Os grandes bancos brasileiros reajustaram a maior parte de suas tarifas acima da inflação nos últimos dois anos, quando o país mergulhou na recessão e o mercado de crédito encolheu.
Levantamento feito pelo Valor com 197 tarifas informadas por Itaú Unibanco, Banco do Brasil (BB), Bradesco, Santander e Caixa ao Banco Central (BC) mostra que 119 delas – 60,4% do total – subiram mais que a variação do IPCA entre julho de 2015 e junho deste ano, estimada em 12,19%. Apenas uma teve queda nominal e o restante foi mantido ou aumentou menos que a inflação.
Os dados para o mês passado levam em conta a estimativa do boletim Focus, do BC, para o indicador de inflação, já que o número oficial será divulgado hoje. As tarifas analisadas referem-se aos valores cobrados pelos bancos em serviços considerados prioritários pelo órgão regulador, além de quatro pacotes padronizados.
No BB, 29 tarifas mostraram variação acima da inflação no período. O mesmo se deu com 27 do Itaú, 26 do Bradesco, 22 da Caixa e 15 do Santander. Foram analisadas as tarifas para 42 serviços, mas nem todos os bancos divulgam números para todos eles.
Os valores informados ao BC representam o teto do que os bancos cobram. Na prática, muitos clientes pagam menos do que isso porque têm investimentos ou se encaixam em determinada segmentação ou, ainda, têm serviços gratuitos negociados por suas empresas para manter a folha de pagamentos naquela instituição.
A recomposição das tarifas coincide com um dos períodos mais difíceis para a principal atividade dos bancos, o crédito. Ao lado dos spreads cobrados sobre os empréstimos, os serviços deram contribuição relevante num momento em que as instituições estão mais restritivas e acumulam, segundo a Fitch Ratings, R$ 500 bilhões em créditos vencidos.
Um executivo de banco diz que o setor também ajustou tarifas para se antecipar à perda de receita imposta pelas mudanças na regulamentação dos cartões de crédito, que começaram a ser discutidas no fim de 2016 e entraram em vigor em abril deste ano. Sob as novas regras, o saldo das faturas remanescente no rotativo após 30 dias tem de ser parcelado em condições mais vantajosas para os clientes.
As operações de crédito e tesouraria ainda representam a maior parte das receitas dos bancos, mas as tarifas vêm ganhando importância. No primeiro trimestre, as receitas de serviços de conta corrente de Bradesco, Itaú, BB e Santander corresponderam, juntas, a 9,81% da margem financeira bruta – indicador de operações de crédito e tesouraria -, acima dos 9,39% apresentados em 2016 como um todo e dos 8,57% de 2015.
Fonte: Valor