No princípio, as deusas e deuses criaram Parintins, território sagrado de encantarias e mistérios. Suas gentes, expressão divina da criação, passaram a ser dotadas de saberes e fazeres específicos, um talento cuja vocação se faz presente em cada gesto e em cada canto, em cada palavra e sorriso, um brado de luta e emancipação.
Essa gente que se fez água, que se fez cor, que é noite e dia, frio e calor, tornou-se a personificação da natureza sagrada, e como tal, a expressão da resistência contra tantos outros e outras que insistem na destruição dos biomas. Quando uma árvore é derrubada, quando o rio é poluído, o parintinense chora porque é feito da mesma matéria que a produziu, do mesmo ato de criação a que se fez parte. Do mesmo gesto e do mesmo verbo.
Parintins é Amazônia. Parintins é Brasil.
As gentes da Amazônia são unas porque são muitas. Simples e plural. Povo e multidão. Essa gente é sabor porque são muitos os gostos e aromas das comidas de indígenas e caboclos. É crença, crendices e adivinhação.
É mito que explica a origem dos seres e da natureza. É rito, que dramatiza histórias e marca as fases da vida. É lenda, dos caboclos e ribeirinhos, gente das águas e das matas.
É o quilombo do Erepecuru, “a força de um povo que vem do rio”, é Tambor de Mina, é Retumbão, a dança dos marujeiros de Bragança. É a corda do Círio, os brinquedos de Miriti, a força das mulheres coletoras da pimenta Baniwa, a pesca com Timbó, o gambá de Maués, o Puxirum dos caboclos.
É arte, que torna singular os ilhéus de Parintins, com suas cores e expressões, fantasias e alegorias, cantos e danças. É mestre Bacuri, da Marujada de Guerra, que faz do pulsar do seu tambor, o símbolo da resistência, onde os bumbás da Amazônia, um dia, foram perseguidos pelas elites.
É ancestralidade porque sabemos de onde viemos. É presente porque o vivemos. É futuro porque sabemos onde queremos chegar. É fé, a expressão de um povo de luz e de esperança, que na dúvida das suas incertezas, creditam aos deuses seus nortes e consciências.
Essa gente é Caprichoso, o boi preto de Parintins, o verdadeiro boi do povo, construído por muitas mãos, expressão do coletivo, de Roque e Ednelza Cid, Luiz Gonzaga e Luiz Pereira, Dora e Chica, Joãos e Marias. É festa, cor, liberdade e poesia. É a criança com seu brincar, é a Marujada no dois pra lá e dois pra cá. É Arlindo Júnior e Daniel, cantador de boi.
É Lióca e o iluminar de sua lamparina que, mais uma vez, conduz os caminhos do touro amado e de sua galera, anunciando e exaltando a chegada do boi campeão.
Tudo isso é Parintins. Tudo isso é Amazônia. Tudo isso é Caprichoso.
Tudo isso é “Cultura, o Triunfo do Povo”.