De origem pobre, filha de mãe solteira, negra e travando uma batalha familiar contra o câncer que acometeu a mãe, a alagoana Thaysa de Torres Souza emocionou o público e autoridades presentes na cerimônia de posse dos novos defensores e defensoras públicas do estado do Amazonas, realizada nesta segunda-feira (21), na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM).
Após nove anos tentando a aprovação em concursos para defensorias públicas de todo o país, a bacharel em Direito foi uma dos oito empossados na solenidade. Ao representar a turma de novos defensores, ela ressaltou a importância das políticas de inclusão no combate à desigualdade social estruturada no Brasil. Fez isso a partir da sua própria história, cujos últimos capítulos terminaram por levar aos prantos boa parte dos presentes na cerimônia.
“Passaram mais de dois anos desde que minha mãe foi diagnosticada com câncer de pâncreas. Minha rotina de estudos pra concurso foi trocada por acompanhamento em cirurgia, UTI, radioterapia. Achei diversas vezes que ela não pudesse comparecer a essa cerimônia, seja pela letalidade da doença em si ou pelos efeitos colaterais tão cruéis da quimioterapia. Ela continua o tratamento, mas já apresentou melhora e conseguiu alta para viajar e estar aqui hoje”, disse a nova defensora, emocionada e sob o aplauso dos presentes.
“A fragilidade da vida nos traz a consciência de valorizar ainda mais as pessoas que amamos”, disse Thaysa, que ressaltou ainda a importância de se lutar contra a desigualdade dentro do sistema de justiça, em especial a Defensoria Pública, pelo papel constitucional de defesa dos mais vulneráveis. “O sofrimento é inerente ao ser humano, mas é imprescindível diferenciá-lo quando é consequência da privação das condições de humanidade. A dor da desassistência, do preconceito, da violência, da violação dos direitos humanos e sociais. O ponto de distinção é o sofrimento evitável”, destacou.
“Sou filha de mãe solo, professora da rede pública de ensino, estudei em escola pública e fui cotista na Universidade Federal na terra de Zumbi dos Palmares, o estado de Alagoas. Busquei por nove anos a aprovação para o concurso de defensor e posso garantir que políticas públicas que promovam o acesso à educação de qualidade são capazes de mudar histórias e quebrar a muralha da pobreza. Por meio da Defensoria, nós também queremos mudar histórias”, declarou a nova defensora.
Foram empossados nesta segunda-feira na DPE-AM: Thaysa Torres Souza, Isabela do Amaral Sales, Raisa Posella da Costa Machado, Danielle Mascarenhas Cunha de Almeida, Elton Dariva Staub, Daniel Bettanin e Silva, Ícaro Oliveira Avelar Costa, Elaine Maria Sousa Frota e Eliaquim Antunes de Souza Santos.
Estiveram presentes na cerimônia de posse os deputados Sinésio Campos (PT) e Therezinha Ruiz (PSDB), o defensor-geral do estado do Amazonas, Ricardo Paiva, a secretária de Administração e Gestão (SEAD), Inês Simonetti, o procurador-geral do Município de Manaus, Marco Aurélio Choy, entre outras autoridades. A Adepam esteve representada pelo presidente da associação, o defensor Arlindo Gonçalves Neto.
Na ocasião, o presidente, que é defensor na área da saúde, pediu um minuto de silêncio para as mais de 500 mil vidas brasileiras ceifadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil e aproveitou para dar as boas vindas as novas defensoras e novos defensores públicos do Amazonas, ressaltando a importância do papel da Defensoria Pública, assim como da Adepam.
“Certamente, após aprovados entre milhares de candidatos numa seleção envolvendo 15 disciplinas em quatro fases, incluindo provas escritas e avaliação oral, os novos colegas têm o artigo 134 da Constituição Federal ainda na ponta da língua. Dentro de pouco tempo, os senhores, nobres colegas, serão postos a uma prova que não tem gabarito nem pódio de chegada: o ser defensor público de fato, o defensorar do cotidiano, longe do glamour idealizado das carreiras jurídicas, e não raro na posição contrária, na defesa exatamente dos esquecidos, dos invisíveis”, disse o defensor e presidente da Adepam, que colocou a associação à disposição dos defensores, como um “ponto de apoio na luta pela manutenção de prerrogativas e garantias”.
A vice-presidente da Associação Nacional dos Defensores e Defensoras Públicas (Anadep), Rita Lima, que participou do evento de forma virtual, falou da dificuldade inerente ao trabalho do defensor, em especial em um tempo de “ataques aberto aos direitos humanos e aos serviços públicos”. “Mas toda vez que penso nas dificuldades que temos enfrentado, sugiro para que olhem para o lado. Nós não estamos sós”, disse ela, destacando o trabalho associativo desenvolvido pela Anadep e pelas associais estaduais.
Defensor-geral anuncia concurso
Na solenidade de posse dos novos defensores, o defensor público geral do Estado, Ricardo Paiva, anunciou um novo concurso para o quadro de defensores da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM).
O certame permitirá reduzir o déficit de defensores e ampliar o alcance do atendimento da instituição no interior do Estado. Até então, a Defensoria amazonense contava com 130 defensoras e defensores públicos, tendo um déficit de 43,9% em relação ao quantitativo previsto em lei. Com os novos membros, o número de defensores passou para 138.