Em Audiência Pública da Aleam pesquisadores alertam para risco de aumento dos casos de Covid-19 no Amazonas

Em Audiência Pública Virtual realizada pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), nesta segunda-feira (8), cientistas, parlamentares, professores e a sociedade amazonense, por meio, das redes sociais debateram os riscos do retorno das atividades presenciais durante a pandemia do coronavírus (COVID-19).

De acordo com o presidente da Casa Legislativa, deputado Josué Neto (PRTB), propositor do debate, prefeitos e secretários de Saúde dos municípios receberão a Ata da reunião por meio da Associação Amazonense de Municípios (AAM) e uma nova audiência já está sendo elaborada para discutir o tema com autoridades do Estado.

De acordo Josué, o relaxamento do isolamento social tem sido tratado desde o início da pandemia pela população. “Ela limita a todos, os estudantes, os acadêmicos, a nossa vida em família, nossa vida profissional, nossa vida pessoal. A Assembleia Legislativa foi a primeira instituição pública a anunciar que iria fazer um trabalho virtual e de forma remota. A nossa Casa é o local adequado para este debate, que é um debate importante, que foi divulgado e transmitido pelas rede sociais”, afirmou o presidente.

Os deputados Serafim Corrêa (PSB), Dra. Mayara Pinheiro Reis (PP) e Augusto Ferraz (DEM) também participaram da reunião virtual e explanaram suas ideias em relação a reabertura das atividades durante a pandemia do coronavirus.

“Tivemos muitas aulas de pessoas que têm conhecimento profundo da questão. Entendo que devemos ter mais cautela, vamos aguardar mais uns dias, se essa curva dos sepultamentos terá uma inflexão ou não, e aí, nós vamos tirar mais conclusões, mas com uma temeridade de voltar escolas e uma série de setores não estão preparados”, disse Corrêa.

Para a deputada Mayara Pinheiro, que é presidente da Comissão de Saúde e Previdência da Assembleia Legislativa do Amazonas, a discussão é muito importante para a sociedade, meio científico e a classe política. “Essa pandemia veio para expor todas as fragilidades da saúde no nosso país, ensinar nós políticos e gestores do SUS (Sistema Único de Saúde). É um momento de fortalecimento. Na Comissão de Saúde tive a oportunidade de escutar muitas pessoas, vários doutores e temos discutido que medidas podem ser trazidas aqui para o Amazonas. A questão cultural nos prejudica um pouco, o isolamento social nunca chegou ao 70%. O máximo que chegou aqui em Manaus foi ao patamar de 40%”, explicou Dra. Mayara.

Segundo o professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e sociólogo, Luiz Fernando, o Estado começou o combate ao COVID-19 de forma equivocada, enquanto outros países estavam se preparando para o isolamento social, o Governo estava enfrentando os problemas na invasão Monte Horebe, na Zona Norte de Manaus. “São resultados de um Governo que não foi capaz de se preparar para a Covid-19, que estava sendo anunciado desde janeiro. Tivemos o pico de casos em abril e no mês de maio, que as taxas declinaram, ou seja, os leitos de UTI (Unidade Terapia Intesiva) começaram a respirar, e nesse cenário o Governo toma a decisão da medida gradual. Eu vejo essa medida como assustadora”, destacou.

Conforme a Dra. Luiza Garnelo, da Fundação Oswaldo Cruz, os dados produzidos são colados com as necessidades da sociedade, ou seja, a saúde coletiva brasileira produz uma ciência voltada ao compromisso com a população. “Tenho algumas informações de uma pesquisa encomendada do Ministério da Saúde, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas, e maior parte dos dados que estamos trabalhando são dados de notificação de casos. Precisamos intesificar esse atendimento pré-hospitalar, detecção de casos e esse é um desafio importante do Estado”, frisou a médica.

O médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FMT), Bernardino Albuquerque também afirmou que o processo de abertura chega em uma ocasião imprópria. “Nós não tínhamos nenhuma resposta efetiva, se vamos abrir ou continuar nessas medidas de restrições. O que nós tivemos aí que foi inerente as medidas de contenção. A melhora da qualidade dos pacientes, isso interferiu na mortalidade por essa doença, no entanto, a ciência nos mostra que a situação não está concluída. Nós ainda temos aí uma situação futura muito preocupante, de ter uma segunda onda que possivelmente poderá ser pior do que a primeira”, disse.

Problemas no interior do Estado
O Dr. Nelson Fraiji, da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) também destacou os problemas que o interior tem vivido com a pandemia do novo coronavírus. “Nós vamos viver um drama muito grande no interior. Tudo indica que a disseminação vai ocorrer com mais intensidade no interior, o drama, o resultado humano vai ser muito pior do que aconteceu na capital. O interior é outro espaço geográfico”, afirmou.

Causa de mortes
O cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e professor Lucas Ferrante comentou que esse é um debate que se faz necessário e que essa abertura do isolamento social pode causar a morte de 7 mil pessoas no Amazonas. “Podemos ter um colapso ainda maior. Temos uma escalada ainda no interior para prejudicar ainda mais. É importante colocar que tem um estudo que países que que tiveram medidas restritivas recuperaram as atividades econômicas em um tempo mais rápido. Resolver a saúde pública resolve a economia, no entanto, abrir as atividades econômicas nesse momento é contraindicado, e sim um isolamento social mais rigoroso”, informou o cientista.

Números
Segundo o professor Alexander Steinmetz, diretor do Departamento de Matemática da Ufam, estudos realizados pela universidade federal mostram que a população amazonense estaria contaminada de 10% a 15%. “É importante ressaltar a título de comparação que a unidade de rebanho do Sarampo é atingida quando 90% da população tem contanto com o vírus, e mesmo assim nós temos surtos anuais surgindo nas pessoas receptivas, então, nós estamos muito longe de atingir a imunidade de rebanho no momento. É algo muito especulativo. Todos os estudos científicos mostram que estamos muito longe de atingir isso”, explicou.