à Vieira o valor devido, descontadas suas comissões e as de Assad. O cálculo dos procuradores é que, até 2017, foram movimentados R$ 130 milhões ao todo só por meio desse esquema. Era esse o saldo de contas controladas por Vieira na Suíça no início daquele ano.
No primeiro trimestre de 2017, quando foi tornado público o acordo da Odebrecht com a Procuradoria Geral da República (PGR), Vieira encerrou as contas suíças e transferiu o dinheiro para Bahamas, impedindo assim o bloqueio dos valores.
A operação recebeu o nome de “Ad Infinitum”. Segundo a PF, o nome da operação remete ao fato de “o caso parecer tratar de mais uma repetição do modo de atuação de alguns integrantes da organização criminosa, remetendo a um ciclo criminoso que nunca termina”.
Ao contrário do que acontece em outras fases da Lava-Jato, Vieira não deve ser enviado imediatamente a Curitiba para ser ouvido pelos investigadores que pediram sua prisão. Como também responde a processos em São Paulo, ele deve comparecer a audiências do caso na capital paulista e viajar para o Paraná na sexta-feira.
Réu por cartel e desvios de R$ 7,7 milhões
Vieira já é réu em dois processos que correm na Justiça Federal de São Paulo. No caso mais avançado, ele é acusado de participar do desvio de R$ 7,7 milhões em verbas de indenização para famílias que viviam no traçado do Rodoanel, um anel viário construído pelo governo paulista na última década.
Na segunda ação, ele é investigado por fazer parte de um cartel formado pelas mesmas construtoras investigadas pela Lava-Jato para dividir oito obras viárias contratadas pelo governo paulista a partir de 2004. As investigações levaram Vieira à prisão em abril e maio de 2018, mas ele acabou solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, esses fatos não entram no objeto da investigação desta terça-feira, que apura apenas a suposta lavagem de dinheiro para a Odebrecht.
Procurada, a defesa de Vieira disse que ainda não teve acesso a qualquer documentação desta investigação e que, por isso não iria comentar a prisão do seu cliente.
Aloysio também já havia sido citado na Lava-Jato. Em outubro do ano passado, o STF arquivou um inquérito em que o então ministro era acusado de ter recebido R$ 500 mil da Odebrecht, via caixa dois, para sua campanha ao Senado em 2010.
O GLOBO tenta contato com a defesa de Aloysio.
Fonte: O Globo