Gaitano Antonaccio
Entre tantos argumentos que busquei para concluir estes artigos sobre a BR-319, rodovia que liga Manaus, no Amazonas, a Porto-Velho, em Rondônia, está o amor telúrico, aquele que diz da influência da natureza do solo sobre o homem que a habita na sua índole, costumes e tradições. Essa influência sobre o homem que habita uma região tem sido apaixonante, como uma chama de patriotismo que ilumina a sua luta, sem jamais desistir dela. No Brasil existem dois povos localizados nos dois extremos do país, que são os gaúchos e os amazônidas, conhecidos pelo seu regionalismo assoberbado e patriótico.
Entretanto, e lamentavelmente, não podemos deixar de considerar que um dos marcos poderosos que influenciou para desestimular o amor telúrico das pessoas por sua terra foi a globalização dos costumes e tradições. Desde então esse apego foi se tornando descartável, considerado como velharia inútil. Mas apesar dessa transformação padronizando os costumes, restam alguns povos resistindo, mantendo a todo custo a memória de sua região. Esse procedimento que significa uma grande prova de amor, dá-nos esperanças e patriotismo.
Fica mais fácil pensar em defender com heroísmo a nossa soberania e não permitir a invasão da Amazônia, como pretendem há séculos alguns alienígenas despreparados e desconhecedores dos mistérios da região. O caboclo amazonense é capaz de conviver com o meio ambiente e jamais depredá-lo por ganância, prazer ou por maldade. Estes pretensos invasores extinguiram suas reservas ambientais, em troca da ganância industrial, em busca ignóbil das riquezas da terra, sem devolver a essa mesma terra, o mínimo que retiraram.
Destruíram florestas mataram índios, caçaram animais de forma perversa e criminosa, poluíram suas cidades, contaminaram o ar, infestaram o céu com gases tóxicos e imaginaram que a riqueza efêmera os compensaria. Hoje, quando são realizados programas visando a preservação do meio ambiente, a humanidade costuma defender a tese de que a Amazônia deve ser responsável exclusiva pela salvação da natureza, e nos condenam pelo estrago que eles fizeram ao longo da História. Essa a razão de não nos permitirem sequer manter uma rodovia que nos agregará, nos integrará dentro de nosso próprio país, temendo que possamos destruir nossas riquezas ambientais.
Precisamos indagar dos países desenvolvidos, ricos e de olho nas reservas naturais da Amazônia, se não seriam eles capazes de recuperar o meio ambiente que depredaram e destruíram, as riquezas de solo e subsolo que extraíram sem repor? Por que esses senhores, hoje, defensores radicais da ecologia mundial, não elaboram em aliança com as grandes Organizações Não Governamentais, um grandioso projeto internacional de reflorestamento, despoluição de rios e lagos, igarapés e riachos, campos e praias, além de monumentos depredados por guerras, conflitos, rebeliões e outros movimentos destruidores, a fim de permitirem aos povos como os da Amazônia, que cuidem com liberdade e sustentabilidade, dos seus destinos, da sua natureza, como ainda hoje o fazem?
Mas sabem por que não nos permitem essa liberdade ambiental? Porque existe uma poderosa comunidade internacional conhecedora das nossas riquezas. Eles possuem mapeados por meio dos serviços de espionagem de muitas dessas ONGS, todos os focos de riquezas de solo e subsolo da natureza amazônica, e em verdade, querem explorar nossas riquezas. Não é a preservação do meio ambiente que os move. Mas a riqueza que esse meio ambiente agasalha em seu sobsolo, além da sua fauna e dos minérios existentes. Eles sabem que nas suas terras jamais nascerão algumas espécies raras como as que aqui existem.
A maior prova da consciência amazônica sobre o meio ambiente foi constatada com a criação do Polo Industrial do Amazonas, que teve origem com a Zona Franca de Manaus, quando foram implantadas mais de 500 indústrias de tecnologia de ponta e para orgulho dos amazônidas e dos brasileiros, a natureza da região ficou praticamente sem quaisquer sintomas de depredação causada pelas indústrias implantadas.
Esse amor telúrico dos amazonenses pela natureza vem dos tempos áureos da borracha, quando o homem do interior, ao sangrar os troncos das árvores para extrair o látex, começavam a chorar antes de a seiva escorrer. Diariamente, numa faina de 5 horas da manhã ás 5 da tarde, com uma lanterna colocada na testa para clarear os caminhos escuros que se faziam entre as árvores, os seringueiros sabiam que não podiam derrubar as árvores que os mantinham de pé e sobrevivendo. Morriam na floresta, das mais terríveis doenças infecciosas, mas não matavam as árvores. Não é justo, pois, que a humanidade responsável pela destruição de seu meio ambiente, queira agora questionara a preservação da floresta amazônica, mesmo que o homem precise morrer para tal empreitada. Essa não é uma solução para quem é o proprietário daquilo que soube preservar para a sua sobrevivência. Que se plantem novas florestas, com programas de incentivo a cada família, em cada região do mundo. Mas não nos peçam para deixar a rodovia BR-319 desaparecer com o castigo de não nos integrarmos ao nosso próprio país.
Para que os povos da Amazônia continuem preservando o meio ambiente, mantendo o mesmo amor que devotam à natureza, o mundo precisa se comprometer a criar meios e formas de reconstruir o que foi destruído muito antes, sem qualquer cuidado com o futuro da humanidade. Os países desenvolvidos, carentes de matérias primas, de natureza, de fauna e flora, devem obrigatoriamente custear essa preservação, com recursos financeiros, sem necessidade de nos impor restrições â nossa soberania, e dando a todos nós, as condições mínimas e humanas, necessárias a persistir na preservação, mesmo à custa de sacrifícios inerentes às distâncias, aos aspectos climáticos, suportando como sempre o fizemos, os riscos das doenças infecciosas. Seria, uma tolice imperdoável, se os nossos governantes desistissem da recuperação da BR-319, numa conjuntura em que a humanidade mais vem discutindo sobre logística, meios de transportes em massa para atender demandas de cargas de produtos fabricados em grande escala. Lutemos mais do que nunca!
*Conselheiro da Fundação Panamazônia, membro das Academias de Letras, Ciências e Artes do Amazonas; de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas; Brasileira de ciências Contábeis; de Letras do Brasil; da de Letras e Culturas da Amazônia – ALCAMA; correspondente da Academia de Letras do Rio de Janeiro, idem do Instituto Geográfico e Histórico do Espírito Santos e outras.