PEQUIM — O líder norte-coreano, Kim Jong-un , chegou a Pequim nesta terça-feira para uma visita à China, a convite do presidente chinês, Xi Jinping. A primeira viagem do ditador de Pyongyang ao aliado neste ano, depois de três encontros em 2018, ocorre dias depois de Kim alertar que pode tomar um caminho alternativo caso os Estados Unidos não amenizem as sanções e a pressão impostas contra o seu regime.
A agência Yonhap publicou uma foto da entrada em Pequim do dirigente norte-coreano, que viajou no trem presidencial de cor verde escura com faixas amarelas, às 10h55 local (0h55 Brasília). Principal aliado diplomático da Coreia do Norte, a China é também o maior parceiro comercial de Pyongyang.
A visita, confirmada pelas mídias estatais de Coreia do Norte e China, ocorre em meio às negociações para uma segunda cúpula entre Kim e o presidente americano, Donald Trump, com foco na desnuclearização da Península Coreana. No discurso de Ano Novo, o líder norte-coreano destacou que estava pronto para rever o chefe da Casa Branca e atingir o objetivo comum, mas alertou que poderia tomar um caminho alternativo se o país não tivesse aliviadas as sanções.
Washington defende a necessidade de maior progresso verificável na desnuclearização de Pyongyang antes de relaxar as sanções econômicas. A posição contrasta com a da Coreia do Sul, aliada de Washington, que aposta no integração econômica da Península coreana e no avanço da economia da Coreia do Norte como caminhos para atingir a paz. Pesquisas sobre a integração ferroviária intercoreana, por exemplo, receberam isenção de sanções do Conselho de Segurança da ONU, mas é incerto se haverá abertura no bloqueio econômico para a efetiva reconexão das vias de transporte.
Desde a histórica cúpula de Trump e Kim em Cingapura, em junho, houve pouco progresso efetivo no acordo de desnuclearização do Norte. Nesse contexto, a reunião entre Kim e Xi serve também para rememorar a aliança histórica dos dois países a Washington, além de inteirar Pequim sobre as conversas de uma nova cúpula com os EUA e possíveis medidas resultantes do processo.
Na visão de Bernhard Seliger, chefe do escritório da Fundação Hanns Seidel em Seul, a nova visita de Kim Jong-un a Pequim tem duplo significado desta vez. Enquanto representa um demonstração da força do elo histórico entre as duas nações vizinhas, pode ser vista ainda como um passo necessário ao fortalecimento da posição diplomática norte-coreana.
— Primeiro, mostra aos Estados Unidos que a antiga relação Coreia do Norte-China está em vigor e pode ser trazida à tona, caso as negociações com os EUA não funcionem como o planejado. Mas, em segundo lugar, é também uma necessária coordenação de políticas para uma segunda cúpula entre Coreia do Norte e EUA. A coordenação não é fácil para a Coreia do Norte, já que a sua diplomacia não funciona tão bem quanto no caso de outros países e somente o líder pode realmente explicar e assumir responsabilidades em seu sistema ultrahierárquico — analisa o especialista alemão.
Fonte: O Globo