A instituição, que nasceu do sonho do casal Kim de auxiliar no desenvolvimento de Pessoas Com Deficiência (PCD), completou cinco anos em 2020. O que, inicialmente, seria uma ajuda direcionada para um pequeno grupo de crianças cresceu em proporção geométrica por causa da demanda reprimida em Manaus. Atualmente, 130 PCD entre 3 e 17 anos recebem serviços gratuitos, mas a fila de espera está sempre em escala ascendente.
“O amor de Deus me uniu a estas crianças. Não tenho PCD na minha família, mas fiquei profundamente tocada quando vi a situação de mães e filhos que sofriam sem assistência. Quando alguém com problema motor não recebe atendimento especializado de fisioterapia, por exemplo, fica atrofiado, o que é muito difícil reverter. Me envolvi tanto que compartilho as dores e as alegrias de cada pequena vitória desses guerreirinhos”, relatou emocionada Jackeline Kim, diretora da instituição, que é mantida essencialmente com o salário dela e do marido.
O Lar de Vitórias, localizado na Rua Beatriz Portinari, nº 252 – Japiim, oferece, gratuitamente, atendimento com especialistas nas áreas de fisioterapia, assistência social, fonoaudiologia, pedagogia, psicopedagogia, odontologia. Os responsáveis procuram a entidade por iniciativa própria ou por encaminhamentos institucionais emitidos por órgãos das áreas de saúde ou assistência social. “Outras OSCs (Organização da Sociedade Civil) e também escolas que já conhecem o nosso trabalho, – quando identificam crianças com transtorno de espectro autista, síndrome de down, paralisia cerebral, algumas outras síndromes e patologias diversas-, elas nos encaminham”, explicou Janaína Batista, assistente social. “Não temos uma zona específica de atuação. Pais, mães da cidade inteira buscam pelos serviços da instituição. Claro que a grande maioria, até porque a dificuldade de acesso pelos PCD é muito grande, é aqui mesmo da Zona Sul”, pontuou a assistente social, Liliane Marinho.
As famílias também participam do processo de evolução. Após as terapias, os responsáveis são convidados a ouvir as orientações dos profissionais para ampliar as chances de desenvolvimento. “Os profissionais indicam as atividades que as crianças devem desenvolver em casa para que não aja a regressão. Neste período de pandemia, o Lar de Vitórias realizou atividades on line com as famílias. Crianças hiperativas não podem ficar ociosas. Elas precisam extravasar a energia em atividades dinâmicas para não ficarem agitadas, ganhando qualidade de vida”, relatou a psicóloga Maria Júlia Ribeiro de Souza.
Nova ala
Originalmente, a instituição funcionava no andar superior. A partir de recomendações de órgãos da saúde, os administradores transferiram as atividades para o térreo onde antes era uma garagem. O local foi completamente remodelado a partir de doações como do Programa de Voluntariado da Fundação Telefônica Vivo. Para atender um maior número de crianças e adolescentes, os administradores estão construindo uma nova ala do Lar de Vitórias no que antes era o quintal. Mas ainda faltam recursos para concluir as cinco novas salas de terapia. “Operamos totalmente com doações. Fizemos bazar e outras ações para angariar recursos. Em virtude da pandemia, nossa feijoada ainda não tem data definida para acontecer. A Covid19 deu uma paralisada na nossa fonte, mas eu acredito muito em Deus e nas pessoas de bom coração. Nós vamos conseguir. Tá faltando mais as portas, a pintura das paredes. Quem puder nos ajudar será muito bem recebido aqui no Lar”, pediu.
Voluntários
Sem verbas permanentes do poder público, vivendo de doações (que reduziram por causa na queda na economia devido à Covid19), o Lar de Vitórias busca mais voluntários na área de psicologia para atender no horário da tarde, quando o novo espaço ficar pronto. Além disso, busca com urgência um neurologista. A ausência do profissional no quadro da instituição tem impedido a atuação de novos voluntários como os dentistas. “É muito difícil um neuro para as crianças. Para pegar uma consulta no sistema público de saúde é muito difícil. Os neurologistas particulares cobram, em torno de, R$ 400 uma consulta. Esse valor é muito caro para as famílias que são de baixa renda e mal tem como se sustentar. O dentista não pode prescrever nesta área que é do neuro. Conseguimos agora dois dentistas voluntários, a doutora Bruna e o doutor Mike, que vieram de coração, mas estão limitados.
A dona de casa Francione Deodato de Oliveira penou para conseguir atendimento especializado para o filho autista que também possui TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). “Eu tava na luta desde que o meu filho tinha 2 anos de idade para conseguir um diagnóstico preciso. Quanto mais cedo, maiores as chances de desenvolvimento. Fiquei anos na rede pública atrás de fono. Fiz tudo o que pude fazer e não conseguia. O Lar de Vitórias foi uma benção. Aqui, eu consegui o especialista de graça. O som da máquina de cortar cabelo para o meu filho é aterrorizante. Imagina o da broca de um dentista? Para ele ir ao dentista, ele tem de ser dopado porque ele não fica parado. Além disso, o dentista precisa ter muita paciência. Mesmo pagando, é dificil encontrar uma profissional que sabe lidar com autistas e outras síndromes”, explicou a mãe do menino que está com 6 anos de idade e há 2 anos na instituição.
O cirugião-dentista Mike Ezequias é um dos dois profissionais na área de odontologia que se comoveu com a situação das crianças e adolescentes. Ao visitar a instituição, foi cercado pelas mães que imploraram pelo atendimento. “Como ser humano, como profissional responsável e como pai de três filhos saudáveis, não tive como negar. Muitas destas crianças possuem problemas dentários que se acumulam há anos. Sofrem sem saber o motivo. Cada vez que recebo um deles no meu consultório, me sinto restabelecido de carinho e amor. É uma troca. Eu cuido dos dentes e eles da minha alma”, declarou emocionado.