Cultura

Enredo da Mangueira para 2025 destaca a permanência da cultura Bantu no Rio de Janeiro

Muitas palavras que fazem parte do cotidiano dos brasileiros, como samba, quilombo, angu, quitute e quiabo, têm origem no idioma Bantu

A Estação Primeira de Mangueira é uma das escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro. No carnaval de 2025, ela apresentará um enredo que revisita a história dos povos Bantu. O título do enredo é À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões. Ele abordará a resistência e a permanência da cultura Bantu na cidade. O tema incluirá a diáspora africana e suas implicações históricas e socioculturais.

A cultura Bantu e suas raízes no Rio

Muitas palavras que fazem parte do cotidiano dos brasileiros, como samba, quilombo, angu, quitute e quiabo, têm origem no idioma Bantu. Este grupo de línguas e culturas vem da região dos Grandes Lagos, na África. Ele inclui países como Angola, Moçambique e África do Sul. Esse grupo influenciou profundamente a formação cultural do Brasil. A influência foi especialmente forte nas regiões com grande concentração de negros escravizados, como o Rio de Janeiro.

Um dos aspectos mais significativos do enredo é a abordagem das Casas de Zungu, espaços de acolhimento para os ex-escravizados, que se tornaram centros de resistência e de preservação da cultura africana. Essas casas, que eram comuns no Rio, desempenhavam um papel crucial na formação de um sistema de proteção e solidariedade entre os negros da cidade. A Mangueira, com seu enredo, resgata a importância histórica dessas casas, que representavam um refúgio contra a perseguição e uma expressão de resistência cultural.

O legado da diáspora africana e a resistência Bantu

Sidnei França, carnavalesco da Mangueira, revela que cerca de 80% dos negros trazidos para o Rio de Janeiro durante o período da escravidão eram originários da cultura Bantu. A escolha desse tema reflete não apenas uma pesquisa profunda, mas uma tentativa de resgatar e afirmar as raízes Bantu presentes na sociedade carioca.

O enredo divide-se em setores que retratam diferentes momentos dessa jornada. O desfile começa com a travessia dos escravizados africanos até o Rio, passando pela religiosidade sincrética, e segue para as Casas de Zungu, locais de resistência e apoio. A Mangueira retratará as contribuições culturais Bantu, como o uso do quiabo na culinária e a influência do idioma Bantu no português falado no Brasil.

A luta contra a invisibilidade cultural

A Mangueira também abordará o impacto cultural dos Bantu nas expressões artísticas e sociais contemporâneas. Um dos destaques será a relação da cultura Bantu com ritmos musicais como o samba e o funk.

Além disso, o enredo não deixará de trazer à tona questões sociopolíticas contemporâneas, com um foco na figura do cria, personagem simbólico que representa a juventude da favela e os desafios que enfrenta. O desfile será um manifesto que aborda as questões de marginalização e invisibilização das comunidades negras, propondo um debate sobre o futuro da juventude carioca.

A Mangueira e seu compromisso com a identidade negra

A identificação da comunidade Mangueira com o enredo é imediata. A escola, localizada no Morro da Mangueira, tem um vínculo profundo com a cultura negra e o discurso racial e étnico. Este ano, a Mangueira promete não só resgatar a memória histórica do Rio, mas também afirmar sua identidade como uma escola que representa a verdadeira face da cultura carioca, com um discurso que celebra a resistência e o protagonismo negro.

Conclusão

O enredo da Mangueira para 2025 é mais do que uma homenagem à cultura Bantu – é um grito de resistência e afirmação. Com um desfile que promete mexer com as estruturas históricas e sociais da cidade, a escola verde e rosa trará à tona o legado de um povo que, apesar das adversidades, conseguiu manter viva sua cultura e identidade.

Fotos: Fernando Frazão/Agência Brasil

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