No Dia Internacional da Mulher, uma programação especial foi realizada pelo Boi-Bumbá Caprichoso de Parintins, destacando o empoderamento feminino e a importância das mulheres na construção do Boi Caprichoso
Parintins (AM) – A mesa redonda “O empoderamento feminino: Na gira do boi-bumbá”, realizada na noite desta sexta-feira (08/03) na Escola de Arte Irmão Miguel de Pascalle, reafirmou o quanto o Boi-Bumbá Caprichoso é vanguarda no compromisso pela igualdade de gênero na construção do Caprichoso e no desenvolvimento do Festival de Parintins.
O evento, mediado pela historiadora e conselheira de arte Larice Butel, contou com a participação da Cientista Social Francine Rebelo, da jornalista e conselheira Peta Cid, da conselheira e comentarista Socorrinha Carvalho e da Tuxaua do Caprichoso, Ira Maraguá, do povo Baré.
O Boi Caprichoso se destaca como vanguarda, sendo o boi que pioneiramente introduziu uma tripa (mulher que dançou debaixo do boi), uma vaqueira e uma Tuxaua no boi quando os espetáculos ainda não tinham a visibilidade que tem atualmente. E na história do Festival é o bumbá que foi presidido por duas mulheres, iniciativa que reflete um compromisso firme em promover a igualdade de gênero e reconhecer o papel fundamental das mulheres na cultura e tradição do boi-bumbá.
A mesa redonda foi direcionada às dançarinas, marujeiras, toadeiras, costureiras e demais brincantes do boi, bem como à comunidade acadêmica e ao público em geral. Contou com a entrega de certificados aos participantes, reforçando o compromisso do Boi Caprichoso em promover discussões significativas e valorizar o protagonismo das mulheres em sua história e tradição.
A jornalista Peta Cid lembrou do legado de sua mãe, Edinelza Cid, que foi uma das mais importantes figurinistas do Boi Caprichoso. Ela conta que o amor e a coragem dela e de dona Odinéa Andrade, madrinha do Caprichoso, são reconhecidos como símbolos de resistência e exemplo para as gerações atuais. “Elas não se abatiam e iam em frente para tentar projetar o boi. E o que é o boi hoje? Patrimônio cultural do Brasil e começou como? Com essas pessoas porque elas acreditavam que o boi poderia chegar longe e a coragem delas era indescritível”, disse.
Cid lembra ainda que sua mãe e dona Odinéa transformaram suas casas nos ateliês dos bois. “Elas não se deixavam abater por nada. Elas colocaram dentro da casa delas os QGs dos bois, elas acolhiam toda a classe LGBT que ajudava a fazer as roupas”.
A ex-presidente do Boi Caprichoso, Márcia Baranda, foi a primeira mulher na história dos bumbás a administrar um dos folguedos do Festival de Parintins. Também foi ela quem criou a primeira torcida organizada, foi a primeira mulher a presidir o Conselho de Arte, coordenadora de itens, administrou o galpão de alegorias e passou por praticamente todos os setores do bumbá. “Eu e a Socorrinha administrávamos o boi como torcedoras apaixonadas, com amor, paixão, muita dedicação e muito comprometimento, pois esse festival é a mola propulsora da nossa economia”, destaca.
Socorrinha Carvalho, ex-vice-presidente, ex-presidente do Conselho de Arte, comentarista na TV e conselheira de arte do Caprichoso, fez um dos comentários mais fortes no que diz respeito ao empoderamento feminino. De acordo com ela, antes de entrar no Caprichoso, ela sempre era conhecida como a Socorrinha de alguém, geralmente um homem de sua família.
“O Boi Caprichoso é um boi que acolhe nós mulheres. O Caprichoso me deu um nome em Parintins, o Caprichoso me empodera. Porque lá na minha cidade eu era a Socorrinha do seu Leandro, o meu pai. Quando cheguei aqui eu era a Socorrinha nora do Dodó Carvalho, depois eu virei a Socorrinha do Paulo Neto, hoje, eu sou a Socorrinha Carvalho por causa do Boi Caprichoso. Porque desde criança eu era a Socorrinha de alguém, geralmente de um homem, meu pai, meu sogro, meu marido”, disse emocionada, lembrando que a luta da mulher é diária.
Outro depoimento inspirador foi da jovem indígena do povo Baré, Ira Maraguá, Tuxaua do boi bicampeão do Festival de Parintins. Ela contou que o boi Caprichoso lhe deu a oportunidade de representar não apenas o seu grupo, mas todos os 23 povos indígenas de seu município, São Gabriel da Cachoeira. “Uma pessoa que vem de São Gabriel não consegue ser vista, mas o Caprichoso abriu essa porta e me deu esse protagonismo. Eu me sinto poderosa quando uso os brincos feitos pelo meu povo, assim como me sinto poderosa quando visto a camisa do Caprichoso”, destacou a artista indígena.
A diretoria do boi-bumbá Caprichoso conta com mulheres ocupando cargos de destaques em todos os setores desde a parte artística ao trabalho administrativo.
Fotos: Pedro Coelho