Enviado especial dos EUA para a Venezuela diz que ainda não é hora para intervenção militar

BOGOTÁ E CARACAS – Apesar de o presidente dos EUA, Donald Trump, repetir que “todas as opções estão na mesa” para lidar com a Venezuela, seu enviado especial para o país, Elliot Abrams, afirmou nesta quinta-feira em entrevista a uma rádio colombiana que ainda não é hora para uma intervenção militar que retire o presidente venezuelano Nicolás Maduro do poder. A declaração atraiu críticas de setores mais radicais da oposição a Maduro, que veem na ação a saída da crise no país.

— A situação está piorando na Venezuela a cada dia, mas não creio que na Europa, América Latina, Canadá ou Estados Unidos estejamos pensando neste momento em uma ação militar — disse Abrams à Rádio Caracol, sobre possível invocação do artigo 187 da Constituição venezuelana pelo líder opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por EUA, Brasil e cerca de 50 outros países. — Seria prematuro fazê-lo – acrescentou.

Ainda assim, Abrams reiterou a posição de seu chefe Trump de que “todas as opções estão na mesa”, inclusive “medidas bastante duras” caso Guaidó seja preso após ter sua imunidade parlamentar revogada esta semana pela Assembleia Nacional Constituinte, convocada em 2017 por Maduro para anular os poderes da Assembleia Nacional, eleita em 2015 e de maioria oposicionista.

— Temos um menu de opções e coisas que podemos fazer contra o regime que o vão afetar muitíssimo — contou. — Temos medidas muito fortes preparadas.

O descarte, ainda que temporário, de uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA na Venezuela, porém, não caiu bem em alguns setores da oposição venezuelana reunidos na chamada Fração 16 de Julho da Assembleia Nacional, na qual se agrupam deputados da Vente Venezuela, da Aliança Bravo Povo e da Convergência.

“As declarações de Elliot Abrams deixam duas coisas claras: 1. Estamos de acordo com o objetivo e os métodos 2. Temos diferenças nos tempos Nós venezuelanos temos a obrigação de fazer com que nosso tempo se imponha”, escreveu em sua conta no Twitter a deputada María Corina Machado, líder da Vente Venezuela. Corina vinha pressionando Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, a invocar o artigo 187 para pedir uma intervenção estrangeira contra Maduro. Há controvérsia inclusive jurídica, já que o artigo foi pensado para autorizar a participação venezuelana em forças de paz ou o ingresso de forças estrangeiras na Venezuela para exercícios militares conjuntos, e não para uma ação destinada a intervir na política interna do país.

Já com relação à presença militar russa na Venezuela, Abrams afirmou que ela é “100% negativa” e uma contradição em relação aos protestos de Maduro contra uma eventual intervenção militar estrangeira no país.

— (A Rússia) tem cem ou 200 militares (na Venezuela) e isso não ajuda de nenhuma maneira o povo — avaliou. — Não trazem remédios nem comida, só soldados que não podem mudar a situação humanitária nem a política e, pelo contrário, querem manter a ditadura.

 

Fonte: O Globo