DAVOS — O diplomata e político egípcio Amre Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe , disse ao “Valor Econômico” que a decisão brasileira de transferir o endereço da embaixada em Israel já compromete a imagem de simpatia e apreço da comunidade islâmica com o país.
Fere a imagem internacional do Brasil”, afirmou Moussa, que liderou o grupo de 22 nações de maioria muçulmana entre 2001 e 2011. “Enxergamos o Brasil com muita estima. Rezamos pelo sucesso do novo governo, mas ele não deveria começar alienando 300 milhões de pessoas”, disse, em conversa durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Para Moussa, ainda há uma esperança de reconsideração no anúncio de transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Israel. Ele considerou que o embargo da Arábia Saudita, nesta terça-feira, a frigoríficos brasileiros que exportam carne de frango pode ser entendido como exemplo de represália — embora tenha ressaltado falar apenas em teoria e sem conhecimento específico do episódio. Mas fez um apelo emotivo ao presidente Jair Bolsonaro: “O povo árabe é um amigo natural do Brasil. Não percam a amizade do povo árabe”.
Os sauditas são os maiores compradores de frango brasileiro e alegaram questões técnicas para justificar o embargo. Mesmo assim, a medida foi suficiente para criar ruídos sobre o futuro da relação comercial entre o Brasil e mercados do Oriente Médio e do Norte da África. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, esteve na posse de Bolsonaro em Brasília e ouviu do novo presidente que a decisão de mudar a embaixada estava tomada. Seria apenas questão de tempo para implementar a mudança.
Para o ex-secretário-geral, foi uma deliberação “dada de graça” pelo novo governo brasileiro, baseada em “informações falsas”. “A nossa opinião pública não aceita isso”, reclamou. Ele fez questão de ressaltar: os árabes não têm “nenhuma animosidade” com os judeus, mas veem como uma ofensa a política israelense de “negar os direitos palestinos e colonizar territórios sem que haja legitimidade internacional”.
“Jerusalém é a capital de dois Estados: de Israel e da Palestina”, insistiu. “Eu acredito que o novo presidente talvez reconsidere, esperamos que ele não ceda a isso”, acrescentou Moussa, que assistiu ao discurso feito ontem à tarde por Bolsonaro no Congress Hall, a principal tribuna para chefes de Estado que se deslocam aos Alpes suíços para participar do fórum.
Fonte: O Globo