Cada vez mais isolado, Maduro assume segundo mandato e chama críticos de ‘satélites’ dos EUA

CARACAS — O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro assinou nesta quinta-feira o termo de posse do seu segundo mandato, que não foi reconhecido por 13 países latino-americanos e caribenhos, incluindo o Brasil, pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pela própria Assembleia Nacional da Venezuela. No discurso de posse, porém, Maduro atacou seus críticos e afirmou que ainda tem aliados:

— O mundo é maior do que o império americano e seus satélites. Aqui está presente o mundo — disse.

Apenas quatro presidentes — Evo Morales (Bolívia), Daniel Ortega (Nicarágua), Salvador Sánchez Cerén (El Salvador) e Miguel Díaz-Canel (Cuba) — compareceram à cerimônia. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também esteve entre os presentes. Rússia, China e Turquia, que hoje estão entre os principais parceiros comerciais da Venezuela, enviaram representantes. Da América do Sul, estiveram presentes diplomatas do México e do Uruguai.

A posse para o mandato de seis anos, até 2025, não aconteceu na Assembleia Nacional, mas no Tribunal Supremo de Justiça, em Caracas, porque o Parlamento, onde a oposição tem maioria, teve seus poderes considerados nulos pelo mesmo tribunal, de maioria governista, em janeiro de 2016.

Sob intensos aplausos de aliados, Maduro fez seu juramento:

Cumprirei e farei cumprir todos os postulados e mandatos da Constituição da Venezuela para defender a independência, levar a prosperidade social e econômica ao povo venezuelano e construir o socialsmo do século XXI — afirmou. — Juro por Deus todo poderoso e assim cumprirei.

Em seu discurso, Maduro várias vezes chamou a atenção para a suposta legalidade de sua posse, dedicando especial atenção ao fato de estar fazendo seu juramento na máxima corte do país, e não na Assembleia Nacional.

— Nosso povo sabe que a Constituição estabeleceu em 1999 que, no dia 10 de janeiro, o presidente tem a obrigação de prestar juramento perante a Assembleia Nacional — afirmou. — [Mas] a Constituição estabelece que, caso haja algum motivo extraordinário, o mandatário pode fazer seu juramento diante do Tribunal Supremo de Justiça.

Maduro afirmou que a Venezuela é um “país profundamente democrático” e que,  desde 1999, realizou 25 eleições, “para todos os cargos, governadores, prefeitos, assembleia nacional, presidente da república”.

Segundo ele, a eleição de maio de 2018 — em que cerca de 54% dos eleitores não foi às urnas e que foi boicotada por boa parte dos partidos da oposição, que alegaram que não havia condições para um pleito limpo — foi sabotada por agentes do imperialismo.

Houve um processo de conspiração internacional para boicotar as eleições e para deslegitimizar processos institucionais do país. Querem criar condições para um processo de desestabilização, como estão pretendendo desde princípios de 2018. É público, conhecido e notório — disse.

Maduro acusou a direita venezuelana de fascismo, comparando-a com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro:

— A direita venezuelana infectou de fascismo toda a direita latino-americana. Vejamos o caso do Brasil e o surgimento de um fascista como Jair Bolsonaro — afirmou. — Alguns amigos brasileiros nos costumavam dizer que exagerávamos quando classificávamos de fascista parte da direita venezuelana. O que sabíamos é que temos que ter cuidado para que o fascismo não terminasse infectando de autoritarismo e de fascismo o resto da direita democrática que existia na América Latina.

O mandatário disse que anunciará medidas econômicas na próxima semana, sem especificar quais. Ele também chamou a carta do Grupo de Lima, que não reconhece a legitimidade de seu governo, de um “documento extravagante, incomparável”, mas afirmou-se aberto ao diálogo com seus vizinhos.

— Quem sabe um grupo de países latino-americanos, ou um país poderoso do continente, não me atrevo a lançar um nome, mas um grupo de países que mantêm equilibrio políticio, possa criar um grupo para reunificar a América Latina e o Caribe — declarou. — Para promover o diálogo e a superação das diferenças. Quem dera, sempre é possível, se se tem vontade política.

Ao lado da vice-presidente, Delcy Rodríguez, e do presidente do Tribunal Supremo, Maikel Moreno, Maduro entrou na sede do tribunal enquanto a Orquestra Sinfônica da Venezuela tocava o tema ufanista “Venezuela”. Nas galerias, apoiadores balançavam bandeiras do país.

Na transmissão do emissora estatal Telesur, a locução repetidamente explicava que a cerimônia acontecia no tribunal porque a Assembleia Nacional está “em desacato” e tem seus atos considerados “nulos”.

Madelein Garcia, comentarista da Telesur, afirmou que, “embora a oposição considere Maduro um usurpador, ele ganhou com 67% dos votos”.

 

Fonte: O Globo