Tornar a cidade mais caminhável é um dos desafios do programa “Nosso Centro”, da Prefeitura de Manaus, que será lançado pelo prefeito David Almeida nesta quinta-feira, 17/6. O programa de revitalização é montado em quatro etapas macros e na primeira fase terá foco no eixo denominado Ilha de São Vicente, que vai desde o largo da Matriz até o início da avenida Sete de Setembro.
Os trabalhos são concentrados na Comissão Técnica para Implementação e Revitalização do Centro Histórico de Manaus, criada pelo decreto 5.034, que atua na definição de pontos de intervenção para o plano.
O “Nosso Centro” se concentra em três grandes estratégias, que vão viabilizar novas formas de ocupação com múltiplos usos para o bairro, com três eixos: “Mais Vida”, “Mais Negócios” e “Mais História”.
A comissão tem coordenação do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), contando com diretores, gestores e técnicos com expertise no tema, da Secretaria Municipal de Finanças e Tecnologia da Informação (Semef), Secretaria Municipal do Trabalho, Empreendedorismo e Inovação (Semtepi), e Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).
Caminhável
Segundo o diretor de Planejamento Urbano (DPLA) do Implurb, arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro, tornar a cidade caminhável implica em aumentar a sensação de segurança e bem-estar, diminuir as distâncias, fornecer aos espaços públicos maiores atrações e funções diversas pelo caminho, do comércio ao lazer, passando pela adoção de um sistema de mobilidade verde, onde as pessoas se deslocam a pé, de bicicleta ou por transporte público coletivo.
“No plano temos a meta de transformar as calçadas da Ilha de São Vicente e da área central em trajetos mais agradáveis em diversas etapas, com arborização, mobiliário, iluminação, passeio regularizado e sem barreiras arquitetônicas. As pessoas que moram no Centro costumam caminhar muito na área. E os comerciantes precisam entender que, apesar de diversas pessoas se deslocarem de carro, a observação e a compra se dão pelo pedestre, não pela pessoa que está em um veículo”, afirma Pedro Paulo Cordeiro.
Juntando os conceitos de caminhabilidade, mistura de usos nas edificações, mobilidade ativa e fomento a negócios, melhor se torna a área de intervenção para os moradores e frequentadores, com maior qualidade de vida e até atração de mais turistas.
“Hoje a rua Bernardo Ramos, que é uma das mais antigas da capital, é belíssima, tem passeio largo, diversos exemplares de arquitetura da época, mas falta mais vida, porque não tem pessoas em circulação. Quando se levam atividades ao espaço se cria uma relação harmoniosa de uso com os moradores e se aumenta a presença do ser humano”, explica Pedro Paulo.
O plano quer chegar nesta ambiência nos próximos quatro anos, sendo voltado ainda para quem queira morar no Centro e quem queira investir ou apenas fazer uma visita ao bairro revitalizado com novos parâmetros urbanos mundiais.
“Todas as revitalizações de centros urbanos necessitam, inicialmente, de investimento do poder público. Depois, a iniciativa privada completa os investimentos. E tudo isso está sendo montado e pensado para um grande programa, com sinergia entre as secretarias, principalmente da Comissão de Revitalização”, comenta o diretor-presidente do Implurb, engenheiro Carlos Valente.
Implantação
Nos três grandes eixos do “Nosso Centro” existem diversos conceitos para implantação, desde reuso de imóveis para o uso misto, fachadas ativas, caminhabilidade e reocupação em várias frentes, incluindo habitação para todos os segmentos.
“O Centro foi se esvaziando por décadas e este movimento não é inerente apenas a Manaus, acontecendo em diversas cidades do Brasil e do mundo. É um processo de esvaziamento gradativo. Foram saindo os moradores para outras áreas, como Adrianópolis, Vieiralves, Vila Municipal e Ponta Negra, seguindo uma dinâmica de mudança de moradia. Depois migraram os órgãos públicos, as sedes do governo, da prefeitura, do Poder Legislativo. E isso forçou o comércio e serviço a fecharem estruturas, levando a uma degradação natural em relação às lojas e ao espaço, ou a migrarem para outros bairros e shoppings”, lembra o arquiteto.
Com o esvaziamento naturalmente ocorreu uma degradação física, com quadras e prédios abandonados. As estratégias do “Nosso Centro” englobam ações de urbanismo e revitalização de cunho social e sustentável. “O processo de revitalização que está em formação e em andamento é abrangente. Ele é pautado na sustentabilidade. E a sustentabilidade só ocorre quando se tem a economia, o social e o ambiental equilibrados, com foco em habitação, negócios e ocupação cultural e de lazer, além do transporte sustentável”, disse Carlos Valente.
Perfil
Embora as áreas centrais tenham sido transformadas em sinônimo de desuso e degradação, conseguem ainda manter-se como locais privilegiados e marcantes em valores históricos e culturais.
O olhar para o centro urbano consolidado significa observar sua espacialidade, os vestígios urbanísticos e arquitetônicos ao longo de épocas e a necessidade de promover a manutenção da história, do espírito do lugar, da inclusão social e da preservação do patrimônio material.
Também sugere a recuperação da economia e da qualidade de vida do local, além de tornarem-se mais humanos, voltados para novos modos de encontro, vivências e experiências que motivem a vizinhança e a paisagem urbana, misturando usos, idades e tipologias.