Com técnica ‘Avatar’, educadores promovem inclusão no projeto ‘Aprender, Conviver e Lutar’

O pedido da mãe de uma criança com paralisia cerebral levou os professores do projeto “Aprender, Conviver e Lutar”, executado pela Prefeitura de Manaus, a desenvolverem a técnica do ‘Avatar’. Por meio do jogo do faz de conta, a iniciativa transporta os participantes para outra dimensão, com movimentos simples de jiu-jitsu criados exclusivamente para alunos com paralisia cerebral e autismo.

 

A ação visa fazer a diferença na vida social dos estudantes da educação especial da rede pública de ensino. Criado em 2013, o projeto, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Educação (Semed-Manaus), já atendeu mais de três mil crianças. Atualmente, conta com seis polos, com alunos da educação regular e especial. Segundo o coordenador de Educação Física da Semed, Ronnie Mello, o grande diferencial é a ação educacional.

 

“Utilizamos a luta como estratégia de ensino-aprendizagem. Todos que trabalham no projeto têm experiência na luta e formação acadêmica, não se pode fazer um combate solto, por isso, essas aulas são acompanhadas pela equipe pedagógica. O ‘Aprender, Conviver e Lutar’ é o nosso carro-chefe, tendo como mentor o próprio prefeito Arthur Virgílio Neto, um dos maiores incentivadores do jiu-jitsu no Amazonas, e que hoje está totalmente consolidado”, pontua Mello.

 

As aulas de jiu-jitsu para os alunos da educação especial são realizadas as quartas-feiras, a partir das 9h, na Escola Municipal de Educação Especial André Vidal Pessoa, zona Centro-Sul de Manaus. Atualmente, a turma conta com 30 alunos.

 

De acordo com o chefe da Divisão de Educação Infantil, Alexandre Romano, um dos professores do projeto, o apoio dos pais é fundamental. “Esse projeto seria inviável se não fossem as parcerias, a principal delas é a dos pais, que fazem parte do processo. Sem eles, seria impossível desenvolver esse trabalho”, comenta o professor, que também explicou detalhes da técnica ‘Avatar’.

 

“O projeto surgiu a partir do pedido da mãe do Samuel, um aluno da escola André Vidal que tinha paralisia cerebral e que, infelizmente, já faleceu. Quando a mãe dele nos procurou, pensamos como fazer jiu-jitsu para uma criança que não se mexia. Foi aí que desenvolvemos o ‘Avatar’, técnica que só existe em Manaus, onde o corpo do professor entra em contato com o corpo da criança e assim ela consegue se mexer, com movimentos específicos para que os alunos especiais conseguissem praticar o jiu-jitsu”, explica o Romano.

 

E foi assim que o tatame do ‘Aprender, Conviver e Lutar’, que já trabalhava a inclusão com turmas de autistas, passou a receber também alunos com paralisia cerebral.

 

“O projeto é bonito porque o tatame está sempre cheio de pessoas que querem promover o desenvolvimento social dessas crianças. Elas não terão uma melhora física porque a patologia delas é irreversível, principalmente as que têm paralisia cerebral, mas o ganho social e cognitivo é imensurável, porque elas começam a pensar, a imaginar, a ter uma vivência”, comenta Romano.

 

Técnica

 

A técnica do ‘Avatar’ trabalha o jogo simbólico e as funções executivas cerebrais. Para que as crianças obedeçam aos comandos, os professores utilizam uma rotina, toda aula inicia com a roda de música, seguida de ginástica e termina com o ‘combate’. Dessa forma, mesmo as crianças com paralisia cerebral conseguem aprender os movimentos.

 

Para Jussara Castro, 44, mãe de Francisco Lucas, 18, que tem paralisia cerebral e epilepsia, o projeto é muito importante para o desenvolvimento do menino. “Antes do jiu-jitsu, o Francisco era muito dependente e agora ele adquiriu várias habilidades, como sair da cadeira de rodas sozinho, algo que antes ele não conseguia fazer. Hoje ele frequenta uma academia e participa de campeonatos também, tudo graças a esse projeto maravilhoso. Meu filho ama praticar jiu-jitsu”, comentou Jussara, que é dona de casa.

 

Agatha Vieira, 18, tem paralisia cerebral e participa do projeto há pouco mais de um mês. A mãe dela, Alcinara Ferreira conta que a menina gosta cada vez de fazer parte do “Aprender, Conviver e Lutar”.

 

“Já tem um tempo que eu queria que ela participasse e, graças a Deus, conseguimos. Eu sei que ela gosta da aula de jiu-jitsu, porque no tatame ela sempre fica muito sorridente. Acho que esse projeto é uma grande oportunidade para mostrar, que apesar das dificuldades, os nossos filhos são capazes de muita coisa. Cada evolução da minha filha, por menor que seja, me faz muito feliz”, comenta.

 

O projeto ‘Aprender, Conviver e Lutar’ é coordenado por Ronnie Melo. As aulas da técnica ‘Avatar’ são ministradas pelos professores de educação física Alexandre Romano, Adrio Atori e Edvandro Alves e contam com o apoio dos estagiários Gabriela dos Santos e Ricari Lima.