RIO E SÃO PAULO — O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) foi preso mais uma vez na manhã desta sexta-feira em seu apartamento, em Curitiba, por volta das 7h. Investigado em um esquema de corrupção na concessão de rodovias no Paraná e acusado de ser beneficário de R$ 2,7 milhões em propinas , Richa é suspeito de obstruir a investigação e tentar influenciar o depoimento de testemunhas.
Além da prisão preventiva de Richa, o juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23ª Vara da Justiça Federal, também determinou a prisão do contador Dirceu Pupo Ferreira, tido como homem de confiança do tucano. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a mando de Richa, Dirceu tentou mudar a versão de um corretor de imóveis sobre apartamentos comprados pela família do governador supostamente com dinheiro de propina.
No despacho, o magistrado afirma ter indícios de autoria de Richa nos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Além das prisões, foi determinada a apreensão dos celulares de Richa e Ferreira.
O ex-governador paranaense já havia ficado preso por quatro dias em setembro do ano passado, no meio de sua campanha para o Senado, quando foi alvo de duas operações policiais. Ele foi solto no dia 15, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes .
No processo que gerou o pedido de prisão desta sexta-feira, o MPF investiga a compra de três imóveis por parte da família Richa entre 2010 e 2013 para lavar dinheiro de propina. Os apartamentos e salas comerciais estão registrados em nome de uma empresa da família, Ocaporã Administradora de Bens.
Segundo a investigação, o contador solicitava que os corretores de imóveis colocassem, nas escrituras, um valor abaixo do que realmente ele pagou. “A diferença era paga em espécie, de forma oculta, com propinas”, afirma a investigação.
Pressão sobre testemunha
A obstrução da investigação aconteceu em 8 de agosto do ano passado, segundo o MPF. Naquele dia, Ferreira, o contador de Richa, foi até o escritório de um dos corretores com quem tinha feito negócio no passado, Carlos Augusto Albertini.
Ao prestar depoimento, Albertini disse aos procuradores que Ferreira pediu que ele não contasse às autoridades que parte do imóvel que vendeu para a família Richa foi paga com dinheiro em espécie, não declarado na escritura.
“O fato concreto apresentado pelo MPF é extremamente grave, evidenciando a tentativa de embaraçar a investigação, o que justifica a decretação da preventiva”, escreveu o juiz Ribeiro.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF) a corrupção na concessão de rodovias do chamado Anel de Integração do Paraná gerou dois esquemas de pagamento de propina.
O primeiro começou em 1999, com a distribuição de “mensalinhos” que somaram R$ 35 milhões até 2015. O pagamento de propina durou tanto tempo que chegou a ser atualizado pela inflação – no início do esquema R$ 120 mil eram rateados entre agentes públicos todos os meses; no final, o valor já subira para R$ 240 mil.
Já o segundo esquema indentificado pelo MPF movimentou R$ 20 milhões entre 2011 e 2014. Além da arrecadação do mensalinho, agentes do governo estadual do Paraná cobravam 2% de cada contrato do DER/PR. Este segundo esquema teria beneficiado Pepe Richa, irmão do ex-governador, preso em setembro na Operação Integração II.
Fonte: O Globo