Exposição da Defensoria Pública traz relatos de vítimas em campanha de combate ao fim da violência contra a mulher*

Mostra ficará exposta durante todo o mês de março e conta com depoimento de mulheres assistidas pela Defensoria Pública

Durante o mês de março, quem passar pelo saguão da sede administrativa da Defensoria Pública do Estado (DPE-AM) vai se deparar com imagens e relatos de mulheres vítimas de violência. Os registros fazem parte da exposição “Vozes da Violência: Mulheres Atrás do Silêncio”, inaugurada nesta segunda-feira (9).

Com fotos e relatos de vítimas de violência doméstica, psicológica, física e obstétrica, além de assédio e transfobia, a mostra tem o objetivo de impactar e chamar atenção para o problema da violência contra a mulher. As personagens são, na maioria, assistidas do Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem/DPE-AM).

A concepção da exposição é da defensora pública Pollyana Vieira, coordenadora do Nudem/DPE-AM, e as imagens são do fotografo Clóvis Miranda. Para Pollyana, o mês da mulher, celebrado em março, deve ser não só de comemoração, mas de reflexão. A iniciativa conta com o apoio da Central de Exposições da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC).

“Queremos deixar uma mensagem de reflexão. A nossa intenção é demonstrar o que a equipe do Núcleo de Defesa da Mulher vivencia todos os dias. É para que todos visualizem que essas mulheres existem. A violência contra a mulher é, geralmente, tratada como estatística e não como tragédia. Nós queremos mostrar que isso é uma tragédia, que essas mulheres existem, que elas sofrem violência”, afirma a defensora pública.

Os depoimentos de vítimas de diferentes tipos de agressão contra a mulher, segundo Pollyana, serve também para tirar o foco apenas da violência doméstica. “São exemplos do que as mulheres vivem todos os dias. Há um silenciamento dessas mulheres e a exposição é para mostrar o que essas mulheres passam. Temos expostos vários tipos de violência. É para impactar mesmo”, explica.

A exposição ficará aberta à visitação de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, na sede administrativa da DPE-AM, localizada na avenida André Araújo, 679, Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus.

Mulheres vítimas de violência podem procurar atendimento da Defensoria no Núcleo de Defesa da Mulher, localizado na rua Presidente Kennedy, 399, Colônia Oliveira Machado, Zona Sul de Manaus. O serviço acontece de segunda a quinta-feira, das 8h às 14h. O telefone é (92) 3232-1356. Em 2019 o Nudem/DPE-AM realizou 9,4 mil atendimentos.

Combate ao feminicídio

A inauguração da exposição aconteceu no Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. Para o defensor geral do Amazonas, Ricardo Paiva, com iniciativas como a mostra recém-aberta, a Defensoria busca conscientizar as pessoas do papel delas na sociedade.

“Na exposição, a gente quer fazer um trabalho de conscientização dos homens. A gente percebe que apenas o trabalho repressivo, quando a mulher já foi vítima de violência, ele não surte o efeito desejado. Qual a ideia de agora? Nós conscientizarmos os homens de que precisamos proteger as mulheres. Se os homens não entenderem o papel deles nessa luta, nada disso vai surtir efeito”, afirmou Paiva.

Encorajamento

Para a secretaria estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Sejusc), Caroline Braz, a exposição da Defensoria Pública encoraja mulheres a denunciarem casos de violência.

“A partir do momento em que uma mulher enxerga em outra que ela já passou pela mesma situação e conseguiu vencer aquele momento triste, ela acaba criando coragem. Estatísticas comprovam que as mulheres demoram, em média, dez anos até criar coragem para denunciar. Elas não percebem o início do ciclo da violência”, avaliou a secretária, que acompanhou a inauguração.

Atuando no Amazonas como consultora em audiência de custódia do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a advogada Luanna Marley, elogiou o fato de a exposição dar voz a mulheres vítimas de violência.

“Presenciando o cotidiano do Amazonas, todos os crimes, os flagrantes que passam pelo fórum, a gente vê que há um número alarmante de violência contra a mulher, em relação aos flagrantes. Quando uma instituição pública dá visibilidade a essa voz, isso representa simbolicamente, mas também politicamente o quanto o Estado também está preocupado em combater as diversas formas de violência contra a mulher”, destacou.