COLOMBO — Pelo menos 290 pessoas morreram e cerca de 500 ficaram feridas neste domingo após uma série de explosões registradas em três igrejas e hotéis de luxo no Sri Lanka , onde a minoria cristã comemorava o domingo de Páscoa. O governo decretou um toque de recolher por tempo indeterminado a partir das 18h no horário local (9h30m, em Brasília) e bloqueou a internet. Vinte e quatro pessoas foram presas por suposta ligação com os ataques.
Seis explosões ocorreram por volta das 8h45m (horário local), em três hotéis de luxo em Colombo — Cinnamon Grand, Kingsbury e Shangri-La — e em três igrejas: a de Santo Antônio, em Colombo; a de São Sebastião, em Negombo; e a terceira em uma igreja de Batticaloa, no Leste da ilha. Horas depois, mais duas explosões ocorreram: um homem-bomba matou três policiais em um prédio em Orugodawatta, subúrbio da capital, e outro kamikaze se explodiu em uma casa de hóspedes. A polícia acredita que eles estavam fugindo após praticar os atentados ocorridos pela manhã.
Cerca de 21 horas após os atentados, peritos das Forças Armadas desativaram uma bomba caseira perto do aeroporto de Colombo, a capital do Sri Lanka.
Nenhum grupo extremista assumiu a autoria dos ataques, mas o ministro da Defesa, Ruwan Wijewardene, disse que os culpados foram identificados e eram extremistas religiosos. A polícia do país tinha feito há dez dias um alerta de terrorismo, a partir de uma informação de que poderia estar sendo preparado um ataque “com características jihadistas”.
Após os atentados, o Papa Francisco condenou a “violência cruel”. Os ataques contra minorias religiosas vêm se repetindo na ilha, onde os cristãos representam apenas 7% da população.
— Quero expressar minha sincera proximidade com a comunidade cristã (do Sri Lanka), ferida enquanto se reunia em oração, e a todas as vítimas de tal violência cruel — disse Francisco enquanto fazia a bênção de Páscoa diante de milhares de fiéis na Praça de São Pedro, no Vaticano.
O budismo Theravada é a maior religião do Sri Lanka, com adesão de cerca de 70,2% da população de quase 21 milhões de habitantes, segundo o censo mais recente. Hindus e muçulmanos compõem 12,6% e 9,7% da população, respectivamente. O país é também o lar de cerca de 1,5 milhões de cristãos, segundo o censo de 2012, a grande maioria deles católica romana.
Nos últimos anos, vem crescendo o extremismo budista, alimentado por monges radicais. Os ataques às minorias religiosas aumentaram — particularmente contra a comunidade muçulmana — no rastro do temor da maioria cingalesa, instrumentalizado pelos extremistas, de que os grupos minoritários estão expandindo seus números e ganhando influência.
O aumento da violência alcançou seu ponto mais alto em março de 2018, quando o governo decretou estado de emergência por dez dias, pela primeira vez desde 2011, depois de uma série de confrontos entre muçulmanos e budistas, que deixaram três mortos.
Neste domingo, o governo decretou um bloqueio temporário das redes sociais para evitar a disseminação de “informações incorretas e falsas” sobre a onda de ataques, e o primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe convocou uma reunião do Conselho de Segurança Nacional em sua casa para o final do dia. “Condeno veementemente os ataques covardes contra nosso povo hoje. Apelo a todos a permanecerem unidos e fortes”, postou no Twitter.
O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, pediu calma ao país, mas se mostrou em choque:
— Por favor, fiquem calmos e não sejam enganados por rumores — declarou Sirisena em mensagem à nação. — As investigações estão em curso para descobrir que tipo de conspiração está por trás destes atos cruéis.
Estrangeiros entre as vítimas
Após os ataques, o arcebispo de Colombo fez um discurso duro, pedindo ao governo que “puna sem piedade”os responsáveis pelos atentados. Mas fez um apelo para que a população “não fizesse justiça com as próprias mãos e mantivesse a paz e a harmonia no país”.
— Queria pedir ao governo que faça uma investigação sólida e imparcial para determinar quem é responsável por este ato e também que os puna sem piedade, porque apenas animais podem se comportar assim — declarou o arcebispo Malcom Ranjit.
Imagens divulgadas pela imprensa local mostram a magnitude da explosão em pelo menos uma das igrejas, com o teto do templo semidestruído, escombros e corpos espalhados. Após visitar vários dos lugares atacados, o ministro para Reformas Econômicas e Distribuição Pública do país, Harsha de Silva, pediu que a população permaneça em casa.
Entre os mortos, há pelo menos 35 estrangeiros, incluindo um português, um holandês, dois britânicos, três dinamarqueses, dois turcos e um número ainda não definido de americanos. Ao menos dois mortos tinham dupla cidadania, britânica e americana. Japoneses e britânicos ficaram feridos.
Um dos ataques aconteceu no hotel de luxo Cinnamon Grand, onde um homem-bomba se explodiu na fila de clientes que esperavam para entrar em um restaurante.
— Ele se dirigiu ao início da fila e se explodiu — relatou um funcionário. — Um gerente que recebia os clientes foi um dos que morreram na hora. Foi um caos total.
‘Não há espaço para barbáries na região’
Os ataques foram condenados por líderes em todo o mundo. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, “condenou fortemente as horríveis explosões no Sri Lanka”.
— Não há espaço para barbáries similares na nossa região. A Índia exprime solidariedade ao povo do Sri Lanka.
No Twitter, o presidente americano, Donald Trump, prestou suas condolências às vítimas. “Os EUA prestam suas sinceras condolências ao grande povo do Sri Lanka. Estamos prontos a ajudar!”. Também na rede social, o presidente Jair Bolsonaro condenou o ataque em nome dos brasileiros e afirmou que “o extremismo deixa rastros de morte e dor”.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, classificou os atentados como “cruéis e cínicos” e disse que Moscou continua sendo um “parceiro confiável do Sri Lanka na luta contra o terrorismo internacional”.
O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, também criticou o que chamou de “um verdadeiro genocídio contra os cristãos”:
Fonte: O Globo