Cultura

Inezita Barroso: 100 anos do ícone da cultura caipira

Nesta terça-feira (4), completa-se o centenário de nascimento de uma das mais importantes artistas brasileiras: Ignez Magdalena Aranha de Lima, ou melhor, Inezita Barroso. Nascida em 1925, em São Paulo, Inezita foi cantora, atriz, instrumentista, apresentadora de rádio e televisão, além de folclorista, professora e pesquisadora da cultura popular brasileira.

Inezita teve uma trajetória que deixou uma marca indelével na arte do país, principalmente na chamada cultura caipira, incentivada e divulgada no seu trabalho. Também deixou saudades pela apresentação do saudoso programa Viola, Minha Viola, na TV Cultura, criado em 1980 e que é, muitas vezes, reprisado até os dias de hoje pela emissora.

O sucesso de Inezita pode ser explicado não apenas pelo seu talento artístico, mas também pelo vasto conhecimento que tinha do gênero que abraçou. 

“Inezita era obcecada pela cultura brasileira. Eu acho que ela fazia disso um objetivo de vida, de divulgar a cultura popular brasileira”, disse Aloisio Milani, jornalista, roteirista e pesquisador que trabalhou por oito anos com Inezita na produção do Viola, Minha Viola.

Milani vai lançar um livro digital sobre Inezita, com “causos” sobre a “moda da pinga”, sua música mais conhecida, composta por Ochelsis Aguiar Laureano. Mas, segundo ele, entre vários outros assuntos, tem também histórias de “seu grupo de música na época de estudante como Paulo Autran, Renato Consorte, Tullio Tavares, Paulo Vanzolini, sobre os bastidores de seus discos preferidos, sobre suas alegrias e tristezas”.

O jornalista ressaltou a dedicação e zelo de Inezita na condução do programa, que trazia tanto nomes consagrados quanto os novos talentos que emergiam no cenário da música interiorana. Assim, os palcos do Viola, Minha Viola receberam desde as Irmãs Galvão, Liu e Léo, Pedro Bento e Zé da Estrada, Craveiro e Cravinho até Almir Sater, então um jovem e talentoso violeiro de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O pesquisador Walter de Souza, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo e autor do livro Moda inviolada – uma história da música caipira, destacou que ela fez vários registros históricos de todas as regiões do país.

“Em termos culturais, representou a tradição musical caipira paulista, mesmo enquanto esta se misturava a ritmos de fora do país, como a guarânia paraguaia, o bolero cubano, a rancheira mexicana e a versão brasileira do rock, o iê-iê-iê, até virar o gênero sertanejo”, disse Souza.

“O que sempre a moveu foi a defesa da música brasileira, ou seja, a manutenção da identidade caipira contra o afã do capital como força motriz do crescimento do gênero sertanejo”, completou o pesquisador.

Carreira

Nascida em São Paulo, Inezita teve uma carreira profícua. Formou-se em biblioteconomia na Universidade de São Paulo (USP). Por seus estudos com folclore e cultura popular, chegou a ser ganhar o título honoris causa pela Universidade de Lisboa.

Na Rádio Clube de Recife interpretou músicas coletadas pelo escritor Mário de Andrade. Entrou na rádio Bandeirantes em 1950, e em seguida, foi contratada pela Record. Foi também em 1950 quando adotou o nome artístico Inezita Barroso – um apelido de infância com o sobrenome do marido.

No cinema, Inezita esteve em filmes como Ângela (1950), O craque (1953), Destino em apuros (1953) e É proibido beijar (1954), entre outros.

Na década de 70, Inezita apresentou-se numa série de eventos internacionais. Começou a apresentar programas de televisão e rádio, sendo o mais famoso o até hoje reverenciado Viola, Minha Viola, que comandou por 35 anos. 

Ela esteve à frente do programa de 1980 a 2015, pouco antes de morrer em 8 de março, quando completou 90 anos.

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