Em ofensiva anti-Maduro, Brasil deve defender ações duras em reunião do Grupo de Lima

BRASÍLIA – Em sua primeira viagem internacional como chanceler, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participará hoje no Peru de uma reunião do Grupo de Lima, formado por 14 países do continente. A expectativa de fontes da diplomacia é que Brasil, Colômbia e Peru se aliem na defesa de medidas mais duras contra o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cuja reeleição em maio passado não foi reconhecida pelo bloco, que a considerou ilegítima.

A proposta a ser apresentada pelo Brasil na reunião que acontecerá na capital peruana, porém, só deverá ser conhecida hoje. Araújo evitou revelar qual a posição tomada pelo novo governo brasileiro. A ida do chanceler ao Peru é vista como seu primeiro teste, na qualidade de ministro de Estado, em uma complexa negociação internacional.

A tentativa de alcançar uma posição de consenso pode ser dificultada pelo México, que, sob o novo governo do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, já anunciou que se oporá a medidas mais duras como o rompimento das relações diplomáticas com Caracas.

O Grupo de Lima se articulou em 2017, ano em que cerca de 125 pessoas morreram em manifestações contra o governo Maduro. Desde 2015, o país vem mergulhando cada vez mais numa profunda crise política, social, econômica e humanitária que já levou mais de três milhões de venezuelanos a deixarem o país, no maior êxodo de sua História. A maior parte foi para países vizinhos, sobrecarregando seus sistemas de ajuda humanitária. A inflação prevista para 2018 era de 1.000.000%, e há escassez generalizada de alimentos e medicamentos, que chega a 90% em alguns casos.

A reunião do Grupo de Lima ocorre na mesma semana em que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, visitou o Brasil e a Colômbia para tratar da situação do que ele chamou de “governos ditatoriais” da Venezuela, de Cuba e da Nicarágua. Em Brasília, Pompeo se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro, o chanceler Araújo e, em outro encontro em separado, com o ministro das Relações Exteriores do Peru, Nestor Popolizio.

Pressão americana

Em Cartagena, o secretário de Estado esteve com o presidente colombiano, Iván Duque. Os Estados Unidos não fazem parte do Grupo de Lima, mas estão articulando uma frente para isolar e combater o regime venezuelano. Pompeo elogiou o governo Duque pela pressão contra Caracas.

— A grande tradição democrática da Colômbia a converte em um líder natural nos esforços regionais para apoiar a democracia e o estado de direito na Venezuela — destacou Pompeo, após se reunir anteontem com o presidente colombiano na Casa de Hóspedes de Cartagena.

Iván Duque, que assumiu o poder em 7 de agosto sob a promessa de isolar diplomaticamente o regime venezuelano, tenta encabeçar a oposição regional a Caracas. Há poucos dias, pediu aos países “defensores da democracia” que não reconheçam o novo governo de Maduro, cuja posse está prevista para 10 de janeiro. As eleições em que o herdeiro de Hugo Chávez obteve novo mandato foram boicotadas pela oposição e criticadas por denúncias de fraudes. Boa parte da comunidade internacional, incluindo o Grupo de Lima e os EUA, decidiu não reconhecer a legitimidade do pleito.

— Todos os países que defendemos a democracia devemos nos unir para rechaçar a ditadura da Venezuela e restabelecer a ordem constitucional — ressaltou Duque, após a reunião com Pompeo.

Entre as medidas que poderão ser discutidas em Lima estão o rompimento das relações diplomáticas com a Venezuela — sugerida no mês passado pelo Peru — e a apresentação de uma denúncia contra o regime de Caracas ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Outra ação seria pedir ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que condene o regime de Maduro. Porém, essa possibilidade é mais difícil de se concretizar, devido às alianças de Caracas com vários países, incluindo China e Rússia.

Segundo uma fonte do governo brasileiro, apesar da disposição do presidente Bolsonaro de jogar duro com a Venezuela, não está em pauta a intervenção militar no país vizinho. O próprio Grupo de Lima já descartou essa possibilidade em setembro, ao condenar o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luís Almagro, por defender tal alternativa.

Em dezembro, sem apresentar provas, Maduro vinculou Duque e Bolsonaro a um suposto plano organizado pelos EUA para derrubá-lo do poder e até assassiná-lo. A recente expulsão de funcionários de ambos países e a chegada à Venezuela de bombardeiros russos elevaram a tensão com Brasil e Colômbia, com os quais a Venezuela compartilha mais de 2,2 mil quilômetros de fronteira. Em entrevista ao SBT, Bolsonaro disse ontem haver razões de preocupação com os laços de Moscou com “a ditadura venezuelana”. (Com agências internacionais)

Fonte: O Globo