“A indústria alimentícia utiliza pistas ambientais que associam seus produtos a aspectos positivos e sedutores, predispondo ações voltadas à aproximação desses alimentos sem que o consumidor perceba”.
O alerta foi dado pela nutricionista e doutora em Ciências Biológicas, Isabel de Paula Antunes David, do Instituto Biomédico, do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, durante palestra do Centro de Estudos, promovido pelo Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi), da Fiocruz Amazônia, no último dia 7/06.
Segundo a especialista, para capturar os consumidores, a indústria alimentícia incorpora técnicas de neuromarketing, tendo como embasamento teórico a Psicologia e a Neurobiologia, para sutilmente influenciar as preferências alimentares e de consumo, por exemplo, através do estabelecimento de associações de marca com emoções positivas.
A importância do tema foi destacada também pelo epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fiocruz Amazônia e chefe do Legepi, ressaltando a relação entre Neurociências e Saúde Pública.
Segundo ele, a oportunidade de discussão proporcionada reforça a importância estratégica do Centro de Estudos para discussões com temas que transcendem o universo acadêmico.
“Hambúrgueres, refrigerantes, biscoitos, e enlatados em geral fazem parte da nossa rotina diária e não nos apercebemos do quanto são prejudiciais, cabendo à pesquisa científica buscar alternativas e estratégias de proteção à saúde da população”, afirma Orellana.
O pesquisador ressalta que o tema abordado, além de ser atual e praticamente desconhecido pelo grande público, teve lugar justamente no “Dia Mundial da Segurança dos Alimentos”, comemorado, anualmente, em 7 de junho.
“A palestra certamente cumpriu com o principal objetivo do nosso Centro de Estudos, o de oportunizar a discussão de temas ligados à pesquisa e que são de interesse comunitário. Ademais, as interações entre pesquisadores convidados e a comunidade do Centro de Estudos podem fortalecer ou gerar novas articulações com grupos de pesquisa ou Programas de Pós-Graduação de fora do Amazonas”, observou.
Isabel David explica que a compreensão detalhada dos processos psicológicos e neurobiológicos implicados nas estratégias de marketing pode ajudar os setores de saúde a determinar os métodos mais eficazes de proteger a população contra essa influência indesejada.
“É importante desenvolver habilidades para melhorar a defesa contra as influências nocivas da publicidade de alimentos não saudáveis, alertando os pais, educadores e autoridades de saúde para as formas sutis de manipulação do comportamento, e como elas afetam principalmente crianças e adolescentes.
Além disso, é preciso ainda limitar as práticas de publicidade agressiva voltada aos alimentos ultraprocessados e agregar o conhecimento científico interdisciplinar para desenvolver ações de promoção da alimentação saudável e inibição do consumo de alimentos não saudáveis”, defende.
SOBRE A PALESTRANTE
Graduada em nutrição pela Universidade Federal Fluminense (2003), Isabel de Paula Antunes David possui mestrado (2005) e doutorado em Ciências Biológicas (2008) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho), ambos na área de neurofisiologia.
Desenvolveu parte do seu doutorado no Laboratório de Psicofisiologia da Universidade de Granada (Espanha) em 2007 através do programa de doutorado-sanduíche da CAPES, mantendo colaboração com este grupo desde então. Isabel foi bolsista de pós-doutoramento do CNPQ em 2009 realizando, neste período, projetos no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB).
Em 2009, foi contemplada com o Research Fellowship Training Awards oferecido pela Society for Psychophysiological Research, recebendo treinamento em eletroencefalografia através do professor Dr. Andreas Keil da Universidade da Flórida (EUA), com o qual continua mantendo colaboração.
CENTRO DE ESTUDOS
O Centro de Estudos do ILMD/Fiocruz Amazônia é um núcleo que oportuniza encontros, palestras, seminários e debates sobre diversos temas ligados à pesquisa e ao ensino para a promoção da saúde. Os eventos são gratuitos e ocorrem às sextas-feiras. As atividades são destinadas a estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e trabalhadores da área da Saúde.
Fonte e Fotos: Divulgação / Fiocruz Amazônia